A reforma agrária é fundamental para garantir a produção cada vez maior de alimentos saudáveis e combater a fome. É o que defende o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que reinaugurou o Armazém do Campo em novo espaço na Alameda Nothmann, no centro de São Paulo. Agora maior, o Armazém é uma das opções de lugares para comprar comida saudável na cidade.
Como a Feira do Produtor da Associação de Agricultura Orgânica (AAO), que funciona no fim de semana e às terças-feiras, sempre das 7h ao meio-dia, no Parque da Água Branca, na Zona Oeste. Desde 1991, o galpão da Associação, que fica dentro do parque, leva o alimento saudável livre de agrotóxicos para clientes já fieis e para quem passa pelo local.
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Os produtos vendidos, como frutas, verduras e legumes, vêm de diferentes regiões que praticam a agricultura familiar, diz Thais Raiz Teixeira, diretora de Projetos e Eventos da AAO. “Tem próximo à cidade de São Paulo, que é de Cotia, Mogi Mirim, Ibiúna, Indaiatuba. Tem de regiões um pouco mais longe do estado, como Leme. Nós temos uma associação do Sul de Minas, de Ouro Fino e adjacências. E fora que os nossos produtores também trazem produtos de todo o Brasil. Do Nordeste até o Rio Grande do Sul”.
A diversidade de alimentos, exposta também no novo Armazém do Campo, só é possível com acesso à terra pelo produtor. Pesquisadores pontuam que a terra é desigualmente distribuída pelo Brasil, e o movimento sem terra defende a ocupação e a conquista de assentamentos em propriedades improdutivas para a justa e necessária reforma agrária popular. O objetivo final é levar mais saúde ao meio ambiente, ao trabalhador do campo e a quem escolhe consumir produtos agroecológicos, explica o agricultor em assentamento Delwek Matheus.
“Nossa vida é uma vida de agricultor familiar, que produz com a família, que tem um compromisso com a questão ambiental. Nós temos um compromisso com a questão da qualidade do alimento, um compromisso com a saúde do consumidor. Isso é de natureza da agricultura camponesa familiar. É de natureza do camponês lidar com a terra, com a água, com os bens da natureza, com certo carinho, certo respeito, com equilíbrio com a natureza. Porque o camponês se sente parte da natureza. O camponês é um guardião da natureza, por sua vivência, por sua tradição, por sua cultura”, celebra.
O alimento que Delwek ajuda a produzir está nas prateleiras do Armazém do Campo, que existe há oito anos e atualmente conta com 25 lojas espalhadas pelo Brasil. A nova sede já está aberta, com horário de funcionamento igual.
Haverá um evento de inauguração oficial em 27 de abril com a presença do coordenador nacional do MST, João Pedro Stedile, que convida Ademar Ludwig. Conhecido como Schusky, ele faz parte do Grupo Gestor dos Armazéns do Campo.
“De modo geral, essas prateleiras aqui são como prioridade produtos de assentamentos vinculados ao MST e à reforma agrária popular. Mas não só. Aqui também a gente tem todo um diálogo com os quilombolas, com os ribeirinhos, com a agricultura familiar. Fundamentalmente, nós defendemos como um modelo de agricultura brasileiro um modelo de agricultura agroecológica e nós queremos. Então, como um primeiro passo, estancar o consumo de veneno”, ressalta Schusky.
A mudança de sede do Armazém acontece no ano em que o MST faz aniversário. São 40 anos de história e muita luta pelo direito à terra. Neste ano, o movimento inaugurou ainda o Sacolão Popular da ZL, que fica na região da Mooca-Belenzinho. Junto à venda de produtos a preço justo, a ideia é que o espaço continue a promover ações contra a insegurança alimentar, lembra Joca Modesto, diretor do Sacolão. Também reconhecido pelas ações contra a fome, o padre Julio Lancelloti foi parceiro da iniciativa.
“Esse Sacolão foi criado na intenção de vender os produtos mais saudáveis, mas também mais em conta, por um preço mais popular. A gente pega o produto dos assentamentos nossos daqui da região da Grande São Paulo, do Vado do Paraíba, de Apiaí, de Itapeva e de várias regiões do estado. Tem o arroz orgânico que vem do Rio Grande do Sul. (...) E uma vez por mês nós fazemos almoço com os moradores de rua”, conta ele.
“Eu costumo dizer para o pessoal que cada compra feita aqui, com certeza ele está diminuindo as compras na farmácia, porque nós somos o que nós comemos. Então tem muito a ver as doenças com a alimentação e hoje a população come muito agrotóxico”, pontua Joca sobre a importância de consumir alimentos saudáveis.
São Paulo tem muitas alternativas para quem pretende buscar essa readequação alimentar. Com arroz, feijão, café, suco e até chocolate da agroecologia, a marca Raízes do Campo, fundada em 2019, é mais uma opção. Com o lema “Bom para quem planta, para quem come e para o meio ambiente”, também inaugurou um novo espaço na Santa Cecília, no centro da capital, onde é possível ter acesso a produtos sustentáveis e ainda socializar no ambiente.
“A gente quis construir esse espaço onde a gente possa convidar o consumidor pra ele conhecer os produtos que a Raízes do Campo tem no seu portfólio. Consumir produtos no Café da agricultura familiar. Então o nosso principal fornecedor de alimentos para a nossa produção, para servir no café, é o Armazém do Campo. A Casa da Raízes do Campo tem esse propósito de ser um ambiente acolhedor, onde a gente possibilite ao consumidor o contato com a agroecologia de uma maneira integral”, apresenta Carla Guindani, uma das responsáveis por administrar o local.
Nesta semana, veio do governo federal uma notícia que deve incentivar o aumento da produção de alimentos saudáveis: a criação de um programa voltado para a reforma agrária que deve beneficiar quase 300 mil famílias agricultoras.
“Obviamente nós queremos que o governo olhe com mais atenção para nós e esse mesmo subsídio que ele dá para o agronegócio, ele também dê para a agricultura familiar. É isso que nós queremos. Essa pauta que nós queremos com o governo, para a gente poder cada vez mais disponibilizar, mais diversidade, mais quantidade, mais escala e com um preço justo para você cuidar melhor da sua saúde”, conclui Ademar Schusky.
Edição: Matheus Alves de Almeida