Massacre

ONU diz que Israel comete 'crime de genocídio' de palestinos na Faixa de Gaza

Apesar de resolução determinando cessar-fogo, Israel segue com bombardeios em Rafah

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Fumaça de bombardio israelense em Rafah no dia 27 de março, onde estão abrigados cerca de 1,4 milhão de palestinos - Mohammed ABED / AFP

Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os Territórios Palestinos Ocupados, publicou relatório afirmando que existem “motivos razoáveis” para acreditar que Israel comete "crime de genocídio" na Faixa de Gaza.

“O número angustiante de mortes, os danos irreparáveis ​​causados ​​aos que sobrevivem, a destruição sistemática de todos os aspectos necessários para sustentar a vida em Gaza – dos hospitais às escolas, das casas às terras aráveis ​​– e os danos específicos a centenas de milhares de crianças e para mães grávidas e jovens”, são elementos que indicam a prática desse crime por parte de Israel, "intenção de destruir sistematicamente os palestinos como um grupo",  disse Albanese no Conselho de Direitos Humanos da ONU na terça-feira (26).

Israel rebateu as acusações, afirmando que o relatório seria uma "obscena distorção da realidade" e questionaria o direito do país de existir. 

Segue o massacre

Nesta quarta-feira (27), a cidade de Rafah na Faixa de Gaza, que faz fronteira com o Egito, continua a ser alvo de intensos bombardeios pelas tropas de Israel, dois dias após o Conselho de Segurança da ONU aprovar uma resolução de cessar-fogo para o conflito.

Nas últimas 24 horas, 76 pessoas foram mortas e 102 feridas pelos ataques israelenses na Faixa de Gaza, segundo informações do Ministério da Saúde. Desde o início do conflito em 7 de outubro, os ataques de Israel provocaram a morte de 32.490 pessoas e deixaram 74.889 feridos. Outros milhares estão desaparecidos debaixo dos escombros.

Desde a noite quarta-feira (26), cinco casas foram atacadas, desde a parte oriental de Rafah até à zona de evacuação ocidental de al-Mawasi. As informações são do repórter Hani Mahmoud da rede Al Jazeera, que está em Rafah.

Quatro pessoas foram mortas e os seus corpos, transferidos para o Hospital Abu Youssef al-Najjar. Cerca de 25 outras pessoas ficaram feridas e foram levadas para o Hospital do Kuwait, o Hospital Abu Youssef al-Najjar ou o Hospital Europeu de Gaza. Além das casas, os ataques de Israel também atingiram plantações, agravando a falta de recursos em um cenário em que a "fome catastrófica" atinge mais de 1 milhão de pessoas.

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, instou Israel a abandonar os planos militares para uma ofensiva terrestre em Rafah. “O número de vítimas civis é muito alto e a quantidade de ajuda humanitária é muito baixa”, disse Austin ao ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, durante uma reunião em Washington.

Condições desesperadoras e superlotação tornaram Rafah “irreconhecível”, com cerca de um banheiro disponível para cada 850 pessoas e um chuveiro para cada 3.600, disse o porta-voz do Unicef, James Elder, na terça-feira.

“Este é um desrespeito infernal pelas necessidades humanas básicas e pela dignidade”, acrescentou em comunicado, descrevendo a cidade do sul de Gaza como um lugar tomado por tendas para famílias deslocadas e onde as pessoas dormem nas ruas.

Mas Lima Bastami, diretor do departamento jurídico da organização da sociedade civil Euro-Med Human Rights Monitor, com sede em Genebra, disse à Agência Anadolu que "Israel tem um histórico significativo de não cumprimento do direito internacional”.

Embora o cumprimento da resolução do Conselho de Segurança da ONU seja obrigatório, ele aponta que não existem medidas diretas ou sanções em caso de não cumprimento, porque se trata de uma decisão tomada ao abrigo do Capítulo 6 da Carta da ONU.

"Provavelmente testemunharemos Israel continuar a cometer crimes de genocídio em Gaza e teremos de apelar ao Conselho de Segurança da ONU para emitir uma nova decisão", afirmou Bastami. Ele considera que sanções econômicas e diplomáticas constra Israel por parte do Conselho como improváveis, devido ao poder de veto dos Estados Unidos, principal aliado de Israel. 

Ataques no Líbano

Os ataques de Israel também atingiram um centro de emergência médica no sul Líbano, causando a morte de sete pessoas, nas primeiras horas da manhã.  “Estes ataques inaceitáveis ​​violam as leis e normas internacionais, especialmente a Convenção de Genebra, que sublinha a neutralidade dos centros de saúde e dos profissionais de saúde”, afirmou o Ministério da Saúde do Líbano.

O ataque feriu quatro civis e destruiu o centro de serviços de emergência da Associação Libanesa de Ambulâncias na cidade de Hebbariyeh, no sul do país. O Hezbollah disse nesta quarta-feira que o ataque “não ficará sem resposta e impune”, e afirma que atingiu duas posições em Kiryat Shemona, no norte de Israel, com dezenas de mísseis.

 

*Com Al Jazeera e Washington Post

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho