O direitista José Raúl Mulino resultou vencedor nas eleições gerais do Panamá ocorridas neste domingo (5).
Obtendo mais de 34,4% dos votos, o advogado candidato da aliança Salvar Panamá será o próximo presidente da República para o período de 2024 a 2029. Como previam as pesquisas de opinião, Mulino obteve uma vitória confortável com uma vantagem de 10% sobre a segunda força, o Movimiento Otro Camino (Moca), liderado por Ricardo Lombana.
Com a participação de 77,5% do eleitorado, esta foi a maior participação eleitoral dos últimos 20 anos. Além de eleger o novo presidente e vice-presidente, a eleição foi um megaevento em que os panamenhos também elegeram 20 deputados para o Parlamento Centro-Americano (Parlacen), 71 deputados para a Assembleia Nacional (AN), 81 prefeitos, entre outros cargos legislativos.
Apesar da vitória contundente de Mulino, o executivo panamenho terá de enfrentar uma Assembleia Nacional, órgão legislativo unicameral, muito fragmentado, no qual não terá sua própria maioria. Obrigando-o a negociar com o restante dos sete representantes parlamentares.
No momento em que os resultados mostraram uma tendência irreversível, Mulino pronunciou um discurso para vários milhares de seus partidários, no qual exclamou: "Aqui estamos porque chegamos com o voto majoritário do povo panamenho, doa a quem doer".
O novo chefe de Estado garantiu que voltaria aos "bons tempos" da administração de Ricardo Martinelli (2009-2014). "O Panamá voltará a brilhar economicamente como fizemos durante o governo de Martinelli", foi um dos slogans políticos mais repetidos por Mulino durante sua campanha.
Carambolas e tensões
A chegada de José Raúl Mulino ao Palacio de las Garzas - a sede da Presidência da República - ocorre em meio a uma polêmica política. Até alguns meses atrás, o nome de José Raúl Mulino era um dos nomes que o ex-presidente Ricardo Martinelli estava considerando para se juntar a ele em sua chapa presidencial em sua candidatura pelo partido Realizando Metas.
Mulino foi Ministro da Segurança durante a presidência de Ricardo Martinelli (2009-2014), sendo responsável por séria repressão a protestos populares - como o de Bocas del Toro, em 2010, em que a polícia matou os líderes sindicais Antonio Smith e Virgilio Castillo - função pela qual foi denunciado pelo crime de abuso de autoridade.
A candidatura de José Raúl Mulino sofreu uma virada inesperada em março, quando o Tribunal Eleitoral (TE) decidiu desqualificar Martinelli depois que ele foi condenado a mais de dez anos de prisão por lavagem de dinheiro. Essa decisão colocou a própria candidatura de Mulino em risco, pois ele estava concorrendo à presidência com uma lista incompleta de candidatos e sem ter sido eleito por eleições internas do partido, conforme estipulado pela lei eleitoral.
Foi apenas na última sexta-feira (3), após semanas de suspense e tensão política, que a Suprema Corte de Justiça aprovou a candidatura de Molino. Situação inédita, já que Murilo não tem candidato a vice-presidente.
No próprio domingo de eleição, em um evento de campanha polêmico, a equipe de campanha de Mulino divulgou um vídeo curto que o mostra visitando Martinelli na Embaixada da Nicarágua na capital panamenha, onde o ex-presidente está asilado desde fevereiro para evitar a ordem de prisão contra ele.
Desafios
O Panamá enfrenta uma situação econômica e política complexa. Entre as principais preocupações da população estão a economia e a corrupção.
Nos últimos 8 anos, o poder de compra dos trabalhadores caiu 10%. O desemprego está em torno de 9%, enquanto 45% dos trabalhadores trabalham no setor informal. A situação é ainda mais grave nas áreas rurais, onde um terço da população rural vive abaixo da linha da pobreza.
A difícil situação econômica é agravada pela crise provocada pela seca. Um problema que tem impacto sobre a operação do Canal do Panamá - a principal fonte econômica do país, por onde passam ao menos 4% do comércio marítimo mundial.
As duras condições de vida dos trabalhadores contrastam com a opulência dos setores mais ricos do país. O Panamá é classificado pelo Banco Mundial como o quarto país mais desigual do mundo.
A desigualdade e as condições de vida cada vez mais caras levaram ao maior ciclo de protestos desde a resistência à invasão dos EUA em 1989. A tensão social atingiu seu pico no final do ano passado, quando a extensão do contrato da empresa de mineração canadense First Quantum Minerals provocou uma onda de protestos. Isso levou ao cancelamento do acordo e ao fechamento definitivo da mina de cobre Minera Panamá.
O próximo presidente terá que lidar com questões fiscais, ambientais e de migração. Uma das grandes questões será se José Raúl Mulino perdoará Martinelli. O que poderia levar a um conflito de poderes.
Edição: Rodrigo Durão Coelho