CONFLITO COLONIAL

Em meio à chegada de Macron, independentistas na Nova Caledônia pedem solução política para crise com França

Conflito na colônia francesa do Pacífico começou quando França quis ampliar voto de quem a apoia

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Macron disse que vai "dialogar" durante sua visita ao território francês - Ludovic MARIN / AFP

A principal organização independentista da Nova Caledônia da França apelou por calma no conturbado arquipélago no Pacífico e defendeu uma solução política tanto para a crise atual, como também para alcançar a independência do país europeu.

"Esta crise só pode ter uma resposta política" por meio de acordo que permita "o acesso à independência", disse a Frente Kanak e Socialista de Libertação Nacional (FNLKS) nesta quarta-feira (22).

Da mesma forma, pediu para que as pessoas mobilizadas mantenham a serenidade para que a população, especialmente as pessoas mais frágeis, possa retomar a sua vida quotidiana "com confiança e segurança". O grupo, no entanto, alertou o Estado francês sobre "os métodos de intervenção" das forças policiais e afirmou que não tolerarão "qualquer excesso" ou se eles agirem "fora da legalidade".

Após violentos distúrbios na Nova Caledônia, o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou que visitará sua colônia. Na noite de terça-feira, manifestantes montaram barricadas e a polícia reforçou a segurança antes de sua chegada, prevista para a quinta-feira.

Macron disse que pretende "ouvir, conversar e manter diálogos" para restaurar a ordem e dar respostas às muitas perguntas legítimas" dos cidadãos deste território "tanto em termos de reconstrução como de política".

"Mentiras"

Os nove dias de conflitos deixaram seis mortos e centenas de feridos. A crise começou com uma reforma do censo eleitoral na Nova Caledônia, que o governo Macron espera ser aprovada pelo Parlamento francês até ao final de junho. Isso reavivou as tensões entre o povo indígena kanak, sobretudo pró-independência, e os habitantes leais à França.

A mudança  permitirá que novos residentes pró-franceses votem na Nova Caledônia, mas a população local a rejeita.  A nova lei permitirá o voto de pessoas que residam no local há pelo menos dez anos.

Segundo os independentistas indígenas kanak, esta modificação prejudica-os, pois favorece os interesses da segunda maior comunidade do arquipélago, a dos Caldoches, a favor da unidade com França.

Muitos kanaks, que representam cerca de 40% da população, temem que esta reforma dilua sua influência nas instituições do arquipélago, mas os residentes que se opõem à independência querem que ela seja aprovada.

As autoridades francesas enviaram mais de mil soldados, bem como reforços policiais de Paris para tentar reprimir a violência, mas os motins continuam, embora tenham perdido intensidade.

Centenas de veículos, lojas e escolas foram incendiados nos distúrbios e quase 300 pessoas foram presas neste território de 270 mil habitantes, segundo um procurador de Noumea, Yves Dupas.

"Mentiram aos nossos antepassados, mentiram aos nossos mais velhos com os diferentes acordos que foram assinados. (...) Estamos cansados de não sermos reconhecidos", declarou à AFP Yamel, um defensor da independência do arquipélago.

Com Telesur e AFP

Edição: Rodrigo Durão Coelho