A Confederação Geral do Trabalho (CGT) aprovou, por unanimidade na noite desta quinta-feira (11), uma nova greve geral contra o governo do ultraliberal Javier Milei. A paralisação foi confirmada para o próximo dia 9 de maio, por 24 horas, junto com um calendário de lutas que terá início no dia 23 de abril, quando os trabalhadores acompanharão uma marcha das universidades em defesa da educação pública.
Os protestos serão mantidos no dia 1º de maio, o Dia do Trabalhador. A data será marcada por mobilizações em todas as províncias e a divulgação de um documento com as reinvindicações da população.
Essa será a segunda greve geral dos trabalhadores argentinos em apenas quatro meses. Em 24 de janeiro, uma multidão tomou as ruas do país contra a “motosserra” de Milei. Desde sua posse, em dezembro, vem realizando uma série de medidas de desregulamentação. Os cortes sociais e de gastos públicos estão reunidos no Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) 70 e o Projeto de Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos, chamada resumidamente de Lei Ônibus. Todos são considerados projetos de destruição para a população.
“O impacto causado pelo ajuste de preços e tarifas que está sendo realizado com o único objetivo de reduzir os salários, apenas nos leva a um processo recessivo inaceitável. Por esse motivo, tomamos a decisão de convocar uma greve de 24 horas em 9 de maio”, afirmou o dirigente sindical Héctor Daer na sede da CGT pouco depois da reunião do conselho diretor nesta quinta.
Greve é urgente
De acordo com informações do jornal argentino Página 12, o anúncio de greve frustrou o governo. Pela primeira vez, o chefe da Casa Civil, Nicolás Posse, e o ministro do Interior, Guillermo Francos, se reuniram nesta quarta (10) com representantes da CGT. Logo após o encontro, o porta-voz do presidente Manuel Adorni chegou a dizer que “não havia motivos para haver greve”. “Não vimos isso antes e depois da conversa que tivemos (com a central sindical). Entendemos que a greve não vai existir”, declarou.
Por conta disso, o decreto de paralisação foi considerado um fracasso do partido no poder. “A situação econômica e social torna impossível pensar em suspender uma medida de força”, destacou a CGT. “Somos o eixo da luta contra o governo, conquistamos esse lugar”.
Milei alega que as políticas de ajustes são necessárias para organizar as finanças públicas e as dívidas, como as do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI), de US$ 44 bilhões. No início de abril, a porta-voz do FMI, Julie Kozack, classificou como “impressionante” os supostos progressos que o presidente vem obtendo na condução da economia argentina. Ela destacou que, em janeiro e fevereiro, o país registrou superavit fiscal pela primeira vez em mais de uma década. Além disso, a inflação está caindo e as reservas internacionais, subindo.
Superávit de Milei é ‘picaretagem’
Porém, conforme reportou a RBA, o plano “motosserra” de corte de gastos tem cobrado alto custo da população argentina. A previsão do próprio FMI é que o PIB da Argentina registre retração de 2,8% em 2024. De acordo com a Confederação Argentina de Médias Empresas (Came), a venda de medicamentos, por exemplo, sofreu queda de 42,4% nos dois primeiros meses do ano. Já os dados do Observatório da Dívida Social, da Universidade Católica Argentina (UCA), mostram que a taxa de pobreza no país passou de 49,5% para 57,4%, atingindo seu patamar mais elevado desde 2004.
Nesse sentido, o professor titular do Bacharelado em Ciências Econômicas e da Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC) Ramon Garcia-Fernandez afirmou que o sucesso do ajuste fiscal de Milei é insustentável. “O superávit das contas públicas está sendo obtido com o adiamento de pagamentos. Assim até eu consigo”, ironizou o economista argentino que vive no Brasil. “Posso aumentar minha poupança, se continuo recebendo e não pago para ninguém. Se você adia todos os pagamentos, vai ter superávit, obviamente. Mas isso é uma estratégia sustentável? Pareceria mais uma picaretagem.”