Com o Plenário tomado por representantes de povos indígenas, a Câmara dos Deputados realizou, nesta terça-feira (23), uma sessão especial em homenagem à realização da vigésima edição do Acampamento Terra Livre (ATL), que vai até a próxima sexta-feira (26) na capital federal.
Convocada e presidida pela deputada federal Célia Xakriabá (Psol-MG), a sessão foi marcada pela presença de representantes de povos indígenas de diversas localidades do país. Lideranças indígenas e parlamentares de partidos progressistas falaram em defesa dos direitos dos povos originários.
Temas que tomaram as discussões em Brasília nos últimos meses e foram causa de embates entre o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), a demarcação de terras e o marco temporal deram o tom das manifestações na sessão, com críticas à atuação da chamada "bancada BBB", ou seja, "bancada do boi, da bala e da bíblia".
"Esta casa [a Câmara] virou um grande balcão de negócios com nossas terras, nossas riquezas, nossos biomas e nossas vidas. O governo federal não pode continuar cedendo a caprichos de governadores que têm interferido diretamente em demarcações de terra em todas as regiões do país", afirmou o cacique Aurivan dos Santos, conhecido como Neguinho Truká.
Um dos fundadores da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e participante da organização do ATL, Kretã Kaingang disse que o Congresso, que foi o palco para a Assembleia Constituinte que resultou na Constituição de 1988, se tornou, agora, um espaço para ataques aos povos originários.
"Hoje, este mesmo Congresso Nacional retira direitos que nossos avós construíram à custa de seu sangue e seu suor. Este mesmo Congresso Nacional faz as leis em cima do Judiciário brasileiro, em cima do executivo brasileiro, para atender seus interesses, e não o interesse da nação brasileira e dos povos indígenas", bradou.
A articulação e a resistência dos povos indígenas em meio aos ataques do governo de Jair Bolsonaro (PL) foi ressaltada por parlamentares que participaram da sessão, como o deputado federal Airton Faleiro (PT-PA).
"Houve muitas reações contrárias ao governo anterior, que não gosto nem de falar o nome. Mas nenhum movimento se mobilizou tanto quanto os povos indígenas. Vocês resistiram, vieram para Brasília muitas vezes e fizeram a diferença na luta pela democracia e pela manutenção dos direitos. Temos que reconhecer isso", disse.
A deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) defendeu que os indígenas sejam vistos com dignidade, como um povo que luta pela demarcação de seu território, mas também pela proteção ambiental das florestas e das águas.
"A pauta indígena não é uma pauta do agora, não é uma pauta inédita. Antes do Brasil da coroa, existiu um Brasil do cocar e este Brasil tem que ser lembrado, respeitado. Tem que ganhar representação legítima dentro das cadeiras desse parlamento", destacou.
Homenagens continuam
A vigésima edição do ATL será novamente homenageada no Congresso a partir das 19h desta terça-feira (23), quando haverá projeção de frases na fachada em apoio à realização do evento.
Edição: Thalita Pires