HISTÓRICO

Cresce o movimento por Palestina livre nas universidades dos Estados Unidos

A Universidade de Columbia, epicentro do movimento, afirmou que irá expulsar estudantes que ocuparam prédio na segunda

Brasil de Fato | Nova York (EUA) |
Governo e oposição acusam manifestantes de serem antissemitas; dentro das ocupações, no entanto, a realidade é outra - AFP

Só no último fim de semana, quase 300 manifestantes foram presos em universidades de leste a oeste nos Estados Unidos. Em todo o país, já são pelo mais de 60 campi ocupados.

Os estudantes protestam contra o massacre do povo palestino conduzido por Israel em na Faixa de Gaza. Eles também pedem um cessar-fogo imediato na região e o fim das relações das universidades com empresas que lucram com o conflito.

A Universidade de Columbia, em Nova York, é o epicentro do movimento. Por lá, uma ocupação começou em 17 de abril. No dia 18, 108 estudantes foram presos pela polícia, respondendo a um chamado da reitoria. No dia seguinte, eles estavam de volta.



Os portões da universidade foram fechados e apenas estudantes podem entrar, mas desde então, manifestantes vem demonstrando apoio do lado de fora. 

Na última segunda-feira (29), os estudantes ocuparam o edifício Hamilton Hall, que tinha sido palco de uma ocupação em 1968, contra a construção de um banheiro segregado em uma praça próxima à universidade e contra a guerra do Vietnã. Um porta voz da universidade afirmou que os estudantes que ocupam o prédio serão expulsos.

6 meses de manifestações

As ocupações das universidades são apenas mais um episódio nos meses de manifestações pelo país em solidariedade à Palestina.

Em resposta, o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou, em declaração oficial da Casa Branca, ver com preocupação o que chamou de “crescente antissemitismo nas universidades”.

Em uma manifestação em frente ao campus da Columbia, que está fechado para não estudantes, o comentário do presidente não agradou.

“Eu acho que Joe Biden vai continuar se isolando. Ele tem se tornado extremamente impopular neste país, entre seus próprios eleitores, especialmente entre a juventude que o vê pelo que ele é: um vendido, um fantoche e alguém que só está gerenciando os fomentadores das guerras na Casa Branca”, disse Gabriela Silva, manifestante filha de brasileiros, ao Brasil de Fato.

Ela afirmou ainda que “a única preocupação dele é defender os interesses dos EUA, então querem manter essa relação estratégica que têm com Israel. E isso vai sair caro”.

Gabriela se refere à eleição de novembro, na qual Biden disputa a reeleição contra Donald Trump, que aparece como favorito nas pesquisas. 

Verônica, uma chilena-americana que viver há anos em Nova York e que protestava em frente ao campus, concorda que Biden irá sofrer em novembro se não mudar de postura.

“O Joe Biden, eu acho, se esquece para quem trabalha”, afirmou Verônica, “eu acho que o dinheiro o deixou cego. Se esquece para quem trabalha. Mas ele vai mudar de ideia já já, porque estamos em ano de eleição e, se ele não ouvir o povo, vai perder a eleição. Simples”.

Antissemitismo?

As manifestações também se tornaram um prato cheio para a oposição. Na semana passada, o republicano Mike Johnson, presidente da Câmara dos Deputados, visitou Columbia e foi vaiado pelos estudantes.

“Como presidente da Câmara, eu estou me comprometendo hoje de que a Câmara não ficará em silêncio enquanto estudantes judeus precisam correr por suas vidas e ficar em casa, escondidos e com medo”, afirmou Johnson.

Na ocupação, no entanto, a realidade era outra. Dentre os estudantes que se manifestam, muitos são  judeus. No dia 22 de abril, data em que se inicia a celebração da páscoa judaica, eles se uniram em oração.

Erick, um jovem que está se manifestando cotidianamente em solidariedade aos estudantes de Columbia, do lado de fora da universidade, falou com o Brasil de Fato. A namorada dele é uma das ocupantes.

“Eu acho que nós precisamos separar a ideia de antissemitismo do antissionismo. São duas coisas distintas. Eu não sou antissemita, de forma alguma. Eu tenho muitos amigos judeus, minha namorada é judia e ela também é antissionista. Nós simplesmente não acreditamos no Estado de Israel e o fato de que eles estão cometendo um genocídio e um aparthaid contra o povo palestino”, disse o jovem.

Edição: Rodrigo Durão Coelho