O INFERNO É ALI

Um milhão de palestinos fogem de Rafah e se aglomeram em Khan Yunis, cidade que enfrenta inundação de esgoto

Crescem as dúvidas se Israel vai cumprir plano de trégua anunciada por Biden na sexta

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |
Lixo acumulado em Khan Yunis: as condições para os palestinos são cada vez mais insuportáveis - AFP

Mais de um milhão de palestinos já fugiram da cidade de Rafah, segundo informou nesta segunda-feira (3) a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA na sigla em inglês). Rafah era lar de pouco mais de 200 mil pessoas antes do massacre israelense iniciado em outubro e acolheu mais de um milhão de pessoas que buscaram refúgio, vindos de outras partes da Faixa de Gaza. Essas pessoas estão agora sendo novamente expulsas. 

“Milhares de famílias estão agora abrigadas em instalações danificadas e destruídas em Khan Younis [na Faixa de Gaza], onde a UNRWA continua a prestar serviços essenciais, apesar dos desafios crescentes. As condições são indescritíveis”, disse a agência da ONU numa publicação no X, antigo Twitter.

Khan Younis fica ao norte de Rafah e abriga agora cerca de 1,7 milhão de pessoas. Todos os 36 abrigos da UNRWA em Rafah estão agora vazios, informou. A agência da ONU continuou a prestar ajuda humanitária básica, apesar das condições cada vez mais difíceis, que pioraram ainda mais com o rompimento de canos de esgoto em Khan Younis. 

Mar de sujeira

Pessoas usam garrafas plásticas vazias para tentar remover o esgoto bruto de suas tendas depois que um duto rompeu na principal cidade do sul. Os moradores tentam eliminar a água suja enquanto as crianças atravessavam um rio de esgoto. 

O derramamento tornou quase impossível viver na cidade, onde pilhas de destroços e enormes lajes de concreto de edifícios bombardeados alinham-se nas ruas. Os trabalhadores em Khan Younis dizem que não têm o equipamento adequado para reparar o cano de forma adequada.

Cerca de 1,7 milhões de pessoas estão agora abrigadas em Khan Younis e nas áreas centrais da Faixa de Gaza, segundo as Nações Unidas. Dezenas de milhares de pessoas procuraram abrigo lá depois de serem forçados a sair de Rafah, no sul, pelos militares israelenses.

Acredita-se que cerca de 690 mil mulheres e meninas carecem de kits básicos de higiene menstrual, privacidade e água potável, disse a UNRWA.


Faixa de Gaza / Brasil de Fato

Os bombardeios e os combates continuam em Gaza, onde a maioria dos 2,4 milhões de habitantes foram deslocados e onde as organizações humanitárias alertam para o risco de fome. Ao menos 19 pessoas morreram em bombardeios durante as últimas 24h no território cercado, segundo os hospitais. 

Os combates estão concentrados atualmente em Rafah, cidade no extremo sul do território que, segundo o Exército israelense, abriga os "últimos batalhões" do Hamas, classificado como organização "terrorista" por Estados Unidos, Israel e União Europeia. 

Trégua ou não?

Na sexta-feira, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou uma proposta de cessar-fogo baseada num fim faseado da guerra, que envolveria a retirada das forças israelenses de áreas construídas, a libertação de reféns feitos pelo Hamas e prisioneiros palestinos, juntamente com um plano para reconstrução de Gaza.

Mas nesta segunda (3) aumentaram as dúvidas quanto à viabilidade do plano. O governo do premiê Netanyahu disse que o país prosseguirá com a ofensiva desencadeada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro até alcançar "todos os objetivos", incluindo a destruição das capacidades militares e de governo do grupo islamista.

A imprensa de Israel questiona se os  EUA chegaram a um acordo com o governo israelense antes do anúncio, e o porta-voz de Netanyahu, David Mencer, disse que o projeto apresentado por Biden era "parcial". Ele acrescentou que o líder israelense indicou que, de acordo com o plano, a guerra será temporariamente interrompida "com o objetivo de conseguir o retorno dos reféns". Boa parte dos partidos que apoiam Netanyahau - considerado o governo mais à direita da história israelense - são contra a trégua. 
 

Edição: Rodrigo Durão Coelho