Manifesto

Movimentos populares do Brasil apoiam processo eleitoral da Venezuela e pedem fim do bloqueio

Organizações, políticos e personalidades brasileiras criticam EUA e pedem que movimentos estejam no país durante pleito

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Na carta, os movimentos pedem que não haja interferência no pleito venezuelano e elencam uma série de problemas enfrentados pela Venezuela a partir da atuação de outros países - Ronald PEÑA / AFP

Movimentos populares brasileiros publicaram uma carta nesta terça-feira (2) demonstrando apoio ao processo eleitoral em curso na Venezuela. De acordo com o texto, as eleições do país são alvo de críticas por causa de uma “campanha difamatória organizada pelos Estados Unidos com a imprensa burguesa de todo o continente”. 

A nota é assinada por 20 organizações, incluindo o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), o PCdoB e a Marcha Mundial de Mulheres, além de políticos, como os deputados Orlando Silva (PCdoB–SP) e Nilto Tatto (PT–SP). Na carta, os movimentos pedem que não haja interferência no pleito venezuelano e elencam uma série de problemas enfrentados pela Venezuela a partir da atuação de outros países.

De acordo com o grupo, desde a primeira eleição de Hugo Chávez, em 1998, os Estados Unidos travam “uma guerra sem fim” contra o povo venezuelano a partir dos interesses em torno da exploração de petróleo na região. O texto cita os “boicotes” à venda de petróleo da Venezuela, a apropriação de fundos que estavam em bancos venezuelanos fora do país e relembra o que chama de “sequestro” do avião da estatal Emtrasur que estava na Argentina e foi levado para a Florida

Os movimentos citam as mais de 30 eleições realizadas na Venezuela nos últimos anos, a vitória da oposição em diferentes Estados e cidades, a participação massiva da oposição no pleito de 2024 e o sistema de urna eletrônica com voto impresso que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) implementou no país.

A nota fala também que o bloqueio dos EUA trouxe dificuldades para a economia venezuelana. As acusações do governo venezuelano de tentativa de ataques contra o presidente Nicolás Maduro e invasões estrangeiras também foram citadas.

O texto termina chamando os movimentos a “viajarem” para a Venezuela para acompanhar o pleito de perto e pede que a esquerda brasileira seja “solidária com o povo venezuelano”.

Tensão entre Venezuela, Brasil e Colômbia

Na semana passada, Brasil e Colômbia questionaram a impossibilidade da professora universitária Corina Yoris se candidatar à Presidência. Yoris havia sido indicada pela ex-deputada ultraliberal María Corina Machado para disputar as eleições em seu lugar, já que ela está inabilitada por 15 anos. 

Em nota, o Itamaraty chegou a dizer que acompanhava com “preocupação” o processo e que a impossibilidade de registro de Yoris "não estava compatível com o acordo de Barbados". O documento assinado entre parte da oposição e o governo venezuelano em outubro de 2023 define, entre outras coisas, que as eleições devem ser realizadas no segundo semestre e que as inabilitações seriam revisadas pela Justiça do país. María Corina teve a sua inabilitação confirmada pelo Tribunal Supremo de Justiça em janeiro de 2024. 

O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela respondeu e disse que o documento publicado pelo governo brasileiro “parecia ter sido escrito pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos”.

Na última quinta-feira (28), o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre o tema. Em Brasília, ao lado do chefe do Executivo francês, Emmanuel Macron, o petista afirmou que a impossibilidade de Yoris se registrar era “grave” e foi vista “com surpresa pelo governo brasileiro”.

O governo da Colômbia também criticou o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano e disse que estava "preocupado" com a "dificuldade de inscrição de algumas candidaturas". O Ministério das Relações Exteriores do país, no entanto, destacou que respeita a "autonomia e soberania" do povo venezuelano.

O pleito está marcado para 28 de julho. O cronograma das eleições foi definido depois de uma mesa de diálogo na Assembleia Nacional que reuniu diferentes partidos, especialistas e integrantes do CNE.

Edição: Lucas Estanislau