AGROECOLOGIA

Colheita coletiva de arroz aumenta produção de assentamentos maranhenses

Em contraponto à monocultura de soja, territórios do MST produzem mais de 10 toneladas de arroz agroecológico no estado

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Produção coletiva de arroz agroecológico nos assentamentos do Movimento Sem Terra no Maranhão é contraponto à monocultura do agronegócio no estado - MST
Estamos voltando ao tempo do trabalho coletivo nas roças e isso para a gente é muito gratificante

O Maranhão já foi um dos maiores produtores de arroz do país, mas com áreas invadidas por monoculturas e veneno, viu a produção ameaçada.

Se de um lado o estado tem índices alarmantes de cultivo de monoculturas de eucalipto, soja e milho para exportação, de outro, assentamentos do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) resistem e investem na produção de alimentos agroecológicos, com a retomada de roças e colheitas coletivas.

É o caso do arroz agroecológico do MST no Maranhão, cuja produção está crescendo. “Estamos muito orgulhosos desse momento, esse momento histórico para o MST em seus 40 anos, iniciando a colheita de arroz e graças, deu tudo certo, o arroz está no ponto de colheita. E ainda mais histórico é que estamos voltando ao tempo de trabalho coletivo, de colheita coletiva nas roças e isso para a gente é muito gratificante”, afirma José Wanderlei Silva, agricultor e presidente da Cooperativa de Produção Agropecuária dos Produtores da Microrregião da Baixada Maranhense (Coopervid).

Praticamente todo o estado produz arroz, mas hoje se destacam especialmente os assentamentos da baixada maranhense, próximo de São Luís, como o Cristina Alves, o Belém e o Diamante Negro Jutaí.

“A agricultura familiar tem ao longo da sua existência o arroz como um produto essencial na mesa dos agricultores, por isso nunca deixou de produzir, através da roça no toco, da enxada, a foice e o facão como nossas ferramentas de trabalho inicialmente”, explica Alzerina Montello, da direção nacional do MST. 

Ela reforça ainda que o movimento tem insistido no diálogo com os governos e parceiros, para que as famílias assentadas da reforma agrária tenham acesso ao crédito e aos meios de produção a partir dos equipamentos tecnológicos

Um exemplo do avanço da produção do MST no estado é a colheita coletiva do Assentamento Diamante Negro Jutaí, no município de Igarapé do Meio, que envolve mais de 15 famílias e tem expectativa de colher mais de 80 toneladas de arroz, com expectativa de duplicar a produção na próxima safra, graças ao trabalho coletivo. 

“Esse trabalho coletivo é mérito da comunidade, que entendeu a necessidade de trabalhar uma produção com volume maior, entendeu a importância da experiência que já se tinha de cultivo de arroz nos anos anteriores”, explica Simião Maranhão, trabalhador rural do assentamento Diamante Negro Jutaí.

Segundo ele, cada vez mais famílias têm aderido à produção, a partir das boas colheitas dos últimos anos e de parcerias que vêm sido firmadas. “Por isso eu acredito que isso aqui é uma situação de bom exemplo e, na próxima safra, nos próximos anos, eu acredito que a gente vai inclusive aumentar a quantidade de área trabalhada, porque vários outros agricultores estão vendo isso aqui como uma alavanca que está chegando, ou que já chegou de incentivo aos demais companheiros”.

As famílias têm ainda o acompanhamento técnico de agrônomos assentados e formados pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, o Pronera. “Estamos hoje na colheita coletiva com os companheiros e esperamos uma produtividade de 80 toneladas do total das roças e essa é uma das culturas que estamos trabalhando. Mas trabalhamos também com mandioca, feijão, abóboras e outro mais”, comenta Lucas Machado, assentado e agrônomo.

A produção abastece o Armazém do Campo de São Luís, as feiras livres das cidades próximas, além de garantir acesso a programas de bancos de alimentos como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Para potencializar a produção, elas têm adquirido equipamentos para uso coletivo e recebeu, em abril, duas colheitadeiras mecanizadas, por meio de uma cooperação internacional entre Brasil e a Universidade Agrária da China para o desenvolvimento agrícola do Nordeste.
 

Edição: Marina Duarte de Souza