Parcerias

Governo Lula busca criar quota de filmes brasileiros no mercado chinês em 2025

Delegação do governo e da indústria esteve na China, onde Brasil foi homenageado no Festival de Cinema de Pequim

Brasil de Fato | Pequim (China) |

Ouça o áudio:

O diretor brasileiro Carlos Saldanha (terceiro da esquerda para direita), um dos 7 membros do Comitê do Júri Internacional do Prêmio Tiantan, 18 de abril de 2024. - CGTN

Em homenagem ao Brasil, o Festival de Cinema de Pequim realizou a Semana Brasileira de Cinema. Uma delegação do governo e da indústria cinematográfica brasileira esteve em Pequim para participar do evento e dialogar com autoridades e representantes do setor na China. Além disso, o diretor brasileiro Carlos Saldanha foi um dos membros do júri do Tiantan, o prêmio desse festival. 

Um dos integrantes da delegação brasileira presente em Pequim foi o secretário-executivo adjunto do Ministério da Cultura (Minc), Cassius Rosa. Ele destacou que um dos objetivos da visita é o de ampliar o mercado da indústria cinematográfica brasileira. 

Segundo ele, o diálogo feito com os diferentes órgãos chineses visa que o Brasil tenha “a partir do próximo ano, uma quota de filmes nacionais vindo para a China”.

De acordo com a Administração Nacional de Cinema da China, até o ano passado o país possuía mais de 86 mil salas de cinema. O 14º Plano Quinquenal chinês estipulou como meta que até 2025 o país atinja a cifra de 100 mil salas.

“Além da participação no festival, temos como objetivo iniciar um importante diálogo com o governo chinês para que a gente possa entender um pouco mais como funciona a entrada dos filmes aqui nesse país”, explica Rosa. 

A mostra brasileira na décima quarta edição do Festival Internacional de Cinema de Pequim contou com quatro filmes: Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho, Marte Um, de Gabriel Martins, Que Horas Ela Volta, de Anna Muylaert, e a animação Uma História de Amor e Fúria de Luiz Bolognesi.

 A Semana Brasileira de Cinema abriu oficialmente com o documentário de Kleber Mendonça, que utiliza imagens de arquivo do centro de Recife e fala sobre a cidade e suas mudanças, incluindo o abandono e desaparecimento de salas de cinema. 

A diretora de Preservação e Difusão Audiovisual do Minc, Daniela Fernandes, também integrou a delegação. Ela explica que existe com a China um acordo de coprodução cinematográfica iniciado em 2017. No ano passado, a ministra Margareth Menezes, assinou outro acordo com a contraparte chinesa de coprodução que envolve televisão e outros conteúdos audiovisuais. 

“Esses dois estão caminhando juntos agora para serem ratificados pelo Congresso e isso vai possibilitar de uma maneira bem objetiva que a gente amplie as coproduções aqui entre o Brasil e China”, afirma Fernandes.

Os filmes coproduzidos por empresas brasileiras e chinesas terão tratamento nacional em ambos os países, e poderão acessar seus mecanismos de financiamento público países.

Como parte dos avanços nessa visita, foi assinado um memorando de cooperação entre o Festival Internacional de Cinema de Pequim e o Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro que deverá incentivar visitas mútuas, promover trocas e estabelecer um mecanismo de recomendação de filmes entre os dois eventos.

“Deveríamos explorar mais”

A abertura da Semana Brasileira de Cinema contou com uma sala cheia de jovens chineses. O estudante Yi Li encontrou semelhanças entre Retratos Fantasmas e um documentário chinês que falava sobre as mudanças em uma casa de shows nas últimas décadas. 

“Achei uma forma muito afortunada de preservar esse período da história, isso é muito precioso, especialmente com esse olhar do presente para o passado. Acho que a era do rock e dos cinemas foi uma época de ouro, insubstituível. Talvez esse momento, que vai dos anos 1970 aos anos 2000, tenha sido um período extremamente valioso. Estou muito grato e honrado por ter podido ver esse filme”, disse Yi Li.

“Tenho procurado ver filmes de diferentes países porque acredito que não deveríamos depender apenas de alguns grandes países e da narrativa padrão dos seus filmes para moldar os nossos valores”, disse a também estudante Zhu Rui. 

“Deveríamos explorar mais. Por exemplo, recentemente tenho visto mais filmes do Irã ou de países menores. Sinto que isso oferece uma perspectiva mais diversificada e é uma maneira melhor de compreendermos o mundo”, completou. 

Xu Xinwanru, outra estudante chinesa presente na abertura do evento diz que a “América Latina é a parte do mundo que está realmente mais distante da China”. “Então, esta é uma ótima maneira, através do cinema, dos filmes, de ter a oportunidade de ter um olhar sobre como é a cultura brasileira e como são as culturas latino-americanas, portanto, eu definitivamente vou assistir mais filmes sobre essa parte do mundo, para entender como é”, concluiu. 

“ A gente acredita nessa aproximação através da arte de uma maneira geral e do cinema em específico, não só para poder conhecer e intercambiar, mas para aprofundar mesmo as relações entre as sociedades e suas experiências”, diz Daniela Fernandes.

Edição: Rodrigo Durão Coelho