'DNA BOLSONARISTA'

Visita de Macron termina sem avanço no acordo Mercosul com União Europeia, criticado por organizações populares

Reunidas em Brasília na última semana, organizações da Via Campesina dizem que acordo tem "DNA bolsonarista"

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Os presidentes da França, Emmanuel Macron, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, assinam acordos no Palácio do Planalto - Fabio Rodrigues-Pozzebom / Abr

O acordo entre o Mercosul e a União Europeia, foi um dos temas que permearam as conversas entre o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega francês, Emmanuel Macron. Os presidentes porém, não chegaram a nenhum entendimento sobre a proposta defendida pelo Brasil, que tem o presidente francês como seu principal crítico na Europa.

Em visita a São Paulo (SP) nesta quarta-feira (27), Macron classificou o acordo como "péssimo" e defendeu que ele "precisa ser renegociado do zero". "Deixemos de lado um acordo de 20 anos atrás e construamos um novo acordo, mais responsável, prevendo questões como o clima e a reciprocidade". 

A cientista política e analista internacional Ana Prestes avalia que "por parte do Brasil há o interesse de firmar o acordo, houve uma decepção da diplomacia brasileira em não ter anunciado esse acordo no ano anterior, quando o país sediou o Mercosul. Mas é difícil, porque o governo Macron está pautado pela dinâmica interna dos produtores franceses e é difícil que destrave essa pauta."

"DNA do Bolsonaro"

Reunidos em Brasília entre os dias 17 e 19 de março, movimentos sociais do campo, águas e florestas, articulados na Via Campesina Brasil, repudiaram o acordo em um comunicado em que pedem a Lula  que "escute o clamor dos povos do campo, águas e florestas e coloque fim às negociações em curso e dê espaço a construção de um projeto popular de desenvolvimento nacional para o Brasil".

"O acordo em pauta representa um retrocesso para o Brasil e para os países do Mercosul no âmbito do desenvolvimento socioeconômico, bem como um ataque frontal à soberania dos nossos países", destaca o comunicado.

Os movimentos populares destacam que o acordo foi "foi rechaçado há mais de 20 anos" e o texto atual, retomado em 2019, representa "o DNA bolsonarista na sua essência sem nenhum compromisso com o desenvolvimento do nosso país."
 
"O acordo assume caraterísticas neocoloniais na sua concepção e ameaça, em seus termos, nossos  povos e territórios, ameaça a agricultura camponesa, as comunidades tradicionais e entrega nossos bens comuns aos interesses do capital internacional, consolidando assim o caráter agroexportador da nossa economia, que é basicamente continuar exportando matéria prima para abastecer as demandas dos países europeus em troca dos produtos industrializados."
 
A desregulamentação dos mercados, os acordos de livre comércio e, em particular a negociação do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul são as principais causas da grave crise enfrentada pelos agricultores europeus na avaliação da Via Campesina.

Edição: Rodrigo Durão Coelho