São Paulo (SP) recebeu neste domingo (16) a 16ª edição da Marcha da Maconha, evento que se declara um dos maiores atos de 'desobediência civil' do país. Neste ano, o ato deixou de ser realizado no sábado e reafirmou seu papel histórico contra a guerra às drogas e pela legalização da cannabis.
Em um momento de forte articulação política conservadora no Congresso, os manifestantes também bradaram contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) das Drogas, que criminaliza posse e porte de maconha, e o Projeto de Lei (PL) do Aborto, que criminalizar a prática em casos de estupro.
A fala de Malu Brito, integrante de um dos coletivos organizadores da marcha, resumiu a posição geral dos manifestantes. "Estamos discutindo um retrocesso à vista. A marcha deixa de brigar por avanços para se defender de possíveis recuos", afirmou.
Com faixas e cartazes, os manifestantes também defenderam o consumo medicinal da maconha. Francisco, membro do Bloco dos Growers, ressaltou a importância da cannabis para tratamentos de saúde.
"O brasileiro já entende a cannabis, a maconha, como algo que pode afetar a vida das pessoas de maneira positiva. E a PEC [das Drogas] é o puro chorume do conservadorismo", declarou.
Apesar de melhorias recentes no acesso à cannabis medicinal, Francisco defendeu a difusão de mais informações sobre o autocultivo. "Os 'jardineiros' estão lutando muito pra que a gente possa ter acesso ao remédio também em casa", disse
Rafael Santos, participante da marcha, resumiu o espírito do evento: "a natureza já legalizou [a maconha]. Vejo esse momento como uma grande celebração, como uma oportunidade de me reunir com os meus irmãos", afirmou o analista.
"Bolando o futuro"
A organização escolheu o tema "Bolando o Futuro sem Guerra" para esta edição da manifestação. O objetivo é reforçar a necessidade de reforma urgente nas políticas de drogas do país, em contraponto às iniciativas fracassadas das últimas décadas.
Tradicionalmente realizada aos sábados, a Marcha da capital paulista passou, este ano, a acontecer no domingo. O objetivo é tornar o evento ainda mais acessível, já que nesse dia a circulação na Avenida Paulista é restrita a pedestres e, recentemente, foi instaurada a "tarifa zero" no transporte público por ônibus na cidade de São Paulo.
"A gente não está ali na rua só para fumar maconha. A marcha é pelo fim da guerra às drogas, pelo fim do genocídio da juventude negra, pelo fim da superlotação das prisões, pelo direito ao próprio corpo, por uma saúde mental de qualidade, por uma política de redução de danos em vez de uma política de internações compulsórias... É pela maconha, mas não é só pela maconha", complementou Luiz Fernando Petty, um dos organizadores.
O ato teve concentração marcada para o Museu de Arte de São Paulo (MASP) às 14h20 e saída às 16h20. Os participantes desceram a rua Augusta até a rua Dona Antônia de Queirós, seguindo pela Consolação.
A mobilização estava programada para terminar na Praça da República, no centro da cidade. A Marcha contou com a participação do Bloco Carnavalesco Planta na Mente, do Rio de Janeiro, que veio à capital paulista especialmente para a manifestação.
Edição: Douglas Matos