Termina no próximo sábado (15) as inscrições para o VI Encontro de Bambas, evento nacional de capoeira produzido por mulheres para capoeiristas de todos os gêneros e idades. A atividade acontece nos dias 21 e 22 de junho, no Salão Múltiplas Funções, próximo ao CAVE, no Guará.
O encontro foi idealizado em 2014, quando Michelle Santos, conhecida como mestra Michellinha, recebeu a corda de contramestre.
"Queria fazer um evento de capoeira aberto a todos quando recebi a corda de contramestre. Pelo fato de ser mulher, tinha o desejo que fosse organizado somente por mulheres. Na época não conhecia muitas capoeiristas de outros grupos, mas as que somaram agregaram valores à nossa caminhada feminina na capoeira", conta a mestra.
Estudos apontam que a partir da década de 70 o interesse da mulher pela capoeira aumentou consideravelmente. No Brasil, estima-se que 35% dos praticantes de capoeira são mulheres, porém o universo do esporte ainda tem predominância masculina.
Para a produtora geral do evento, Karla Aragão, o Encontro é uma oportunidade de mostrar o protagonismo das mulheres que durante centenas de anos ficaram nos bastidores.
"É a oportunidade da capoeirista demonstrar o seu valor, conhecimento, técnica e capacidade. Reuniremos mulheres com conhecimento e que se dedicam e dedicaram anos à capoeira. Elas merecem ser vistas e valorizadas. A comunidade capoeirista merece também receber o que elas têm a ensinar", destaca.
Segundo ela, um grande diferencial do evento é a valorização do capoeirista, seja ele participante do evento ou prestador de serviço.
“O Encontro de Bambas oferece ao capoeira e à capoeira o que tem de melhor. Busca valorizar essa atividade, que sempre esteve marginalizada e que não recebia o cuidado merecido”, diz.
Palestras e oficinas
O evento contará com palestras e oficinas de mulheres capoeiristas de todo o Brasil. Uma das palestrantes é Rosângela Costa Araújo, que é conhecida nas rodas como Mestra Janja, que fará uma palestra sobre "Capoeira como jogo na luta contra as discriminações e preconceitos".
Mestra Janja tem a trajetória marcada pelo diálogo permanente com as organizações das mulheres tanto no contexto das lutas por autonomia e enfrentamento às violações de direitos, quanto nos contextos tradicionais, com ênfase nos movimentos que se formam no interior da capoeira, ressaltando seu caráter transnacional.
“No Encontro de Bambas vou ministrar os conteúdos da capoeira angola, conforme os fundamentos da minha linhagem. Ou seja, apresentar como trabalhamos as várias linguagens da capoeira, corporais, musicais, históricos e filosóficos, unindo teoria e prática”, diz a Mestra.
O evento conta também com a oficina da Mestra Mara, que está na capoeira desde os 12 anos de idade, e hoje pratica uma capoeira adaptada para causar estímulos e continuidade no processo de aprendizagem. Em sua oficina usará a prática e a teoria para gerar reflexões sobre procedimentos cirúrgicos devido ao excesso de atividades físicas.
“Estou com grande expectativa para esta edição, já que a cada encontro o evento vem superando o anterior, criando estratégias diferentes, com qualidade e cuidado com os participantes”, conta Mara.
Machismo na capoeira
A mestra Michellinha, idealizadora e organizadora do evento, pondera que o universo da capoeira tem amadurecido com relação à equidade de gênero.
"O amadurecimento veio num todo. Tanto para os homens quanto para as mulheres. Antes a mulher não podia jogar, bater palma e nem tocar no instrumento. Hoje nós confeccionamos instrumentos, e até damos oficinas do ofício", pontua.
Karla Aragão completa reforçando que no passado não havia espaço para a mulher na capoeira. "As que insistiam eram tratadas com desrespeito, como podemos perceber em diversas canções. Agora as mulheres estão mais informadas e conscientes do seu papel, poder e lugar, o que de certa forma, coíbe essa discriminação. O machismo não acabou, mas vejo um movimento positivo dentro da capoeira, em especial da capoeira feminina", afirma.
Incentivo ao esporte
Em 2008, a capoeira recebeu o título de Patrimônio Cultural Brasileiro e desde 2014 é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Também foi reconhecida como esporte no ano de 2016, o que permite ao capoeirista pleitear a bolsa atleta oferecida pelo Ministério dos Esportes. Porém, as mulheres capoeiristas afirmam que assim como nos outros esportes, o incentivo não é o mesmo que o dos homens.
"No passado havia a falácia que o exercício faria mal ao corpo da mulher, pois ela tinha a função de reproduzir. E hoje existe uma disparidade de salários e de visibilidade. O problema é histórico-cultural. Um incentivo serviria para mudar essa realidade e para demonstrar para a mulher a importância do esporte capoeira. Mas ainda existe diferença de gênero na captação de incentivos", diz Karla Aragão.
O Encontro terá intérprete de libras. Mais informações sobre a programação estão disponíveis na página do evento.
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Fonte: BdF Distrito Federal
Edição: Márcia Silva