O Ministério Público do Peru anunciou nesta quarta-feira (24) que vai ampliar a investigação contra a presidente Dina Boluarte. Ela é acusada de enriquecimento ilícito e omissão na declaração de relógios de luxo. O MP disse que vai acusar também Boluarte por suborno passivo e que vai incluir o governador regional do departamento (equivalente a estado) de Aiacucho, Wilfredo Oscorima, nas investigações.
No final de março, o MP e a Divisão de Investigação de Delitos de Alta Complexidade (Diviac) do Peru fizeram uma operação de busca e apreensão na casa de Dina Boluarte e no Palácio do Governo. De acordo com sua defesa, policiais encontraram “cerca de 10 relógios” nas buscas.
O caso veio à tona depois da publicação de uma reportagem do portal La Encerrona. O texto afirmava que a presidente peruana, de centro esquerda, tinha mais de US$ 40 mil (mais de R$ 200 mil) em relógios da marca Rolex. A reportagem analisou fotos de Boluarte em eventos com as joias para afirmar que ela possivelmente teria mais de uma dezena de relógios de luxo.
Reportagem da BBC indica também que o MP identificou movimentação de US$ 300 mil (mais de R$ 1,5 milhão) em depósitos de origem desconhecida nas contas pessoais de Dina Boluarte antes de ela tomar posse em dezembro de 2022.
Em sua primeira declaração após o inicio das investigações, a presidenta se defendeu afirmando que o que possui é fruto do trabalho que faz desde os 18 anos de idade. Mais tarde, prestou esclarecimento à Justiça e disse que os relógios foram emprestados por Oscorima.
“Devo admitir que foi um erro ter aceitado estes relógios do meu amigo Wilfredo Oscorima por empréstimo ”, disse a presidente.
Oscorima admitiu que emprestou os relógios à Boluarte e foi convocado pelo MP para prestar esclarecimentos em 4 de abril e apresentar as joias. Ele, no entanto, não apresentou os relógios afirmando que ele não havia sido citado da forma devida nas investigações. Mais tarde, seu advogado entregou à Justiça peruana 3 relógios Rolex e uma pulseira.
O partido Peru Livre chegou a apresentar ao Congresso um pedido de destituição da presidente, mas a moção recebeu só 33 votos favoráveis e foi rejeitada no Legislativo. Para derrubar um presidente no Peru, o processo de impeachment precisa receber ao menos 87 votos favoráveis dos 130 congressistas.
Outro processo de impeachment apresentado contra Boluarte foi rejeitado pelo Congresso do país. O pedido de cassação do mandato de Dina Boluarte pretendia responsabilizar a mandatária pelas 72 mortes registradas durante os protestos que ocorreram no final de 2022 e início de 2023.
Posse de Boluarte
A atual presidente do Peru assumiu em dezembro de 2022, depois da tentativa de autogolpe por parte de Pedro Castillo. Ele enfrentava o 3º processo de impeachment e perdeu o cargo depois de ordenar a dissolução do congresso e convocar novas eleições. Castillo foi preso depois de deixar a presidência.
Ela enfrentou uma série de protestos no país, contrários à saída de Castillo. Movimentos populares defenderam a antecipação das eleições, mas o Congresso peruano decidiu rejeitar um projeto de lei que anteciparia a escolha de um novo presidente pelo voto popular para 2023.
Para combater os movimentos, a presidente emitiu um decreto que limitava as liberdades individuais e colocou a polícia na rua para reprimir os manifestantes. Ao menos 72 pessoas morreram nos atos. O mandato de Dina Boluarte é válido até 2026.
Edição: Rodrigo Durão Coelho