EMERGÊNCIA CLIMÁTICA

Quase mil escolas foram atingidas de alguma forma pela enchente em 239 municípios gaúchos

O CPERS-Sindicato defende um amplo debate para a retomada das aulas e também está engajado em ações de solidariedade

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Conforme o último boletim oficial do governo do estado, 438 escolas foram danificadas ou destruídas e 74 delas vêm servindo de abrigo para pessoas que perderam suas casas - Foto: Divulgação CPERS

Números alarmantes revelam a extensão dos danos causados às escolas diante da maior tragédia climática que assolou o Rio Grande do Sul. Conforme o último boletim oficial sobre a infraestrutura do governo do estado, o Rio Grande do Sul teve 975 escolas atingidas de alguma forma pela enchente em 239 municípios. Foram impactados 356.948 estudantes. Mais de 183 mil deles tiveram suas 438 escolas danificadas ou destruídas e 74 delas vêm servindo de abrigo para pessoas que perderam suas casas.

O quadro se agrava ao constatar que mais de 330 mil alunas e alunos estão sem previsão de retorno às salas de aula em todo o estado. 

O antigo Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul, atualmente CPERS-Sindicato, que representa cerca de 80 mil professores(as), funcionários(as) de escola e especialistas da rede estadual do estado, está profundamente empenhado em minorar o sofrimento das pessoas atingidas pela maior enchente da história do estado.

“A Direção Estadual, todos os núcleos, diversos funcionários e muitos sócios estão desenvolvendo ações. Além daquelas realizadas direta e espontaneamente nas escolas”, a Informação é do 1º vice-presidente da entidade, Alex Saratt.

A presidente do CPERS-Sindicato, Helenir Aguiar Schürer, por sua vez informou que todos estão engajados na defesa das pessoas e da vida. “Nós estamos ajudando as cozinhas comunitárias, doando colchões e cobertores para abrigos e levando alimentação para esses abrigos também, como material de higiene e limpeza”, contou ela.


Mais de 330 mil alunas e alunos estão sem previsão de retorno às salas de aula em todo o estado / Foto: Divulgação CPERS-Sindicato

Helenir disse também que não sabem o número de professores e funcionários que foram atingidos pelas cheias. Ela contou que os núcleos farão esse levantamento a partir de segunda-feira (13). Segundo ela, os estoques de alimentos para a merenda escolar que estavam nas escolas que não foram atingidas e estão abrigando pessoas foram distribuídos para a comunidade escolar. "Não temos contabilizados, ainda, esses números”, afirmou.

Para a volta às aulas, as escolas que estão abrigando pessoas deverão ser orientadas pela Secretaria de Educação (Seduc). Sobre a resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE), voltada a orientar sistemas de ensino para retomada segura das aulas, em razão do estado de calamidade, Helenir disse esperar que seja flexibilizado. “A solidariedade, a humanidade exigem isso” disse.

Já Saratt comentou que “o parecer do CNE é importante para orientar o debate, rumos e ações. É preciso desdobrá-lo e adaptá-lo às condições reais e específicas. O Conselho Estadual de Educação (CEEd) deve aprovar na semana que vem suas indicações. É preciso garantir que a sociedade civil e entidades realmente representativas da educação estejam participando das discussões e decisões”, opinou.

O CNE, em articulação com o MEC, considera necessária a flexibilização de regras e procedimentos educacionais, visando mitigar os efeitos maléficos sobre os estudantes e toda a comunidade escolar gaúcha. O objetivo é criar condições para que as redes de ensino estadual e municipais e as instituições de educação superior sediadas no RS reorganizem os calendários escolares, em um cenário gradual de volta à normalidade institucional e à possibilidade de continuidade do período letivo, a partir da utilização de novas tecnologias digitais de informação e comunicação.   

Para o retorno as atividades o CPERS-Sindicato entende que a resolução desse problema envolve o governo do estado, em especial a Seduc. “Nossa preocupação é com o retorno em amplo aspecto, não bastam apenas estruturas físicas abertas, é preciso que deem condições estruturais, tenham abordagem pedagógica correspondente e que se considere qual o rescaldo da catástrofe na vida das pessoas, afinal muitas perderam tudo, inclusive familiares e casas”, justifica Saratt.

Os dirigentes da entidade dos professores estaduais concordam que a situação merece avaliação profunda, coletiva. “Faremos isso tão logo possamos convocar nosso Conselho Geral. De momento, além da retomada da vida das pessoas - especialmente dos educandos e suas famílias - e da reconstrução material, urge pensar pedagogicamente as condições de trabalho, relações humanas e de ensino-aprendizagem, com ênfase no acolhimento e cuidado afetivo das crianças, adolescentes, jovens e adultos e também de seus profissionais da educação”, acrescentou Saratt.

Por sua vez, a secretária-geral Suzana Lauerman afirmou que "o parecer do CNE ainda precisa ser avaliado com mais cuidado, pois sempre nos preocupamos com a forma como o estado irá se posicionar e isso só irá ocorrer na próxima semana. Nós seguiremos defendendo a gestão democrática e o direito de cada escola se organizar da melhor forma possível".

Helenir fez um apelo forte: “Só peço que quem puder ajudar, seja solidário e devemos, posteriormente, exigir respeito ao meio ambiente e que o governo apresente um projeto para que essa catástrofe seja esquecida no passado. Se nada for feito, talvez em setembro, novembro estejamos vivenciando tudo isso novamente e mais catastrófico”.

O que foi corroborado por seu vice: “Sigamos unidos e fortes para dar conta das urgências e necessidades do povo gaúcho, fortalecendo laços de solidariedade e empatia, sem deixar de analisar criticamente as razões e os responsáveis por essa verdadeira catástrofe político-ambiental”.

O sindicato, para conseguir ajudar, tem coletado doações através das contas PIX das entidades CNTE e CUT e disponibilizado pessoal, sedes e automóveis para trabalho, alojamento e transporte de donativos.


Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko