Elisa Lucinda se interessou por poesia desde pequena. Com 11 anos já frequentava aulas de declamação. Desde então, foram 20 livros publicados. Na televisão, estreou como atriz na novela Kananga do Japão, de 1989. No teatro, foram mais de 20 espetáculos. Além disso, é cantora e intérprete. E muito mais.
Disso tudo resultam não só belos trabalhos, mas também premiações. Em 2020, Elisa Lucinda recebeu o Prêmio Especial do Júri do Festival de Cinema de Gramado. E, no ano passado, o Troféu Raça Negra, como melhor atriz, pela atuação na peça Parem de Falar Mal da Rotina.
“Eu fui em um astrólogo maravilhoso. Um astrólogo-tarólogo, que acabou de me dizer que eu tenho escorpião na casa do trabalho. Que eu faço amor com o público, mas eu faço também em casa. Mas eu tenho muito tesão no meu ofício, digamos assim. Agora que eu estou entendendo, porque eu tenho muita dificuldade de dar um limite no horário de trabalho, porque eu amo tudo que eu faço”, conta ela, em entrevista ao programa Bem Viver.
O trabalho bem-feito, a múltipla capacidade artística, as premiações não livraram Lucinda do racismo. Porém, ela aponta que o preconceito não a agrediu enquanto a multiartista que ela se construiu, mas enquanto mulher negra.
“Para mim, a questão do racismo estrutural não mexe muito na questão da minha multiplicidade. Eu, por minha vez, adoro essa multiplicidade, porque se eu não cantasse, eu ia ficar muito frustrada. Se eu não escrevesse esse verso, eu ia ficar frustrada. Se eu não falasse ‘poisia’, eu ia ficar frustrada. Se eu não atuasse como atriz também. Se eu não desenhasse essas pinturas”, destaca.
“O problema do racismo estrutural é outro na minha vida”, prossegue a artista.
“É aquele que fez com que eu fosse julgada. Eu sempre gostei de transparência e saia curta. Mas uma mulher negra, de minissaia, ela não tem a mesma leitura que uma mulher branca. Uma mulher negra, de shortinho, a leitura leva a uma coisa de vontade. É como se fosse uma permissão para o desrespeito. Independente de ser artista, essa é o problema de toda mulher negra brasileira. Toda mulher negra do mundo, eu arriscaria, porque o mundo é muito racista. Tenho certeza que eu fui julgada muitas vezes”, lamenta.
Confira a entrevista completa no programa de hoje (8).
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Edição: Matheus Alves de Almeida
