Em Belo Horizonte, a população quilombola do Kilombo Manzo Ngunzo Kaiango retomou o território Kewá Matamba, que fica nos pés da Serra do Curral, cartão postal da capital mineira. As famílias foram retiradas da área pela prefeitura em 2012. A ocupação de retomada aconteceu na madrugada desta sexta-feira (24).
Para a comunidade, que fundou o Kilombo na década de 1970, o espaço é considerado sagrado e voltará a abrigar seus rituais e cultivos.
:: Relembre: Comunidade de Manzo celebra festa dos pretos velhos ::
"Reafirmamos aqui nossa conexão sagrada com esse território, que cuida e nos dá condições de nos mantermos fortes e unidos. Sem a terra, o território, as águas, as plantas, o kilombo e o terreiro não têm como existir. Retomamos hoje esse espaço que sempre foi nosso", explicou o Kilombo Manzo, em nota.
As famílias também querem construir a Escola das Ngoma, expressão africana que significa tambores, considerados pela comunidade como "instrumentos de comunicação com os povos, que por meio do ritmo, da dança e da oralidade, garantem a continuidade e a resistência da tradição negra e quilombola".
"Estamos construindo nossa escola, da forma como a gente compreende que deve ser a transmissão do saber. Aqui também teremos a capacidade de desenvolver o que compreendemos do ser humano. Esse espaço de educação vai receber nossa pedagogia. O tambor vai anunciar uma forma de conhecimento orgânico e circular, na qual a gente aprende a cultura”, explicou Makota Cássia Kidoialê, liderança do quilombo, durante a retomada.
Leia também: “Meu território é mais sagrado do que a minha fé”
A ocupação aconteceu em parceria com o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e com a Teia dos Povos, articulação de povos e organizações que lutam pelo direito à terra.
Defesa do território
Nos últimos anos, as famílias enfrentaram uma dura batalha contra a mineração na Serra do Curral. Após intensas mobilizações, elas conseguiram, em 2022, suspender judicialmente a atividade de algumas das mineradoras no território considerado sagrado.
"Ignoravam nossa existência e violavam nosso direito à consulta prévia, livre e informada, além de ameaçar nossos modos de vida e o território natural que nos sustenta. Em nossa retomada, seremos guardiões dessa grandiosa serra, que protege e nutre toda a cidade", declarou o Kilombo Manzo, em outro trecho da nota.
Leia também: “Quem ataca o terreiro está atacando a sua história”, diz Makota Kidoialê, do Quilombo Manzo ::
A Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, trata da necessidade da consulta livre, prévia e informada sempre que a realização de alguma obra, ação, política ou programa afetar os povos tradicionais.
Contribua
A comunidade quilombola convoca toda a sociedade a apoiar a retomada do território Kewá Matamba, visitando a área, que fica na rua Santa Rita, no bairro Santa Efigênia, compartilhando o conteúdo publicado nas redes sociais do Kilombo Manzo Ngunzo Kaiango, e através de doações pelo Pix [email protected].
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Leonardo Fernandes