O ministro das Relações Exteriores do Irã acusou nesta segunda-feira (8) o governo dos Estados Unidos de aprovar um ataque mortal que se acredita ter sido executado por Israel no consulado de Teerã em Damasco na semana passada.
"A América é responsável por este incidente e deve ser responsabilizada", disse o ministro das Relações Exteriores iraniano, Hossein Amirabdollahian, à imprensa na inauguração um novo consulado na capital síria.
"O fato de os EUA e dois países europeus se terem oposto a uma resolução [do Conselho de Segurança da ONU] condenando o ataque à embaixada iraniana é um sinal de que os EUA deram luz verde ao regime sionista [Israel]" para levar a cabo o ataque, disse ele
Questionada sobre as observações de Amirabdollahian, a porta-voz do Pentágono, Sabrina Singh, negou que Washington estivesse ligado ao ataque.
"Posso veementemente rejeitar isso e dizer… os militares dos EUA não tiveram envolvimento naquele ataque que ocorreu em Damasco", disse ela aos jornalistas.
Um dia depois do ataque ao consulado de 2 de abril, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, considerou “absurdos” os comentários de Amirabdollahian de que Washington, o principal apoiante de Israel, era responsável pelo ataque.
Números do massacre em Gaza
O governo da Faixa de Gaza atualizou as cifras do massacre, na marca de 185 dias — ou mais de meio ano — após seu início, em 7 de outubro. Ao menos 33.207 palestinos foram mortos, incluindo 14.520 crianças. Outros milhares continuam desaparecidos ou presos sob os escombros.
Mais de 75.930 palestinos sofreram ferimentos sendo que mais de 11 mil destes com ferimentos graves, necessitando tratamento fora de Gaza. Mais de um milhão de pessoas deslocadas contraíram doenças infecciosas.
Pelo menos dois milhões de palestinos estão deslocados internamente em Gaza. Cerca de 17 mil crianças perderam um ou ambos os pais.
Pelo menos 485 profissionais médicos foram mortos. Mais de 310 médicos e 20 jornalistas foram presos pelas forças israelenses.
Paz?
À agência de notícias Reuters,o porta-voz do Hamas Ali Baraka disse que o grupo rejeitou a última proposta de cessar-fogo israelense sugerida nas negociações no Cairo. A declaração corrobora uma outra anterior feita pelo Hamas de que nenhum progresso havia ocorrido nas negociações.
Apesar de o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, dizer que uma data para a invasão de Rafah, no sul de Gaza ter sido definida, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse que o governo estadunidense ainda não sabe desse cronograma.
"Deixamos claro para Israel que pensamos que uma invasão militar em grande escala em Rafah teria um efeito enormemente prejudicial sobre os civis e que acabaria por prejudicar a segurança de Israel", disse Miller, ressaltando que Washington não quer ver uma invasão em grande escala de Rafah, o último refúgio de Gaza para palestinianos deslocados.
Calcula-se que Rafah, que era lar de cerca de 200 mil palestinos, hoje abriga mais de um milhão de deslocados de outras áreas de Gaza, a maioria destes, crianças.
Contexto
O atual massacre israelense na Faixa de Gaza — ou operação militar, como chama Israel — começou em outubro do ano passado, mas as condições no território palestino já eram consideradas "sufocantes" pela ONU antes disso.
O bloqueio israelense de 17 anos — para obrigar o Hamas, partido que ganhou as eleições palestinas em 2006, a abdicar do poder — gerou taxas de desemprego de 45% e insegurança alimentar que atingia 64% da população. A ONU calculava que mais de 80% dos moradores de Gaza dependiam de ajuda externa para sobreviver.
Em 7 de outubro, integrantes do Hamas ingressaram em Israel e realizaram o ataque mais violento já sofrido pelo país, deixando cerca de 1,2 mil mortos e capturando 240 reféns. A resposta do governo Netanyahu foi considerada desproporcional pela comunidade internacional. Bombardeios diários no que é considerado um dos territórios mais densamente povoados do mundo vêm causando a morte de dezenas de milhares de palestinos e destruindo toda a infraestrutura de Gaza.
O número de vítimas fatais ultrapassou 32 mil palestinos — cerca de 70% mulheres e crianças —, com mais de 8 mil pessoas desaparecidas debaixo dos escombros. Foram destruídos 35% dos prédios e praticamente todos os mais de dois milhões de habitantes foram forçados a deixar suas casas.
No outro território palestino ocupado, a Cisjordânia, a violência ilegal praticada por colonos israelenses é diária, com mais de 500 mortos. Desde o início do conflito, milhares de palestinos foram presos e o governo anunciou que outros milhares vão ser detidos este ano.
A ONU alerta para o desastre humanitário, acusando Israel de usar a fome coletiva como arma de guerra e ressaltando a possibilidade real de que centenas de milhares de palestinos venham a morrer por falta de alimentos.
Edição: Matheus Alves de Almeida