A companhia Air China retomou na última sexta-feira (17) voos entre Beijing e Havana, com a primeira aeronave chegando à capital cubana com 116 passageiros. A retomada dos voos ocorreu depois de vários anos de interrupção após a crise da covid-19.
Com escala em Madri e dois voos por semana, as autoridades cubanas e o gigante asiático esperam aumentar essa frequência a curto prazo para aumentar o intercâmbio e a comunicação entre a China e a América Latina e o Caribe.
No início de maio, o ministro cubano do Turismo, Juan Carlos García, anunciou que Cuba não exigirá visto para cidadãos chineses com passaportes comuns que desejem visitar a ilha caribenha.
Desde então, segundo o jornal oficial chinês Global Times, as pesquisas na Internet sobre viagens da China para Cuba “dispararam”, tornando-se uma das principais tendências na rede social chinesa Sina Weibo.
O primeiro-ministro de Cuba, Manuel Marrero, compareceu ao aeroporto internacional de Havana para receber o primeiro voo. Após a aterrissagem, o ministro garantiu que o restabelecimento dessa conexão aérea era “um sonho que se tornou realidade” e que “chegou para ficar”.
Referindo-se ao difícil contexto econômico pelo qual o país está passando, Marrero disse que agradecia “toda a cooperação da China neste momento”. E acrescentou que o restabelecimento dos voos entre Pequim e Havana “não é uma ação isolada”, mas “favorecerá os intercâmbios governamentais e turísticos”.
O primeiro-ministro, atribuindo a importância estratégica para Cuba dos voos com a China, observou que o governo cubano está concentrado em garantir que “essa ação de isenção de visto produza resultados e facilite esses intercâmbios”. Ademais, anunciou que a próxima Feira Internacional de Turismo de Cuba será dedicada à China.
O princípio do ganha-ganha
Em entrevista ao Brasil de Fato, o pesquisador Eduardo Regalado Florido, coordenador da equipe de Ásia e Oceania do Centro de Pesquisa de Política Internacional de Cuba (CIPI), observou que está medida tem “múltiplas interpretações” e ressalta que se trata do “aprofundamento das relações entre os dois países”.
“É forma de traduzir as relações políticas que ambos países mantêm em resultados mais concretos em termos de apoio e colaboração entre os dois países, sob o princípio de ‘ganha-ganha’. Também apoia a independência de Cuba, em meio a um cenário em que o fortalecimento do bloqueio estadunidense tem gerado grandes prejuízos à economia do país", comenta.
O pesquisador ressalta que a reativação desses voos ocorrendo contexto em que os investimentos chineses em Cuba “não estão passando por seu melhor momento”, devido ao fato de que “a escassez de moeda estrangeira pela qual Cuba está passando prejudicou alguns investimentos chineses na ilha”. No entanto, ele afirma que “há uma disposição total de ambos os lados para resolver essa situação”.
O próprio aumento do turismo em Cuba é dos principais fatores que podem ajudar a ilha a obter divisas em médio e curto prazo. Dessa forma, as condições de investimento da China em Cuba podem melhorar.
A Air China iniciou suas operações em Cuba em 2015. De acordo com estatísticas oficiais, em 2019 a China ocupava a 13ª posição entre os países que mais visitaram Cuba. Nesses poucos anos, a tendência de viagens turísticas da China para Cuba foi crescente, com um aumento médio de 23% ao ano.
“A chegada do turismo chinês implica um desafio para a infraestrutura e os serviços de Cuba. Mas o governo chinês também expressou sua intenção de ajudar em todos esses elementos que contribuem para o desenvolvimento do turismo entre os dois países", explica Regalado Florido.
Danos ao turismo
Como no resto dos países do Caribe, o turismo é das principais atividades econômicas e fontes de divisas para Cuba. Por isso, é uma das principais atividades econômicas que Washington procura sufocar com sua política de bloqueio.
Em janeiro de 2021, no auge da crise da Covid-19, os Estados Unidos incluíram Cuba em sua lista de “países patrocinadores do terrorismo”. A medida gera severas sanções econômicas e políticas que buscam deliberadamente asfixiar as economias desses países como forma de “combater o terrorismo”.
Desde então, o Departamento de Estado dos EUA negou acesso ao Sistema Eletrônico de Autorização de Viagem (ESTA) para 300 mil cidadãos europeus que visitaram Cuba. O cancelamento do ESTA significa que esses cidadãos precisam passar por um processo mais caro e demorado - que pode levar até anos - para solicitar um visto tradicional para entrar nos Estados Unidos.
Na mesma linha, no final de abril, o governo de extrema direita de Javier Milei decidiu não vender combustível para a companhia aérea Cubana de Aviación, forçando a companhia aérea cubana a suspender seus voos para Buenos Aires. De acordo com a empresa, o dano foi causado “por invocar as disposições das medidas de bloqueio dos EUA contra Cuba”.
A decisão do governo argentino foi tomada depois que a Cubana de Aviación retomou em maio de 2023 os voos diretos entre Argentina e Cuba, que tinham sido suspensos devido à pandemia. A reativação desses voos teve impacto positivo no número de visitas ao país caribenho. Durante o período de janeiro a março deste ano, um período de férias na Argentina, o número de argentinos que viajaram para Cuba aumentou 44% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Um maior fluxo de turistas chineses para Cuba poderia ajudar a aliviar o déficit de turismo que o país caribenho vem enfrentando em meio ao bloqueio econômico unilateral.
O ministro do turismo de Cuba visitará a China em 26 de maio para participar de uma feira internacional de viagens em Xangai. Durante sua viagem, os dois países buscarão estabelecer intercâmbios nos setores de turismo e cultura.
Edição: Rodrigo Durão Coelho