Solidariedade

Com poucas roupas de frio, abrigados do RS relatam sofrimento por causa das baixas temperaturas

Brasil de Fato visitou dois pontos de acolhimentos no Sarandi, bairro mais atingido da capital gaúcha

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
De acordo com a prefeitura de Porto Alegre, mais de 26 mil pessoas foram afetadas no Sarandi - Foto: Carlos Messalla

Desde o início de maio, quando ás aguas do Guaíba chegaram até às ruas de Porto Alegre, 46 dos 96 bairros da capital foram afetados pela enchente, impactando cerca de 157 mil pessoas. Dessas, mais de 13 mil estão nos 154 abrigos temporários e, com a chegada do frio, enfrentam a necessidade de doações de agasalhos.

O bairro mais impactado com a enchente da capital é o Sarandi, na zona Norte, onde mais de 26 mil pessoas foram afetadas. Esse e outros dados estão no painel informativo desenvolvido pela prefeitura de Porto Alegre, divulgado nesta segunda-feira (13). Lá, depois de apresentar um recuo no final de semana, o nível da água voltou a subir nesta terça-feira (14).

Em meio à situação, pontos de acolhimento estão funcionando como base de apoio aos atingidos pelos alagamentos, como os QGs onde atuam as voluntárias Karen Passos e Marisa Santana. Com a chegada do frio ao estado, uma questão se repete nos espaços: a necessidade de roupas quentes como meias, calças, casacos e moletons, pois muitos acolhidos saíram só com a roupa do corpo.

"Toda doação é o povo que está trazendo"

Na avenida Assis Brasil, no clube Rota 79, foi montado o QG Gazebo Azul, que tem como uma das coordendoras a voluntária Marisa Santana. É dali que acontece as saídas para resgate e atendimento de quem chega da água. 

"Estamos aqui há dez dias já, auxiliando os voluntários e auxiliando as pessoas que estão saindo dá agua, os pets. Estamos aqui com alimentação, com doações e arrecadações também", conta Marisa. 

Segundo ela, a equipe é boa e estruturada. A maior necessidade é doação, pois a demanda está aumentando cada vez mais. "Estamos precisando de produtos de higiene e alimentação. A gente tem uma logística boa aqui. É só fazer a volta, a gente pega a doação, não precisa parar o carro se tiver com medo da água, não tem problema nenhum."


Voluntários separam roupas doadas / Foto: Carlos Messalla

Marisa conta que o QG não recebeu roupas de frio da Defesa Civil. Para isso, é necessário um cadastro. "Tentamos fazer isso, só que é uma burocracia muito grande, não conseguimos ainda nos cadastrar. Toda doação que eu estou tendo aqui dentro do pavilhão é do povo. São as pessoas que estão se comovendo e trazendo. Coberta é o povo, travesseiro é o povo. Com frio vindo, são pouquíssimas doações de cobertor e travesseiro, coberta, roupa quentinha, meias. A gente não tem meias e a gente precisa aquecer os pés das pessoas", expõe. 

Próximo ao QG Gazebo Azul, funciona outro posto de acolhimento, organizado por Karen e Caroline Passos, mãe e filha. O local fica na rua Ulisses de Alencastro Brandão, 513. O trabalho, segundo Karen, começou há uma semana com produtos alimentícios e água, itens mais urgentes no início.

"A gente continuou vendo a necessidade das pessoas e recebendo e pedindo ajuda para montar esses kits de higiene. Primeiro momento com fraldas geriátricas, infantis, e o básico para o primeiro socorro", relata.

Ela conta que o local começou a receber muitas roupas de verão e que agora a necessidade é por mais quentes. "Precisamos muito de roupa masculina, infantil, calçado, tênis, bota, tudo enfim que a gente puder receber para poder auxiliar, porque tem muita procura."


Grande parte das doações são feitas por cidadãos / Foto: Carlos Messalla

Ao ser indagada sobre a questão da água nas ruas, tanto Karen e Marisa comentam que apesar da oscilação, é preciso cautela. "Teve muita fake news que a água estava abaixando e as pessoas voltaram para os locais. Aí acabaram voltando destruídos lá de dentro, porque não deu para entrar nas casas. A água voltou a subir novamente. A Defesa Civil está aqui com a gente, alertando o pessoal que não volte para as suas casas", destaca Marisa. 

Karen complementa dizendo para as pessoas se manterem firmes, tanto os voluntários como a população necessitada. "Essa situação ainda vai durar um bom tempo, e o inverno vem. A gente tem que pensar nisso. Quem perdeu tudo não tem nada, então o pouco que cada um puder colaborar vai fazer muita diferença."

Cheia de longa duração em Porto Alegre

De acordo com a Metsul Meteorologia, as inundações na cidade de Porto Alegre, embora gradualmente menores, vão seguir ainda por muito tempo, possivelmente se estendendo até o começo de junho. A razão é simples: o nível do Guaíba alto. Às 15h desta quarta-feira (15), o nível marcava 5,19 metros, superando a cota de cheia em 3,19 metros e a cota de transbordamento em 2,19 metros.

Conforme aponta o último relatório do Instituto de Pesquisa Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os cenários de previsão indicam estabilização em nível elevado acima dos 5 metros após o repique. O relatório indica recessão lenta nos próximos dias ficando acima de 4 metros durante a semana.

"A duração da recessão com níveis elevados poderá ser prolongada a depender do volume de futuras chuvas. A principal preocupação do momento é como será a descida e duração em níveis elevados em função de possíveis chuvas e efeito do vento", prevê o IPH.

Ainda segundo o instituto, considerando a elevada duração prevista, recomenda-se atenção especial à população afetada e ações imediatas para restabelecimento de infraestruturas e manutenção de serviços essenciais, como o saneamento básico.

Situação no estado 

De acordo com o boletim da Defesa Civil gaúcha divulgado ao meio-dia desta quarta-feira (15), dos 497 municípios gaúchos, 449 já foram impactados pela crise climática, afetando mais de 2,1 milhões de pessoas. Estão desalojadas mais de 538 mil pessoas. O estado registra 149 óbitos, 108 pessoas estão desaparecidos e 806 feridas. Foram resgatados 11.427 animais. 

Há diversos locais recebendo doações agasalhos. Eles podem ser entregues nos endereços citados abaixo ou em qualquer outro ponto de apoio próximo de você.

Shopping João Pessoa
Endereço: Av. João Pessoa, 1.831

Palácio da Polícia - das 8h30 às 18h
Endereço: Av. João Pessoa, 2.050

Afro-Sul Odomodê
Endereço: Avenida Ipiranga, 3850

CTG 35
Endereço: Avenida Ipiranga, 5.300

Depósito da Defesa Civil Mun.- das 9h às 18h
Rua La Plata, 693

GRESBCES Filhos de Maria
Endereço: R. Carol, 128

Coletivo Mães da Periferia / Pai Xangô
Endereço: Av. Mãe Apolinária Matias Batista, 60  

Shopping Iguatemi
Endereço: Av. João Wallig, 1.800

Clube Farrapos
Endereço: Rua Prof. Cristiano Fischer, 1331

Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP/RS) - das 9h às 18h
Endereço: Rua Santana, 440

Geraldo Santana
Endereço: Rua Luiz De Camões, 337

Complexo Esportivo da Vovó
Endereço: Estrada Martim Félix Berta, s/n

21 BPM
Endereço: Rua Gov. Peracchi Barcellos, 4600 

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Marcelo Ferreira