O historiador e integrante da Coordenação Nacional do Movimento Brasil Popular, Paulo Henrique, comentou o silêncio do governo Lula sobre os 60 anos do golpe militar no programa Central do Brasil desta sexta-feira (05/04). Também falou sobre a ligação entre a derrubada da democracia em 1964 e a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023.
“Desde então [da tentativa de golpe de 8 de janeiro] o governo Lula tem feito o esforço de tentar coesionar as forças armadas sobre o controle civil. A opção do governo tem sido de abrir mão de um conjunto de pautas históricas dos movimentos populares, da esquerda brasileira”, afirma Paulo Henrique.
O problema, segundo o militante, é que “ao abrir mão de desenvolver uma ação pedagógica educativa no conjunto da sociedade sobre a importância da democracia, repudiando o golpe militar de 1964, [o governo] abre mão para que a extrema direita fortaleça o seu negacionismo histórico sobre o golpe de 1964”.
Para além do veto imposto pelo governo Lula às cerimônias em alusão aos 60 anos do golpe, a Comissão de Mortos e Desaparecidos, criada durante o governo de Fernando Henrique Cardoso para investigar crimes políticos do regime militar e extinta durante o governo Bolsonaro, até o momento não foi reinstalada apesar de várias recomendações do Ministério Público Federal, crítica o historiador.
“O governo acredita que, ao não trazer esse tema de volta para a cena política, vai manter a coesão das Forças Armadas em torno do regime democrático. Infelizmente, a gente sabe que sem fazer essa disputa na sociedade você não consegue consolidar a democracia no nosso país.”
Paulo Henrique destaca a importância de se responsabilizar os militares envolvidos tanto nos crimes da ditadura militar, quanto nos atos golpistas de 8 de janeiro.
“Na medida em que você não responsabiliza todos aqueles agentes do Estado brasileiro que cometeram crimes durante o ditadura militar de 1964, você cria um precedente para que esses crimes possam acontecer novamente. Quando teve aprovação da Lei da Anistia em agosto de 1979, ela anistiou todos aqueles torturadores, todos aqueles militares e agentes de Estado brasileiros que cometeram uma série de crimes contra a humanidade”, recorda.
“Não à toa a reivindicação dos bolsonaristas no 25 de fevereiro na Avenida Paulista era uma nova Anistia. Tem uma tradição uma história republicana no Brasil de apagar os crimes cometidos pelas Forças Armadas, de não responsabilizar pelas rupturas democráticas do país. O governo Lula tem esse desafio de responsabilizar esses atores pelos crimes não só do 8 de Janeiro, mas também durante a ditadura militar de 1964.”
A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta sexta-feira (05) do Central do Brasil, que está disponível no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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Edição: Matheus Alves de Almeida