A reforma agrária e a luta dos camponeses por direitos estão sempre presente nas páginas, telas e ondas sonoras do Brasil de Fato. Não só porque fazemos um jornalismo posicionado à esquerda, mas porque o tema é relevante em um país que ainda é assolado pela fome e pela insegurança alimentar. Um Brasil que ainda ostenta números vergonhosos no acesso à alimentação de qualidade para todas e todos.
Precisamente com a demanda da produção de alimentos saudáveis e sua justa distribuição, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou mais uma jornada de lutas neste Abril Vermelho. O balanço já soma quase 30 ocupações de terra realizadas sob o mote "Ocupar para o Brasil alimentar" e em memória das vítimas do massacre de Eldorado dos Carajás, acontecido há 28 anos em um acampamento na Curva do S, em Eldorado do Carajás, no sudeste do Pará.
Cerca de 1,5 mil pessoas planejavam marchar até a capital do estado, onde reivindicariam, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a desapropriação da fazenda Macaxeira, ocupada por 3,5 mil famílias sem terra. A marcha, porém, jamais foi concluída.
Na noite de uma quarta-feira, o grupo foi cercado por policiais militares que, com extrema violência, assassinaram 21 dos camponeses sem terra e deixaram outros 79 feridos. Ao Brasil de Fato, o jornalista e tradutor Eric Nepomuceno afirmou, sobre o Massacre de Carajás, que "esse é um país, eu sempre digo, da amnésia, um país amnésico".
Entre os relatos atuais de repressão na jornada de 2024, o Brasil de Fato acompanhou os casos de ocupação em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. No caso deste último, segundo os sem-terra, a entrada do acampamento foi tomada por 27 carros, tratores agrícolas e drones.
A violência também acontece por via institucionais: não por coincidência, nesta semana, após um grande número de ocupações e de o presidente Lula (PT) exonerar o superintendente regional do Incra de Alagoas, Wilson César de Lira Santos – primo do presidente da Câmara, Arthur Lira –, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara agilizou a tramitação de um projeto de lei que autoriza o uso de força policial em ocupações sem ordem judicial. Em nota, o MST afirmou que a reforma agrária é um sonho antigo que permanece atualmente.
Quem também anunciou novas medidas para acelerar o assentamento de famílias foi o governo federal, com o anúncio do programa Terra da Gente. Para os movimentos camponeses, programa é um gesto importante, mas não responde às pautas urgentes.
Evento que também não chamou atenção da imprensa comercial, mas você acompanhou aqui no Brasil de Fato, foi o lançamento do 7º Congresso Nacional do MST, que deve reunir 20 mil camponeses em Brasília em julho. O evento que compôs a jornada juntou os cantores e apoiadores de longa data do Movimento Otto e Chico César, além de parlamentares, lideranças políticas e jornalistas. Só um spoiler: você também vai poder acompanhar no Brasil de Fato a cobertura do Congresso, que promete ser histórico.
Até na Venezuela, de onde lhes escrevo, aconteceram diversas atividades de solidariedade que marcaram o dia internacional da luta camponesa. Eu acompanhei uma dessas demonstrações de solidariedade na comuna socialista El Panal, em Caracas, que recebeu uma delegação do MST que reside na Venezuela e cerca de 60 convidados de diversos países da América Latina que acompanharam a atividade alusiva ao Dia Internacional da Luta Camponesa.
Vale lembrar a vocês que uma parte considerável da cobertura dessa jornada de lutas (e de diversos outros temas) também está disponível em inglês no nosso site e nas nossas redes sociais.
Edição: Nicolau Soares