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Motel Destino: mais que um thriller erótico, filme de Karim Ainoz é ‘pulsão de vida e esperança’, diz protagonista Nataly Rocha

Longa disputou Palma de Ouro no Cannes e pode estrear no Brasil ainda este ano

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Atriz cearense, Nataly Rocha fez sua estreia como protagonista de longa - Divulgação/Motel Destino

Motel Destino foi a sexta participação do cineasta Karim Aïnouz no Festival de Cannes. Neste ano, o longa concorreu à Palma de Ouro, sendo o único latinoamericano na categoria, que teve Anora, de Sean Baker, como vencedor.

Com diretor cearense, inteiramente rodado no estado e dois dos três protagonistas de Fortaleza, o longa traz um tom político desde de sua concepção, defende a atriz Nataly Rocha, em entrevista ao programa Bem Viver desta sexta-feira (31).

“O filme é uma porção de vida. Ele retrata as realidades desses personagens que estão ali, à margem, que, no caso, é a minha personagem, que sofre uma violência pelo fato de ser mulher”, relata Nataly Rocha, que interpreta Dayana, ao lado de Iago Xavier, também cearense, e Fábio Assunção. 

O longa conta sobre um estabelecimento na estrada do litoral do estado que é pano de fundo da história do jovem Heraldo (Iago Xavier), que chega em uma noite e transforma o cotidiano do local, principalmente a vida de Elias (Fábio Assunção) e Dayana.

Estreante em Cannes, a atriz relatou a sensação de protagonizar seu primeiro longa em 23 anos de carreira.

“Eu vou te falar a verdade: eu não conheço nenhuma, por enquanto, nenhuma atriz cearense que envelheceu sendo atriz tendo uma vida digna, e eu gostaria muito de ter isso, de continuar sendo atriz e tendo uma vida digna na minha profissão”, relata Rocha, que vive em Fortaleza e atribui a isso um dos fatores por não ter sido chamada anteriormente. 

Karim Aïnouz é um veterano de Cannes. No ano passado, ele também foi indicado ao principal prêmio, com Fireband. A primeira participação dele no Festival foi há 22 anos, quando exibiu o clássico Madame Satã, protagonizado por Lázaro Ramos.

Para Nataly Rocha, trabalhar com Karim Aïnouz é como se ele estivesse “sempre abanando uma fogueira, é como se ele estivesse sempre performando dentro do set, sempre convocando a gente a estar ali, vivo em cena, de uma forma orgânica”.

Embora o próprio diretor tenha definido o filme como “thriller erótico”, a atriz define que Motel Destino “não fica só nessa parte necessariamente erótica, mas fica nessa pulsão de vida, nessa esperança, nessa vontade de ultrapassar essas questões que são bem fortes no Brasil”.

Confira a entrevista na íntegra

O que o público brasileiro pode esperar de Motel Destino?

Olha, eu acredito que ele vai estrear ainda este ano no Brasil. Então, acho que a gente não vai esperar tanto. Acredito que essa impulsionada pelo Festival dá uma curiosidade, dá uma vontade de estar falando sobre o filme e vai trazer ele logo pra cá.

Bem, eu vou te confessar que eu assisti depois de passar ali pelo tapete vermelho, depois de várias entrevistas no mesmo dia, porque a gente participa de uma espécie de uma gincana de entrevistas no mundo todo. Ficava eu, Karim, Iago e Fábio, no rodízio, entre vários jornalistas.

Quando eu fui assistir ao filme, tem aquela adrenalina de estar participando de tudo aquilo, foi muito intenso e foi também uma surpresa. Porque uma coisa é quando você está filmando, outra coisa são as escolhas de edição, o que me surpreendeu muito.

Eu acho que esse filme é um Karim 2.0, sabe? Porque ele se arriscou bastante nas escolhas que ele fez, escolhas criativas, estéticas. Tem também a cara dele, da direção dele, essa relação que ele tem com o elenco, que é bem intensa, a gente percebe muito nas cenas. 

Então você viu o filme pela primeira vez ali, com todo mundo do [Festival de] Cannes?

Isso! Quando coloca ali a trilha, quando coloca o ritmo, algumas cenas vão, outras cenas que você pensava que não tinha importância aparecem. Foi muito legal, ainda mais que foi nessa telona imensa do Cannes.

Quem já viu o trailer percebeu que o filme é todo composto por um clima erótico. O próprio Karim descreveu assim o filme. Você acha que essa carga de erotismo afasta ou atraí o público brasileiro?

Olha, eu acho que quem for muito conservador, talvez, tenha um pouco de ressalvas com relação ao filme, mas eu acho que isso acontece no geral, independentemente de ser ou ter uma carga erótica, às vezes tem público que é mais conservador, que nem consome o filme nacional. Eu tenho essa sensação. 

Eu acho que o filme é uma porção de vida. Ele é um filme que retrata as realidades desses personagens que estão ali, à margem, que, no caso, é a minha personagem, que sofre uma violência pelo fato de ser mulher, e esse rapaz que é o Heraldo, que é interpretado pelo Iago, sofre de uma repressão racista ou de classe. 

Então o filme fala um pouco disso também, desses personagens que têm alguma similaridade ali, mas que, de alguma forma, tentam extrapolar esse lugar, de preconceito, de violência. Não fica só nessa parte necessariamente erótica, mas fica nessa pulsão de vida, nessa esperança, nessa vontade de ultrapassar essas questões que são bem fortes no Brasil.

O filme tem um tom de quebrar tabus de temas entendidos como proibidos pela sociedade?

Sim. As escolhas estéticas vão também dialogar com a ética. As escolhas do Karim sobre o que falar dizem muito de um posicionamento muito forte.

Por exemplo, o filme não ia ser filmado, talvez, se a gente estivesse no governo anterior. Se eu não me engano, o filme foi barrado de tentar apoio, patrocínios. Por isso, acredito que todas essas escolhas têm um lado político também.

Você tem pelo menos 20 anos na estrada como atriz de teatro, TV, séries, longas também, mas é a primeira vez que você protagoniza um filme, e logo um que vai para Cannes. Por que você acha que teve esse período todo de espera? Tem a ver com o fato de o cinema nacional se concentrar muito no eixo Rio-São Paulo e fechar portas para artistas do Nordeste, por exemplo?

Primeiro, eu me senti comemorando esses 23 anos de trabalho com a atuação. Eu comecei minha carreira com poemas, declamando. E fui fazendo cursos aqui, em Fortaleza, fui trocando com pessoas, com estudantes de cinema.

Por ter essa oportunidade de, nesses ambientes de formação, poder estar ao lado de atrizes, eu tive a possibilidade de exercitar minha vontade na atuação. 

Essa questão de protagonizar agora um trabalho e não ter feito outros, eu acho que sempre existiu uma dificuldade, porque, eu sempre morei aqui, nunca fui morar, por exemplo, em São Paulo. 

Apenas em oportunidades pontuais, a convite de diretores para participar de algumas peças. Por exemplo, para participar da série Segunda Chamada, da TV Globo, a segunda temporada. 

Então eu sou convocada aí, eu acho isso muito legal, mas fora isso… Acredito que as coisas estejam mudando, espero ter mais oportunidades, espero que outras atrizes nordestinas também tenham.

Porque, assim, eu vou te falar a verdade, eu não conheço nenhuma, por enquanto, nenhuma atriz cearense que envelheceu sendo atriz e tendo uma vida digna, e eu gostaria muito de ter isso, de continuar sendo atriz e tendo uma vida digna na minha profissão. 

A gente pode ter exemplos de várias outras atrizes de todas as regiões do país, do Sudeste, do Sul, mas aqui, por exemplo, eu não tenho um exemplo. Então isso é muito difícil, isso é muito triste.

O filme tem um DNA cearense, né? Além de ser ambientado no estado, tem o fato de muitos atores serem de lá, o próprio diretor… Enfim, que outros elementos o filme traz da cultura cearense?

Tem um pouco de humor, um humor que é mais irônico, que não é um humor tão escrachado quanto a gente está acostumado com os cearenses, mas ele tem essa questão que é mais irônica.

Tem a música, tem as cores daqui, do Ceará. O sol é intenso aqui, e as cores são muito vivas. O ano todo é tudo muito vivo.

Talvez até essa cor mais saturada do filme, a gente consegue ver facilmente, quando você está andando na cidadezinha, casinhas na beira da praia, tem umas casinhas com cores muito fortes, em rosa, laranja. Então, você vê uma jangada com uma vela vermelha, sabe? 

Às vezes, quando eu vejo, eu fico "nossa, quem ver o roteiro vai dizer que o roteirista ou a pessoa da direção de arte pesou a mão”. Mas é verdade. Então, sim, Motel Destino representa muito bem o Ceará.

E isso tudo são méritos do Karim?

Olha, trabalhar com o Karim para mim… Eu já tinha feito um curta com ele, então é um diretor que eu já conheci, eu fiz seis etapas de teste. Para mim, é sempre muito divertido estar na presença dele, porque o carinho é muito grande.

Ele te deixa com vontade de trabalhar, de dar o seu melhor, porque ele embala muito. Foi melhor do que eu imaginava conviver mais intensamente com ele.

A sensação que dá é que ele tá sempre abanando uma fogueira, é como se ele estivesse sempre performando dentro do set, sempre convocando a gente a estar ali, vivo em cena, de uma forma orgânica. 

E o Fábio Assunção saiu como um estrangeiro no meio de tanto cearense?

É, o Fábio é muito engraçado, eu acho que o fato de ele ser um pouco estrangeiro já ajudava para a composição do personagem como uma pessoa que não faz parte daquele universo.

Ele é um grande estudioso, ele tenta controlar tudo. Ele tinha vários gráficos, planilhas de tudo de fato. É interessante porque eu aprendi um pouco a analisar cenas a partir de outra perspectiva, que eu acho que ele traz um pouco isso da TV, que você tem que lidar com muitos capítulos, com um volume muito grande de cenas. 

Ele me explicava algumas coisas que eu achava curiosas, e ao mesmo tempo também ficou fascinado com alguns costumes aqui da gente. 

Ele chegou a comentar que achou engraçado as pessoas ficarem sentadas na calçada, eu expliquei que as pessoas aqui têm o costume de sentar na calçada, porque aqui tem um vento chamado aracati, que é um vento no sentido praia-sertão, e tem um horário dele passar.

É um vento muito refrescante que vem, então as pessoas costumam ficar na calçada conversando. Ele achou isso incrível. E ele queria ficar “vamos ficar aqui um pouco sentado aqui, na calçada”, dizia, porque, para ele, é muito diferente.


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Edição: Rodrigo Chagas