A companhia aérea Cubana de Aviación anunciou, por meio de um comunicado à imprensa, o cancelamento de seus voos programados para esta semana entre Havana e Buenos Aires.
De acordo com as informações divulgadas, a empresa foi forçada a tomar essa decisão repentina depois que foi notificada de que os provedores de combustível na Argentina estão se recusando a fornecer combustível à companhia aérea cubana, o que impossibilita que seus aviões façam o voo de volta.
Essa decisão contra a empresa cubana foi tomada apesar de os voos terem sido autorizados pela Administração Nacional de Aviação Civil (órgão responsável pela regulamentação das atividades de aviação civil na Argentina). De acordo com a companhia aérea cubana, esse prejuízo foi causado “invocando as disposições das medidas de bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba”.
A estatal cubana advertiu que “essa recusa foi estendida a outras companhias aéreas contratadas pela Cubana de Aviación, com o objetivo de dar a devida proteção e transferir os passageiros afetados, impedindo assim que a companhia aérea cumpra seus compromissos com eles”.
A empresa garantiu que os passageiros que não iniciaram sua viagem serão reembolsados em 100% de sua passagem aérea e que “serão protegidos na medida em que houver assentos disponíveis oferecidos pelas companhias aéreas que têm conexões aéreas de Cuba para a Argentina”.
Prejuízo ao turismo
Em maio de 2023, a Cubana de Aviación retomou os voos diretos entre Argentina e Cuba, que haviam sido suspensos devido à pandemia.
A reativação desses voos teve impacto positivo no número de visitas ao país caribenho. Durante o período de janeiro a março deste ano, período de férias na Argentina, o número de argentinos que viajaram para Cuba aumentou 44% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Dessa forma, a decisão abrupta de interromper os voos da Cubana de Aviación está diretamente alinhada com os interesses de Washington e atinge uma das principais fontes de renda do país caribenho: o turismo.
Uma agressão sem precedentes
Há mais de seis décadas, Washington mantém uma política férrea de sanções e perseguição contra qualquer empresa que faça negócios com Cuba.
No entanto, é incomum que os postos de gasolina neguem combustível aos voos da Cubana de Aviación - uma empresa que opera voos para diferentes partes do mundo. O que torna a decisão da Argentina particularmente inusitada.
Até o momento, a Administração Nacional de Aviação Civil da Argentina não comentou o assunto, nem deu detalhes sobre o ocorrido.
Entretanto, segundo informações obtidas pelo Brasil de Fato, a decisão de não vender combustível à empresa cubana foi tomada pela YPF, a principal empresa de energia argentina, cujo proprietário majoritário é o Estado argentino.
Horacio Marín é o atual diretor da YPF, nomeado por Javier Milei. Até 2023. Ele foi presidente da Tecpetrol, empresa petrolífera pertencente ao grupo Techint, um dos principais grupos empresariais da Argentina. Entre os diretores em exercício da empresa petrolífera estão José Posse que, como chefe de gabinete, tem um lugar na empresa estatal de petróleo. Ele foi gerente da Aeropuertos Argentina 2000 - uma empresa responsável por 35 aeroportos na Argentina e de propriedade do empresário Eduardo Eurnekian, um dos principais financiadores políticos de Javier Milei.
Nas últimas semanas, a nova diretoria de ultradireita da YPF esteve no centro do debate público após ter sido descoberto escândalo em que eles estariam tentando aumentar seus salários em cinco vezes. A acusação é de que eles estariam usando a empresa majoritariamente estatal como fonte de enriquecimento, enquanto a Argentina atinge níveis recordes de pobreza e o governo está cortando as pensões e a educação.
Bloqueio contra Cuba
O bloqueio dos EUA contra Cuba é imposto desde o triunfo da Revolução em 1959. É considerada política projetada para sufocar a economia da ilha a fim de provocar uma "mudança de regime".
Todos os anos, desde 1992, a Assembleia Geral da ONU tem se manifestado de forma esmagadora contra o bloqueio mantido pelos Estados Unidos. O órgão argumenta que essa é uma política que viola "a igualdade soberana dos Estados, a não intervenção e a não interferência em seus assuntos internos e a liberdade de comércio e navegação internacionais".
Desde que a questão foi discutida pela primeira vez na ONU, a Argentina tem mantido uma posição consistente contra o bloqueio. De acordo com as últimas estimativas da ONU, somente no ano passado o bloqueio gerou perdas de US$ 13 milhões (cerca de 67 milhões) por dia para o Estado cubano.
Historicamente, a Argentina sempre se manifestou contra o bloqueio dos EUA. Mantendo independência dos ditames de Washington. Uma tradição de não alinhamento que Milei está tentando romper.
Edição: Rodrigo Durão Coelho