Em homenagem ao Brasil, o Festival de Cinema de Pequim realizou a Semana Brasileira de Cinema. Uma delegação do governo e da indústria cinematográfica brasileira esteve em Pequim para participar do evento e dialogar com autoridades e representantes do setor na China. Além disso, o diretor brasileiro Carlos Saldanha foi um dos membros do júri do Tiantan, o prêmio desse festival.
Um dos integrantes da delegação brasileira presente em Pequim foi o secretário-executivo adjunto do Ministério da Cultura (Minc), Cassius Rosa. Ele destacou que um dos objetivos da visita é o de ampliar o mercado da indústria cinematográfica brasileira.
Segundo ele, o diálogo feito com os diferentes órgãos chineses visa que o Brasil tenha “a partir do próximo ano, uma quota de filmes nacionais vindo para a China”.
De acordo com a Administração Nacional de Cinema da China, até o ano passado o país possuía mais de 86 mil salas de cinema. O 14º Plano Quinquenal chinês estipulou como meta que até 2025 o país atinja a cifra de 100 mil salas.
“Além da participação no festival, temos como objetivo iniciar um importante diálogo com o governo chinês para que a gente possa entender um pouco mais como funciona a entrada dos filmes aqui nesse país”, explica Rosa.
A mostra brasileira na décima quarta edição do Festival Internacional de Cinema de Pequim contou com quatro filmes: Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho, Marte Um, de Gabriel Martins, Que Horas Ela Volta, de Anna Muylaert, e a animação Uma História de Amor e Fúria de Luiz Bolognesi.
A Semana Brasileira de Cinema abriu oficialmente com o documentário de Kleber Mendonça, que utiliza imagens de arquivo do centro de Recife e fala sobre a cidade e suas mudanças, incluindo o abandono e desaparecimento de salas de cinema.
A diretora de Preservação e Difusão Audiovisual do Minc, Daniela Fernandes, também integrou a delegação. Ela explica que existe com a China um acordo de coprodução cinematográfica iniciado em 2017. No ano passado, a ministra Margareth Menezes, assinou outro acordo com a contraparte chinesa de coprodução que envolve televisão e outros conteúdos audiovisuais.
“Esses dois estão caminhando juntos agora para serem ratificados pelo Congresso e isso vai possibilitar de uma maneira bem objetiva que a gente amplie as coproduções aqui entre o Brasil e China”, afirma Fernandes.
Os filmes coproduzidos por empresas brasileiras e chinesas terão tratamento nacional em ambos os países, e poderão acessar seus mecanismos de financiamento público países.
Como parte dos avanços nessa visita, foi assinado um memorando de cooperação entre o Festival Internacional de Cinema de Pequim e o Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro que deverá incentivar visitas mútuas, promover trocas e estabelecer um mecanismo de recomendação de filmes entre os dois eventos.
“Deveríamos explorar mais”
A abertura da Semana Brasileira de Cinema contou com uma sala cheia de jovens chineses. O estudante Yi Li encontrou semelhanças entre Retratos Fantasmas e um documentário chinês que falava sobre as mudanças em uma casa de shows nas últimas décadas.
“Achei uma forma muito afortunada de preservar esse período da história, isso é muito precioso, especialmente com esse olhar do presente para o passado. Acho que a era do rock e dos cinemas foi uma época de ouro, insubstituível. Talvez esse momento, que vai dos anos 1970 aos anos 2000, tenha sido um período extremamente valioso. Estou muito grato e honrado por ter podido ver esse filme”, disse Yi Li.
“Tenho procurado ver filmes de diferentes países porque acredito que não deveríamos depender apenas de alguns grandes países e da narrativa padrão dos seus filmes para moldar os nossos valores”, disse a também estudante Zhu Rui.
“Deveríamos explorar mais. Por exemplo, recentemente tenho visto mais filmes do Irã ou de países menores. Sinto que isso oferece uma perspectiva mais diversificada e é uma maneira melhor de compreendermos o mundo”, completou.
Xu Xinwanru, outra estudante chinesa presente na abertura do evento diz que a “América Latina é a parte do mundo que está realmente mais distante da China”. “Então, esta é uma ótima maneira, através do cinema, dos filmes, de ter a oportunidade de ter um olhar sobre como é a cultura brasileira e como são as culturas latino-americanas, portanto, eu definitivamente vou assistir mais filmes sobre essa parte do mundo, para entender como é”, concluiu.
“ A gente acredita nessa aproximação através da arte de uma maneira geral e do cinema em específico, não só para poder conhecer e intercambiar, mas para aprofundar mesmo as relações entre as sociedades e suas experiências”, diz Daniela Fernandes.
Edição: Rodrigo Durão Coelho