MOBILIDADE

Trabalhadores enfrentam maratona no transporte público da Grande Porto Alegre

'Direito de ir e vir, por terra e ar, a partir de Porto Alegre para qualquer lugar, não está fácil'

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Fechada em 4 de maio, a Rodoviária de Porto Alegre está na fase de higienização e conserto de suas redes sanitárias e elétricas - Foto: Rogério Soares

Cláudia mora em Cachoeirinha, mas trabalha em uma galeria comercial na Rua 24 de Outubro, em Porto Alegre. Na semana passada, ela decidiu voltar ao trabalho depois de dias difíceis e sem qualquer mobilidade. Se arrependeu no meio do caminho. Saiu de casa às 7h30min e só conseguiu chegar em Porto Alegre às 13h30min. Pode isso? O ônibus da Transcal não tinha como chegar ao destino. Enfrentou alagamentos, protestos, fechamento de rodovia e lentidão do trânsito. O ônibus estava lotado, com gente em pé.

As pessoas imaginavam e zombavam que a viagem não era para Florianópolis, mas para o Centro Histórico de Porto Alegre. Chegou no trabalho, deu um alô, não fez nada e voltou para Cachoeirinha. Mais três horas. O dia se foi. Só hoje (4) voltou ao trabalho, mas ficou empacada por duas horas no ônibus, viagem que dura habitualmente 1 hora e 15 minutos.

Assim, um pouco mais, um pouco menos, está a vida dos trabalhadores e trabalhadoras nas cidades da região metropolitana de Porto Alegre. Consideradas, por muitos, como cidades-dormitórios, a retomada da rotina nos seus empregos está complicada. Desemprego, falta de dinheiro, contas, casas perdidas, prejuízos, rondam a vida destas pessoas dependentes do transporte público. Há também hoje o caminho inverso, de gente que sai de Porto Alegre para os parques industriais da área metropolitana. A situação também continua complicada. A demora nas paradas é exageradamente longa. Às vezes nem vale a pena ir para os locais esperar por um milagre - um ônibus com lugares disponíveis e cumprindo o seu itinerário.

A Metroplan, responsável estatal pelo transporte na região, não consegue manter atualizado o seu portal com as informações necessárias aos usuários. Está tudo confuso. A última notícia no site é do dia 3 de maio. Em condições normais o transporte público de ônibus faz diariamente o deslocamento de mais de 250 mil passageiros da região Metropolitana para Porto Alegre e em sentido contrário.
 
Hoje não existem regras firmes e consistentes. Está na base do seja o que for possível. Em função das enchentes e da destruição de ruas, barreiras, alagamentos, diversas cidades precisaram suspender completamente o serviço de transporte para a Capital, e vice-versa, enquanto outras ainda operam parcialmente, e precisaram encontrar alternativas para seguir fornecendo o serviço, mesmo com aumento no trajeto a ser percorrido.

Passados mais de 30 dias desta situação transitória, a empresa Transcal, que opera em Cachoeirinha, deslocou alguns dos ônibus da sua frota para outros fronts, como Canoas, deixando milhares de pessoas nas paradas de Cachoeirinha.

A situação começa lentamente a se regularizar, com o volume das cheias baixando e as rodovias e ruas sendo restauradas, mas não há perspectivas deste caos retornar à sua rotina.

Em Porto Alegre, a situação também não está fácil. Para o sul e norte, as linhas estão funcionando sem regularidade. Tudo é feito com certa parcimônia. A grande maioria dos roteiros e itinerários não está sendo cumprido, mas vai indo, me disse um fiscal da EPTC que fazia ponto na Cristóvão Colombo hoje pela manhã (4).

A Rodoviária de Porto Alegre também está em processo de recuperação. Fechada em 4 de maio, está na fase de higienização e conserto de suas redes sanitárias e elétricas. As suas lanchonetes e lojas também foram arrasadas. Não há data prevista para retorno à normalidade. São três mil pessoas que circulam por ali diariamente. O Trensurb também funciona precariamente em alguns trechos.

Já o Aeroporto Salgado Filho só volta a funcionar na segunda quinzena de dezembro, conforme a empresa concessionária, a Fraport. Pode reabrir antes, mas há grandes dificuldades a serem superadas em todo o terminal – desde a pista até a parte interna dos prédios. Por enquanto, então, a saída é encontrar lugar nos poucos voos da Base Aérea de Canoas.

Direito de ir e vir por terra e ar a partir de Porto Alegre para qualquer lugar que se queira não está fácil. Não sabemos se existe paciência para esperar. A agenda de viagens deve ter sido perdida na enchente. Até o catamarã, que faz a travessia capital x Guaíba pelo lago também está parada. Não sabe quando volta.

* Jornalista

* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

 

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko