O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) anunciou, nesta quinta-feira (16), que o VII Congresso Nacional do Movimento, que aconteceria em julho deste ano em Brasília (DF), será realizado em julho de 2025. O adiamento foi decidido em solidariedade ao povo do Rio Grande do Sul, que enfrenta as maiores enchentes já registradas no estado.
Ao informar o adiamento, o MST reafirmou a solidariedade "como alicerce para a resistência e a luta". O movimento destacou o adiamento como "uma reafirmação do compromisso de estar ao lado daqueles que mais precisam".
As ações solidárias em prol do povo gaúcho, como a oferta de refeições preparadas em cozinhas solidárias e a arrecadação de fundos em prol de pessoas atingidas, serão reforçadas pelo movimento nos próximos dias e semanas.
"Em tempos de adversidade, a solidariedade se transforma em ação concreta, e o MST se une à sociedade para exigir políticas públicas efetivas e iniciativas governamentais que atendam às necessidades urgentes da população atingida", destacou o movimento, em nota.
A confirmação da mudança da data foi acompanhada de uma carta do movimento, que pode ser lida na íntegra abaixo:
CARTA DO MST SOBRE O ADIAMENTO DO SEU VII CONGRESSO NACIONAL
Guararema/SP, 16 de Maio de 2024
Aprendemos ao longo de nossos 40 anos que a solidariedade é a ternura dos povos, um princípio revolucionário e um valor humano. Reconhecemos que nossa existência e resistência é fruto da solidariedade dos povos do mundo. Nesses tempos de violência e degradação da vida, se faz necessário colocar a solidariedade na centralidade da nossa ação política. Assim, neste momento de dor e luto pelo qual passa o povo do Rio Grande do Sul, o MST define por adiar o seu VII Congresso Nacional para julho de 2025.
Dedicaremos nossas forças e o melhor que construímos ao longo de nossa história para contribuir nesta reconstrução, acolhendo e cuidando do povo. Oferecendo nosso trabalho solidário, nosso melhor alimento, nossa militância, organização e o nosso melhor abraço. Todo nosso afeto para reconstrução das humanidades e dos sonhos interrompidos.
Seguiremos somando forças nas ações de solidariedade junto à sociedade, reivindicando políticas públicas e inciativas do governo federal, na reconstrução das nossas moradias, espaços culturais, educativos, produtivos, cooperados e de cuidado de nossos territórios. Como ação concreta, o MST, a nível nacional, organizará brigadas de apoio nas diferentes áreas para reconstruir uma nova memória, história e condições estruturais dignas de existência para as famílias atingidas. Nos manteremos juntos, de mãos dadas, com o conjunto da classe trabalhadora do campo e da cidade que mais está sentindo os impactos da crise ambiental, expressa nesta catástrofe que atinge o estado do Rio Grande do Sul desde o final de abril.
Essa catástrofe é uma tragédia anunciada. Estudos científicos apontam há décadas o aceleramento e intensificação dos eventos climáticos extremos, decorrentes do modelo de desenvolvimento capitalista e do agronegócio, que visa o lucro de forma desmedida: com a concentração da terra, desmatamentos e queimadas, uso intensivo de agrotóxicos, produção de monocultivos extensivos, apropriação dos bens comuns da natureza e desmonte das leis de proteção ambiental. Esse não é um desastre natural ou vingança divina, mas é sim a expressão do modelo destrutivo do capital, representado por quem quer “passar a boiada”, que estão diretamente vinculados aos interesses do agronegócio, hidronegócio e da mineração, infiltrados nos mais diversos espaços de decisão política do país.
Diante deste cenário de crise estrutural e prolongada do capital, seguimos em luta reafirmando o compromisso de construção da Reforma Agrária Popular como uma necessidade e urgência, baseada na agroecologia, na democratização da terra e tendo como centralidade o ser humano e a natureza.
O adiamento do VII Congresso Nacional do MST nesse contexto significa a ampliação do processo de preparação e debates com a nossa base e sociedade, aprofundando o estudo sobre a questão ambiental em nossos territórios e o enraizamento do nosso programa agrário. Para tanto, convocamos todas as nossas famílias acampadas e assentadas, militância, e reafirmamos o convite a amigos, amigas e organizações populares a se envolverem em um amplo processo de trabalho de base de organização, formação e luta com criatividade e disciplina. Porque adiar não é paralisar, é organizar, mobilizar, se solidarizar e nos humanizar.
Rumo ao VII Congresso Nacional do MST e toda nossa solidariedade ao povo Riograndense.
Direção Nacional
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Lutar, Construir Reforma Agrária Popular!
Edição: Nicolau Soares