Dois mil e quinhentos catadores de resíduos recicláveis perderam seu sustento com as cheias na Região Metropolitana de Porto Alegre e do Vale do Rio dos Sinos. Destes 1,5 mil são trabalhadores individuais - moradores principalmente das ilhas do Guaíba e da zona Norte da Capital - que cumprem sua tarefa nas ruas, enquanto cerca de mil são cooperativados, atuando nas unidades de reciclagem.
"Dezenove cooperativas estão debaixo d'água. Seis delas em Porto Alegre, cinco em Canoas, outras cinco em São Leopoldo, mais uma em Guaíba e outra em Novo Hamburgo", enumera Alexandro Cardoso, integrante da coordenação do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR).
Já era difícil e ficou pior
Além das cooperativas inundadas, Cardoso, que é também antropólogo e pesquisador da UFRGS, relata outro problema. "Outras não foram inundadas, mas tiveram que parar seu serviço pelo fato dos caminhões (de coleta) não conseguirem chegar lá."
Ele lembra que o quadro enfrentado pelos recicladores já era bem complicado antes da enchente. "A situação era difícil antes mesmo de acontecer essa catástrofe ambiental. Já se vivia com a queda de preços dos materiais, a quebra de contratos e o não pagamento por parte da prefeitura de Porto Alegre." A renda média dos catadores se resume a R$ 800 mensais.
"Tudo muito difícil e ainda não conseguimos levantar os custos para comprar os equipamentos (avariados) e levantar as cooperativas", acentua.
"A gente é invisibilizado"
Tudo se agrava ainda mais por uma condição particular dos catadores. "A gente é invisibilizado", diz. E a invisibilidade leva a outro temor: o que o governo estadual e a prefeitura de Porto Alegre vão apresentar de projetos para a reconstrução da cidade e do estado. "Nossa preocupação é não estarmos incluídos. Os dois governos não nos procuraram", lamenta.
"Fazemos um trabalho extremamente importante que é a reciclagem, um dos pilares do controle do efeito estufa e de proteção da natureza", argumenta. "Temos ainda a preocupação que cada companheiro receba o valor que tem a receber e também as cestas básicas, inclusive para quem não foi atingido pelas cheias mas teve a perda momentânea do trabalho", ressalta.
Campanhas nacional e internacional
De forma emergencial, a Associação Nacional dos Catadores (Ancat), o MNCR e a União Nacional de Catadores e Catadoras de Material Reciclável (Unicatadores) lançaram uma campanha de solidariedade aos trabalhadores do setor de reciclagem do Rio Grande do Sul. As doações estão sendo feitas através da chave Pix [email protected]. Segundo os organizadores, todos os valores serão destinados para fornecer apoio emergencial aos trabalhadores e suas famílias afetados pelas chuvas.
Foi também lançada uma campanha internacional. Nela, os donativos são feitos em dólar norte-americano. Para doar, os dados bancários são os seguintes: Intermediate bank (field 56): Account with: Jpmorgan Chase Bank. Swift Code: CHASUS33. Beneficiary bank (field 57): In favor of Itaú Unibanco S.A. Swift Code: ITAUBRSP. Final beneficiary (field 59): For further credit to: ASSOC NAC DOS CATADORES E CATADOR DE MAT RECICLAVE. Branch number / Account number: 0251 / 0099510- 6. IBAN: BR6360701190002510000995106C1. Tax ID 03580632000160
As trabalhadoras das UTS precisam de ajuda
Também as trabalhadoras com reciclagem de Porto Alegre organizaram uma campanha de arrecadação. Estão recebendo colaborações em dinheiro via Pix ou de alimentos não perecíveis.
O valor arrecadado é destinado à compra de cestas básicas, produtos de higiene e limpeza e equipamentos de proteção individual (EPis) para famílias de catadoras que atuam nas Unidades de Triagem da Capital.
Quem está à frente da campanha é o Centro de Educação Ambiental - Vila Pinto e um comitê do grupo de resíduos do POA Inquieta, com o apoio das entidades Mulheres Phodásticas, Fórum de Catadores de Porto Alegre, Agência Compromisso, Mãos que Reciclam e Apoena Socioambiental/ Coleta Seletiva Viva Poa.
Para doações em dinheiro (Pix): [email protected]. Para depósito bancário: Centro Marli Medeiros. Banrisul. Agência: 0027. C.C.: 06.855515.8-7. Para doações presenciais de cestas básicas e água: Centro de Educação Ambiental (CEA): rua T, 143, bairro Jardim do Salso (Contato com Paula Medeiros através do telefone (51) 985.002.474).
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira