A Federação Independente dos Cultos Afro-Brasileiros realizará, neste sábado (8), o 18º Encontro das Religiões dos Orixás (ERO), em João Pessoa (PB). O evento, que tem início previsto para as 8h, acontecerá no Ilê Axé Oju Ofá Dana-Dana, no bairro Mangabeira.
Com o objetivo de discutir políticas públicas e enfrentamento ao racismo, o ERO contará com uma extensa programação, incluindo roda de debates com representantes da Defensoria Pública do Estado, do Governo do Estado, da Prefeitura de João Pessoa e lideranças das religiões afro na Paraíba, como Umbanda, Candomblé e Jurema, além de representantes da sociedade civil organizada.
Entre os temas que serão abordados nos debates estão: a intolerância religiosa, o racismo, a necessidade de políticas públicas para comunidades tradicionais, segurança alimentar, acesso à saúde e ao pleno trabalho, entre outros.
Além dos debates, o evento também vai oferecer serviços por parte da Defensoria Pública do Estado. Os participantes poderão adotar o nome religioso nos documentos, alterar nome civil para nome social, solicitar defensores públicos em processos, entre outros serviços. A alimentação dos participantes será fornecida de forma gratuita.
A participação é específica para as comunidades tradicionais dos povos de terreiro: são 80 vagas que já estão quase preenchidas, mas ainda há vagas.
“Precisamos que o povo de terreiro participe. Nós temos a defensoria pública que também está construindo conosco, e nesse dia nós ela estara fazendo um trabalho específico para quem quiser fazer a mudança do nome", convida Mãe Renilda, coordenadora do evento.
Nos primórdios do Ero
O Encontro teve início na Paraíba nos anos 1990 como um espaço de articulação e diálogo entre diversas entidades e representações sociais, visando promover a igualdade, o respeito à diversidade religiosa e o combate ao racismo na Paraíba, com a intenção de discutir a inclusão do povo de terreiro no espaços sociais.
“Inclusive foi articulado, na época, pelo Padre Luís Adra - ele hoje não gosta mais de ser chamado assim - e foi construído por várias mãos, na época pelas mãos da FICAB, do Ilê Axé Oju Ofá Dana-Dana, de Solange Cavalcante, Wellington Santana, Movimento Negro João Balula - esses e outras tantas pessoas que construíram este evento. E quando começou, nós não tínhamos nada, íamos nos terreiros buscar os pratos do povo, buscar o alimento para fazer o Ero, e começou a acontecer, e virou um grande evento”, destaca Mãe Renilda.
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Ela acrescenta que o evento tem a intenção de fortalecer o respeito as religiões de matriz africana:
“Politicamente falando, este é um evento para chamar a atenção dos gestores e das gestoras de todo o estado da Paraíba para entenderem que nós somos uma comunidade tradicional, e assim devemos ser reconhecidos - como religião de matriz africana. Somos nós que viemos justamente da nossa Mãe África para construir esse país, e digo também que negar as religiões de matriz africana, é negar que a nossa Mãe África é o berço da humanidade”, comenta ela.
As pessoas de terreiro sofrem preconceito em diversos espaços da sociedade.
“Nós somos excluídos do trabalho. Imagina você chegar no local para ir trabalhar e ser perguntado três vezes qual é a sua religião? Isso é racismo religioso, e nós temos que ver o que está acontecendo porque, quando descobrem que você é dessa religião você não pega a vaga de emprego. A gente precisa da política pública inclusiva. Outro ponto é que nós não temos um grande acesso à saúde porque quando chegamos nos postos de saúde, se for com turbante na cabeça ou com uma conta no pescoço, não é bem recebido. Nós temos mulheres de 60 anos de idade que nunca fizeram um citológico, porque quando chega no postinho é tratada como macumbeira, como catimbozeira, e a pessoa fica chateada e vem embora. Isto é grave politicamente”.
Mãe Renilda acrescenta que o acesso às políticas sociais e de alimentos, como o fome zero, também constam lacunas: “Somos excluídos, onde há outros segmentos da sociedade como os quilombolas e indígenas que têm a cota”.
Há um destaque para o território onde será realizado o Encontro: “Nós trouxemos o evento para dentro do terreiro porque são os gestores que têm que vir para o nosso espaço, e aí é onde a gente vai descobrir quem realmente nos respeita e vem para o terreiro".
Fonte: BdF Paraíba
Edição: Cida Alves