Milhares de pessoas em diversas cidades de Israel foram às ruas no sábado (30) pedir a saída do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e a formação de novo governo. Os manifestantes exigem a libertação dos reféns ainda sob poder do grupo palestino Hamas em Gaza.
Manifestantes em Tel Aviv, Jerusalém, Haifa, Be'er Sheva, Cesaréia e outras cidades dizem que Netanyahu seria um um “obstáculo ao acordo”, prometendo persistir até que ele saia do poder.
“O povo de Israel não esquecerá nem perdoará ninguém que impeça um acordo que os traria [os reféns] de volta para nós. Depois de 176 dias e 4.224 horas, as desculpas acabaram”, disse Shira Albag ao jornal britânico Guardian.
“Chega de matança, chega de desespero, os reféns são a coisa mais importante", diziam os manifestantes. A polícia israelense usou canhões de água para dispersar as multidões. Ao menos 16 pessoas foram presas nos protestos.
Ataque a jornalistas
A TV egípcia Al-Qahera disse que as negociações para uma trégua, entrada de ajuda humanitária e libertação de reféns seriam retomadas neste domingo. Apesar de a ONU ter aprovado resolução exigindo um cessar-fogo, Israel prossegue com o massacre e não avançou nas negociações com o Hamas.
Ministros dos Negócios Estrangeiros de Egito, França e Jordânia apelam a um “cessar-fogo imediato e permanente” em Gaza e à libertação de todos os prisioneiros detidos pelo Hamas.
No domingo ainda, militares israelenses atingiram uma tenda para jornalistas dentro do complexo do Hospital Al-Aqsa em Deir el-Balah, no centro de Gaza. O governo de Gaza condena Israel por cometer “um novo massacre ao bombardear as tendas de jornalistas e pessoas deslocadas” no hospital.
O Ministério da Saúde palestino afirma que 77 pessoas foram mortas e 108 feridas nas últimas 24 horas. O ministério afirma que o número total de mortos nos ataques de Israel a Gaza aumentou para 32.782, com 75.298 feridos.
Contexto
O atual massacre israelense na Faixa de Gaza — ou operação militar, como chama Israel — começou em outubro do ano passado, mas as condições no território palestino já eram consideradas "sufocantes" pela ONU antes disso.
O bloqueio israelense de 17 anos — para obrigar o Hamas, partido que ganhou as eleições palestinas em 2006, a abdicar do poder — gerou taxas de desemprego de 45% e insegurança alimentar que atingia 64% da população. A ONU calculava que mais de 80% dos moradores de Gaza dependiam de ajuda externa para sobreviver.
Em 7 de outubro, integrantes do Hamas ingressaram em Israel e realizaram o ataque mais violento já sofrido pelo país, deixando cerca de 1,2 mil mortos e capturando 240 reféns. A resposta do governo Netanyahu foi considerada desproporcional pela comunidade internacional. Bombardeios diários no que é considerado um dos territórios mais densamente povoados do mundo vêm causando a morte de dezenas de milhares de palestinos e destruindo toda a infraestrutura de Gaza.
O número de vítimas fatais ultrapassou 32 mil palestinos — cerca de 70% mulheres e crianças —, com mais de 8 mil pessoas desaparecidas debaixo dos escombros. Foram destruídos 35% dos prédios e praticamente todos os mais de dois milhões de habitantes foram forçados a deixar suas casas.
No outro território palestino ocupado, a Cisjordânia, a violência ilegal praticada por colonos israelenses é diária, com mais de 500 mortos. Desde o início do conflito, milhares de palestinos foram presos e o governo anunciou que outros milhares vão ser detidos este ano.
A ONU alerta para o desastre humanitário, acusando Israel de usar a fome coletiva como arma de guerra e ressaltando a possibilidade real de que centenas de milhares de palestinos venham a morrer por falta de alimentos.
Edição: Rodrigo Durão Coelho