O massacre que ocorre há seis meses na Faixa de Gaza e já matou mais de 32 mil palestinos estaria revelando globalmente como funciona a presença israelense no território ocupado, disse nesta quinta-feira (28) um dirigente do Hamas.
"Revelamos ao mundo a verdadeira face da ocupação israelense", disse o dirigente político Khalil al-Yahya à emissora iraniana Press TV.
Além de pedir mais apoio de outros países árabes, ele disse que, após o massacre, Gaza será governada por palestinos, apesar de Israel já ter indicado que pretende ter influência sobre a futura administração do território.
"Gaza será governada por palestinos", afirmou. Segundo Al-Yahya, este futuro governo será formado por consenso nacional e Israel não imporá sua vontade sobre o "movimento de resistência".
Ele disse que o Hamas está em diálogo com o Fatah — grupo que controla o outro território palestino, a Cisjordânia. Al-Yahya afirmou que, embora não esteja otimista sobre um possível cessar-fogo no futuro próximo, o Hamas estaria disposto a negociar "com um grande grau de flexibilidade".
O massacre continua
Apesar de a ONU ter aprovado resolução pedindo cessar-fogo para a entrada de ajuda humanitária em Gaza, Israel não reduziu o ritmo do massacre. Bombardeios ocorreram por todo o território, incluindo Rafah, no sul, último local em Gaza onde mais de um milhão de palestinos estão refugiados. Há o temor de que a invasão de Rafah possa ocorrer a qualquer momento.
O cerco ao maior hospital de Gaza, al-Shifa, chega ao décimo dia, com mais de 200 pessoas mortas por Israel. Nesta quinta (28) um garoto de seis anos morreu de fome no hospital Adwan, no Norte de Gaza.
A ONU vem alertando diariamente que o bloqueio israelense a Gaza está prestes a causar mortes em massa em consequência de desnutrição aguda. Usar fome como arma de guerra é proibido pelas leis internacionais e o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, disse para a BBC que há indícios de que Israel vem fazendo isso, o que seria um "crime de guerra". A ONU esta semana disse existirem indícios de genocídio praticado por Israel.
A TV Al Jazeera mostrou imagens de dois palestinos desarmados e rendidos sendo mortos por militares israelenses. A Reuters obteve imagens de soldados de Israel em casas de palestinos brincando com roupas íntimas de mulheres e postando em redes sociais. Para uma sociedade islâmica e conservadora como a palestina, o ato é considerado especialmente desrespeitoso.
Pesquisa Gallup indica que a maioria dos estadunidenses desaprova as ações militares israelenses em Gaza. O levantamento realizado nos 20 primeiros dias de março mostra que 55% dos habitantes dos EUA é contra as ações, comparado com 45% em novembro.
O apoio dos estadunidenses ao massacre de Israel também caiu, de 50% em novembro para 36% em março.
Contexto
O atual massacre israelense na Faixa de Gaza — ou operação militar como chama Israel — começou em outubro do ano passado, mas as condições no território palestino já eram consideradas "sufocantes" pela ONU antes disso.
O bloqueio israelense de 17 anos — para obrigar o Hamas, partido que ganhou as eleições palestinas em 2006, a abdicar do poder — geraram taxas de desemprego de 45% e insegurança alimentar que atingia 64% da população. A ONU calculava que mais de 80% dos moradores de Gaza dependiam de ajuda externa para sobreviver.
Em 7 de outubro, integrantes do Hamas ingressaram em Israel e realizaram o ataque mais violento já sofrido pelo país, deixando cerca de 1,2 mil mortos e capturando 240 reféns. A resposta do governo Netanyahu foi considerada desproporcional pela comunidade internacional. Bombardeios diários no que é considerado um dos territórios mais densamente povoados do mundo vêm causando a morte de dezenas de milhares de palestinos e destruindo toda a infraestrutura de Gaza.
O número de vítimas fatais ultrapassou 32 mil palestinos — cerca de 70% delas mulheres e crianças —, com mais de 8 mil pessoas desaparecidas debaixo dos escombros. Foram destruídos 35% dos prédios e praticamente todos os mais de dois milhões de habitantes foram forçados a deixar suas casas. No outro território palestino ocupado, a Cisjordânia, a violência ilegal praticada por colonos israelenses é diária, com mais de 500 mortos. Desde o início do conflito, milhares de palestinos foram presos e o governo anunciou que outros milhares vão ser detidos este ano.
A ONU alerta para o desastre humanitário, acusando Israel de usar a fome coletiva como arma de guerra e a possibilidade real de que centenas de milhares de palestinos venham a morrer por falta de alimentos.
Edição: Matheus Alves de Almeida