O Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Justiça da Rússia instruíram o presidente russo, Vladimir Putin, a retirar o Talibã da lista de organizações terroristas do país. Atualmente o grupo é proibido na Rússia.
O representante da chancelaria russa para o Afeganistão, Zamir Kabulov, afirmou que a exclusão da lista de organizações proibidas é uma condição obrigatória para que o Talibã seja reconhecido como um governo legítimo no Afeganistão.
"Sem isso será prematuro falar em reconhecimento. Portanto, esta questão continua a ser estudada. Todas as considerações foram comunicadas à liderança máxima da Rússia", acrescentou Kabulov, citado pela agência Tass.
O diplomata disse ainda “certas questões que devem ser superadas, após as quais a liderança russa tomará uma decisão”. Kabulov, no entanto, não especificou quais detalhes precisam ser cumpridos para a decisão ser tomada.
Foi informado também que o Talibã foi convidado para participar do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, que será realizado de 5 a 8 de junho.
O movimento Talibã é classificado na Rússia como organização terrorista na Rússia desde 2003, quando seguiu a mesma decisão adotada pelo Conselho de Segurança da ONU.
Apesar da sua proibição no país, as autoridades russas vinham mantendo contatos ativos com representantes do movimento e as suas delegações fizeram visitas regulares à Rússia.
:: Rússia analisa retirar Talibã da lista de organizações terroristas ::
O chefe do escritório político do Talibã no Catar, Suheil Shaheen, citado pela RIA Novosti, saudou "a proposta do Ministério das Relações Exteriores da Rússia e do Ministério da Justiça ao Kremlin de remover o status de organização terrorista do Emirado Islâmico do Afeganistão".
Ele destacou que o Talibã valoriza muito a declaração do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov. "A Rússia segue a realpolitik [pragmatismo] e coloca os seus interesses nacionais acima de tudo", acrescentou Shaheen.
Anteriormente, o chanceler russo, Serguei Lavro, destacou que o Talibã representa a "verdadeira autoridade no Afeganistão". "O Afeganistão não é indiferente a nós. Não é indiferente aos nossos aliados, especialmente na Ásia Central. Portanto, este processo reflete uma consciência da realidade", disse Lavrov.
Em agosto de 2021, o Talibã reassumiu o poder no Afeganistão após a retirada da ocupação militar dos EUA do país e da fuga do ex-presidente Ashraf Ghani para os Emirados Árabes Unidos. O grupo fundamentalista havia governado o Afeganistão entre 1995 e 2001, quando impôs uma visão radical da Sharia (lei islâmica que serve como diretriz para a vida de fiéis muçulmanos sunitas).
Entre as medidas adotadas pelo regime, obrigatoriedade de mulheres cobrirem todo o corpo com burkas, não poderem estudar, trabalhar ou circularem desacompanhadas de homens. Ficaram proibidas músicas, TVs ou atividades culturais não religiosas. Isolado, o regime caiu por se recusar a entregar aos EUA o chefe da Al Qaeda, Osama Bin Laden, acusado pelos ataques contra alvos estadunidenses de 11 de setembro de 2001.
O grupo havia nascido da resistência à invasão soviética nos anos 1980. Em outubro de 2021, Vladimir Putin disse que a Rússia estava "mais perto de tomar uma decisão" de retirar os talibãs da lista de organizações terroristas, mas esta decisão teria novamente de ser tomada na ONU. Na ocasião, Putin observou que a Rússia "coopera com representantes dos talibãs, convida-os a visitar Moscou e mantém contato com eles no próprio Afeganistão".
Nos últimos anos, representantes do Talibã realizaram regulares visitas a Moscou em outubro e depois visitaram a Rússia várias outras vezes em 2022 e 2023.
Edição: Rodrigo Durão Coelho