ataque bolsonarista

Manifestante é proibida de frequentar a Câmara por protesto durante votação da 'PEC das Drogas'

Ativista foi levada à delegacia legislativa a pedido da deputada Coronel Fernanda (PL-MT) e vai responder por injúria

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Camisa usada pela veterinária Julia Santoucy, que prescreve cannabis medicinal em seu exercício profissional, durante a sessão na Câmara - Arquivo pessoal

Uma veterinária que acompanhava sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados foi conduzida ao Departamento de Polícia Legislativa (Depol) para prestar depoimento e impedida de voltar a frequentar a Casa a pedido da deputada federal bolsonarista Fernanda Siqueira (PL-MT), conhecida como Coronel Fernanda. A ativista vai responder por injúria.

O episódio aconteceu nesta quarta-feira (12), em meio à votação da CCJ que aprovou o projeto conhecido como PEC das Drogas, em mais um passo da escalada conservadora do Congresso. A veterinária Julia Santoucy acompanhava a sessão de pé e usava uma camiseta com os dizeres "maconha medicinal, produto nacional, reparação social".

A veterinária, que prescreve cannabis medicinal em seu exercício profissional, contou ao Brasil de Fato que a deputada bolsonarista ficou observando a camiseta e fazendo gestos de desaprovação. Como resposta, a ativista disse ironicamente "bonita minha camiseta, não é?". Ao não receber resposta, fez um comentário chamando a deputada de "mal amada". Foi o estopim para a irritação da bolsonarista.

Ainda de acordo com o relato de Santoucy, Coronel Fernanda interrompeu o deputado que falava naquele momento e pediu para que o grupo que estava com a ativista fosse retirado. Durante a sessão, a deputada afirmou que "pessoas que estavam com a camisa da maconha estavam me xingando". "Solicitei a retirada deles por falta de respeito com os parlamentares", disse, ao microfone.

Ao fim da audiência, a veterinária pegou o celular para gravar a saída dos participantes, o que incomodou a deputada bolsonarista. A polícia legislativa foi acionada e o grupo que estava com Santoucy foi retirado. A ativista foi levada ao Depol para responder ao registro de ocorrência feito contra ela pela parlamentar. 

"Fiquei constrangida, perguntei o porquê. Me levaram para a delegacia legislativa. A deputada chegou com duas parlamentares, ela registrou boletim de injúria contra mim. Ela disse que eu também a xinguei de 'vagabunda', o que não é verdade", afirmou a ativista.

Neste primeiro momento, Santoucy foi proibida de voltar à Câmara devido a um pedido de restrição feito pela deputada. Ela já buscou auxílio jurídico e aguarda os próximos movimentos para se posicionar. A manifestante disse ainda que está recebendo muita solidariedade.

"É desproporcional para quem é uma 'mera mortal' como eu. Sou da área de saúde, prescritora de cannabis, veterinária. Sei o quanto a planta faz bem e é muito difícil a gente lutar a favor de uma saúde melhor para todo mundo contra essas pessoas que falam e falam um monte de coisa, um monte de besteira, um monte de mentira. Às vezes, a gente perde um pouco a linha, mas é isso. A gente está nesse local, nessa posição, justamente dando a cara a tapa para isso", resumiu.

Brasil de Fato entrou em contato com o gabinete da deputada Coronel Fernanda em busca de posicionamento sobre o episódio, mas não recebeu retorno. Caso haja manifestações, este texto poderá ser alterado.

Edição: Martina Medina