O Centro também investe na plantação de ervas medicinais e no consumo de Pancs
Uma pequena ilha verde resistindo na grande cidade. Este é o quintal do Centro Comunitário Vivendo e Aprendendo, que há 40 anos une a defesa da cultura popular com a agroecologia.
Nos anos 1980, o Centro começou como uma creche. Foi através dele que o bairro de Timbi, em Camaragibe, no Grande Recife (PE), também foi tomando forma e alcançando as primeiras conquistas. Todo mundo cresceu junto.
“A gente criou uma creche comunitária porque no município, porque não havia. E tínhamos um grupo de trabalhadoras que trabalhava fora para sobreviver, para manter as famílias e não tinha onde deixar os filhos”, recorda Vera Galvão, presidente da instituição.
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“Quando a gente veio morar aqui… Morar não, estabelecer a instituição, não tínhamos energia, não tinha água encanada, não tinha coleta de lixo, não tinha telefone, transporte, tudo isso foram conquistas através da mobilização popular. O centro sempre focou nessa história da educação, cultura e participação popular”, complementa.
Além da creche e das ações sociais, uma das atividades do Centro é cuidar de um roçado, erguido bem ali no quintal do espaço. No início, quem colocava a mão na terra era a própria criançada, que plantava de tudo um pouco. Hoje, um grupo de voluntários, com maioria de pessoas idosas, ajuda a manter viva a produção de acerola, macaxeira, berinjela, melão e outros produtos
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“A gente faz uma conexão com o fundamento principal da instituição, que é produzir, através da terra, alimentos saudáveis. O Centro também investe na plantação de ervas medicinais e no consumo de plantas não convencionais - as Pancs. É do quintal que saem produtos como xarope, sabonetes e até repelentes naturais”, destaca Galvão
A fotógrafa Rosália Alves participa do roçado como voluntária e destaca a importância de preservar os conhecimentos sobre as ervas medicinais
“Só fazemos o remédio com as ervas, entendeu? Os pesquisadores vão pesquisar, né? Eles pesquisam para fazer o remédio. Mas é das ervas que eles tiram. Eles não vão buscar no outro canto, mas na Amazônia, vão tirar uma casca de um pau, examinar. Só que a gente faz diferente, a gente faz o chá e toma”, explica.
Tudo o que as mulheres produzem na horta fica disponível na Budega Solidária, uma estante que fica instalada no Museu de Cultura Popular Vera Galvão. É neste espaço que o Centro une a cultura popular com as atividades agroecológicas.
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Dividido em duas salas, o Museu conserva a memória dos hábitos e costumes domésticos. Vera Galvão, idealizadora do espaço, saiu reunindo itens com amigos, pessoas conhecidas e doadores anônimos, para chegar no acervo que existe hoje.
“Então, se você dá uma olhadinha geral, você vai ver tudo que o ser humano era capaz de fazer. O poder criativo das pessoas. Tudo era feito à base da natureza, extraído da natureza e do cérebro humano”, reflete.
O mapa do espaço faz o visitante caminhar por todos os cômodos de uma casa típica do nordeste rural e antigo. É possível fazer uma verdadeira viagem no tempo revivendo utensílios que hoje já não são usados e redescobrir hábitos do passado.
No Centro, os cuidados com a terra e com a memória se unem em nome de um objetivo só. “Em meio a essa selva de pedra existe essa reserva ecológica aqui,né? E a gente cuida muito, a gente preserva muito, a gente quer que isso sirva de exemplo para outras famílias, outros quintais, outros municípios, que as pessoas se preocupem com o bem -estar, não só de si, mas do coletivo, e que faça valer a sabedoria popular”, acrescenta Galvão.
Edição: Douglas Matos