A noite que deveria ser de lazer e diversão para Luiz Augusto Gomes Pereira, estudante de Educação Física e motorista por aplicativo, transformou-se em um episódio de violência e racismo. Durante uma festa, Luiz conta que foi agredido por seguranças. Em decorrência das agressões, ele corre o risco de perder a visão de forma definitiva.
Na madrugada do domingo (7), Luiz Augusto estava acompanhado de sua esposa, Mirian de Paula Soares, no On Funk Festival, que aconteceu no Espaço Torres, em Curitiba. O jovem relata que portava uma pulseira de identificação como pagante do ingresso, mas que foi impedido de retornar ao recinto após sair para ajudar um amigo que tinha sofrido um ligeiro mal estar.
Ao tentar explicar a situação aos seguranças, ele relata que foi agredido por um deles, identificado como Eduardo Felipe Ribeiro, que desferiu socos, chutes e uma coronhada na cabeça da vítima. A esposa de Luiz também foi agredida ao questionar as ações do segurança. O casal foi levado ao Hospital do Trabalhador para receber cuidados médicos.
A situação é agravada pelo histórico de saúde do jovem: há três anos ele passou por um transplante de córnea no olho que sofreu os golpes. As lesões foram tão graves que ele precisou de uma cirurgia de emergência no Hospital de Olhos, perdendo, ao menos por enquando, a visão deste olho.
"Recentemente eu fiz um transplante e estava 100% recuperado, levava minha rotina normal, mas hoje me encontro debilitado e com dificuldade para reconhecer as pessoas", conta Luiz. "Era o olho com o qual eu enxergava melhor, o outro já tem uma visão muito baixa", diz.
Luiz está impossibilitado de continuar trabalhando como motorista de aplicativo, principal fonte de renda do casal, assim como estudar e resolver as coisas do dia a dia.
"Tanto eu quanto a minha esposa estamos muito abatidos, estamos com medo e vergonha de sair na rua, porque além da agressão, nós também sofremos algumas ameaças", revela Luiz. "Ainda estou tentando entender o que aconteceu e porque comigo".
Defesa do caso
A Associação Cultural de Negritude e Ação Popular (ACNAP) está prestando apoio aos jovens e disponibilizou uma advogada que os acompanhou no processo de boletim de ocorrência.
"A ACNAP está encaminhando também apoio psicológico, porque como foi um muito caso grave, o Luiz está abalado e precisando de acolhimento", afirma Maria Lucia de Souza, presidente da ACNAP.
A organização também emitiu uma declaração pública, exigindo a punição dos responsáveis, a responsabilização do estabelecimento e indenização pelos danos físicos e morais sofridos pelo jovem. Além disso, solicita a cassação imediata do alvará de funcionamento do Espaço Torres.
"Como ele é um jovem negro que foi agredido sem motivo nenhum, nós da entidade já sabemos qual foi o motivo, por isso estamos encaminhando a denúncia", destaca a presidente da ACNAP
A redação do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com o Espaço Torres e Ademar Júnior, diretor geral do local, que se manifestou afirmando que a empresa apenas realiza a locação do imóvel. "Somos um centro de convenções, não nos responsabilizamos pelos eventos. A empresa que aluga deve se responsabilizar pelas ações, inclusive é quem cuida da contratação dos seguranças", afirma Ademar.
Os organizadores do evento On Funk Festival também foram contactados, mas não se manifestaram até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para a resposta da organização.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Pedro Carrano