Feito de resistência, resiliência e muita luta, o Acampamento Terra Livre (ATL) completa 20 anos em 2024. A marca simbólica da maior mobilização indígena do Brasil será celebrada na edição deste ano, que ocorrerá entre os dias 22 e 26 de abril, em Brasília, com o tema "Nosso Marco é Ancestral: Sempre estivemos aqui".
O evento já está consolidado como um instrumento fundamental para a luta dos povos indígenas. Mesmo após importantes conquistas, as lutas históricas por demarcação de terras e outros direitos seguem mais firmes e fortes do que nunca como mostra esta edição do Bem Viver, programa do Brasil de Fato.
O próprio formato tradicional do evento, que já passou por diferentes pontos da Esplanada dos Ministérios, também tem razão de ser. Como explica Dinamam Tuxá, liderança da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), um dos movimentos que integram a organização do encontro.
“Muitas pessoas questionam nós ficarmos debaixo de lona. Isso é para demonstrar o nosso dia a dia que é debaixo de lona. Muitos povos vivem no formato do acampamento Terra Livre. Então, isso é uma mensagem política que nós estamos aplicando. Após esses 20 anos de maturação do movimento indígena, também se tornou um espaço de troca de saberes, troca de experiência, de vivência e convivência com outros povos indígenas que hoje se somam aproximadamente mais de 305 povos, mais de um milhão e meio de indígenas”, afirma ele.
Para Marcos Kaingang, secretário nacional de Direitos Territoriais do Ministério dos Povos Indígenas, a união é a chave. “O princípio coletivo de nós povos indígenas é nessa dinâmica que é o que nos une no ATL, é o momento de celebração das diversas culturas no país, um momento histórico que consegue de fato alinhar, articular e de fato planejar a nossa situação na defesa da garantia do direito territorial, da saúde, da educação e vários outros direitos sociais, que a nós, anos devido e sem essa articulação, a gente fica muito mais fragilizado".
Célia Xakriabá, deputada federal pelo Psol de Minas Gerais, complementa.“Esse ano iremos ter a nossa solenidade também no Congresso Nacional, em homenagem aos 20 anos de Acampamento Terra Livre. Por muitas vezes, nós que fomos impedidos de entrar no Congresso Nacional com repressão policial, bala de borracha, mas isso que é televisionado, essa mesma guerra é também acontecida nos territórios quando se nega o direito dos territórios indígenas.”
Na trajetória para ganhar o corpo que tem hoje, o ATL, abreviação de Acampamento Terra Livre, começou pela união dos diferentes povos indígenas espalhados pelo país. A primeira edição ocorreu em 2004 no embalo de grandes mudanças em que o Brasil estava inserido na época, mas já com uma pauta em comum: o reconhecimento legal dos territórios ancestrais.
“O acampamento surge de uma pauta que era reprimida do processo de demarcação que diversos governos não vinha cumprindo com o texto constitucional e que no governo Lula, na primeira gestão do governo Lula, nós tivemos ali a oportunidade de evidenciar ainda mais essa questão das demarcações da terra indígena através de um acampamento que foi iniciado pelos povos indígenas da região sul. Com o passar dos dias deles acampados, outros povos indígenas do Brasil se sentiram mobilizados para se fazer presentes naquele momento”, contextualiza Dinamam.
Com o passar dos anos, as lutas históricas foram ganhando corpo e força política. Não à toa, o ATL ajudou a impulsionar a eleição da primeira deputada indígena da história do país, Joênia Wapichana, que hoje é presidenta da Funai.
Na edição do ano passado, o presidente Lula, na presença do cacique Raoni, oficializou a criação do Ministério dos Povos Indígenas, comandado por Sônia Guajajara.
Célia, única deputada indígena atualmente no Congresso, exalta: “Aí se percebe que os povos indígenas são medidos não exatamente pela quantidade, mas pela força ancestral. Assim como a nossa presença no Congresso Nacional, nós somos um, mas não sou só, porque ali estou representando também 1,7 milhão de cocares que estão no território, porque poder para nós não é somente estar no poder executivo, legislativo e judiciário, a luta é o quarto poder.”
A causa indígena, que passou a atrair cada vez mais o interesse internacional, ganharia o mundo de vez justamente durante a pandemia de Covid-19.
Em 2020 e 2021, o acampamento foi realizado de forma virtual, que apesar do isolamento, ajudou a divulgar a emergência sanitária, o avanço do garimpo, o genocídio do povo Yanomami e outras ameaças.
Com Lula novamente presidente, a causa indígena voltou a ganhar atenção do governo, junto de esforços pela conservação do meio ambiente. Mesmo assim, o sinal de alerta se mantém ligado.
“Nós temos uma total abertura com o presidente Lula, nós sabemos da força e da vontade que ele tem em nos ajudar, mas também sabemos que ele é um agente político que precisa dialogar com diversas frentes, inclusive com os nossos inimigos. E a partir desse pressuposto, nós vamos continuar na linha de frente, fazendo a cobrança devida, de forma ordeira e organizada, para que se cumpra com os nossos direitos constitucionais”, pontua Dinamam.
Até que os direitos sejam conquistados de forma permanente, a luta será constante e será perpetuada pelas atuais e futuras gerações.
“Outros anciãos mais velhos já nos deixaram esse legado, esse compromisso que nós temos de dar continuidade. Eles fizeram essa trajetória até essa etapa e agora nada mais natural e legítimo que nós continuemos. E outras gerações estão nesse meio desse processo de formação política social e cultural que é de fato não pensar só no momento, mas sim no futuro também”, conclui Célia Xakriaba.
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Quando e onde assistir?
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Na TV Brasil (EBC), segunda-feira às 6h30.
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Na TV Floripa: sábado às 13h30, reprises ao longo da programação, no canal 12 da NET.
Na TVU Recife: sábados às 12h30, com reprise terça-feira às 21h, no canal 40 UHF digital.
Na TVE Bahia: sábado às 12h30, com reprise quinta-feira às 7h30, no canal 30 (7.1 no aparelho) do sinal digital.
Na UnBTV: sextas-feiras às 10h30 e 16h30, em Brasília no Canal 15 da NET.
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Sintonize
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O programa também é transmitido pela Rádio Brasil de Fato, das 11h às 12h, de segunda a sexta-feira. O programa Bem Viver também está nas plataformas Spotify, Google Podcasts, Itunes, Pocket Casts e Deezer.
Edição: Marina Duarte de Souza