Com a aproximação das eleições municipais de 2024, o cenário político no Paraná delineia-se com disputas intensas e potenciais fragmentações.
A Federação Brasil da Esperança, que congrega PT, PCdoB e PV, empenha-se em estabelecer acordos para candidaturas amplas nos principais colégios eleitorais – Curitiba, Londrina, Maringá, Ponta Grossa, Cascavel, São José dos Pinhais, Foz do Iguaçu e Guarapuava – com o intuito de fortalecer o apoio ao governo Lula e preparar um palanque robusto para 2026.
No entanto, a coalizão enfrenta resistência interna em certas localidades, como Curitiba, onde o apoio ao ex-prefeito Luciano Ducci (PSB) foi contestado por correntes internas do PT, e provocou a saída do ex-senador Roberto Requião do partido, que lançou uma candidatura própria pelo Mobiliza.
Em contraposição, a direita, apesar de historicamente forte no estado, apresenta-se com pré-candidaturas pulverizadas nas principais cidades. Com a inelegibilidade de Bolsonaro, Ratinho Jr. desfruta de amplo apoio nas pesquisas de opinião e aspira à presidência, porém verá sua base mais dividida em 2024, diferentemente de 2020, quando conseguiu eleger mais de 80% dos prefeitos no estado.
O panorama é de incertezas e disputas acirradas, refletindo a complexidade do momento político no Paraná. As forças políticas observam o ciclo eleitoral deste ano como decisivo para as eleições de 2026, especialmente considerando que o atual governador concluirá seu mandato e busca polarizar uma candidatura à presidência contra Lula.
Direita fragmentada
Mensagens irregulares pedem voto para Bolsonaro, aliado de Ratinho Jr. / Rodrogo Felix Leal _ ANPR
Querendo apoiar-se na base do ex-presidente Bolsonaro no Paraná, Ratinho Jr busca manter a mesma aliança construída em 2020 para evitar maiores dispersões. Contudo, em todas as sete principais cidades do estado, de duas até quatro pré-candidaturas à prefeitura são do campo da direita.
Em Foz do Iguaçu por exemplo, o ex-presidente da Petrobrás e da hidrelétrica Itaipu, na gestão Bolsonaro, general Silva e Luna (PL), deve se candidatar à prefeitura da cidade e terá como adversário outro candidato do campo conservador, o ex-prefeito Paulo Macdonald (PP) que quer atrair o apoio de bolsonaristas e do governador Ratinho Jr.
Em Ponta Grossa, assim como Londrina, Maringá, São José dos Pinhais e Cascavel, a direita apresenta de três a seis pré-candidaturas, indo de nomes tradicionais como Silvio Barros (PP), ao Coronel Lee (União Brasil), de extrema-direita.
Em Curitiba, essa fragmentação é patente com as candidaturas mantidas de Ney Leprevost, do União Brasil, e Professor Luizão, que esperava um cargo no governo estadual e agora mantém sua postulação. A direita tradicional, representada pelo PSDB, intenta reafirmar-se com Beto Richa, enquanto o lava-jatismo se posiciona para 2026 com Sérgio Moro, que almeja o governo do estado após não ter seu mandato cassado pela justiça eleitoral, mas estará no palanque de Eduardo Pimentel (PSD), ao lado de Greca e do governador.
Deltan Dallangnol (NOVO) buscava se candidatar, mas foi impedido pela justiça, e anunciou apoio para Pimentel, que, em contrapartida, afirmou que vai buscar também o apoio de Bolsonaro. Pelo lado mais ideológico, a jornalista de extrema-direita, Cristina Greaml, editorialista da Gazeta do Povo, reafirmou sua candidatura e com cerca de 3% no último levantamento da Paraná Pesquisa.
Esquerda: direções querem frente ampla nas principais cidades
Se no cenário à direita a disputa se fragmenta em candidaturas fortes, pelo lado do campo popular, com o enfraquecimento eleitoral nas últimas eleições para as prefeituras, e com poucos puxadores de votos, a Federação Brasil da Esperança buscará reeditar a tática de frentes amplas, vitoriosa nas eleições presidenciais de 2022, para tentar reverter o quadro de enfraquecimento no estado.
Apesar de ter aumentado sua bancada na atual legislatura na Assembleia Legislativa, PT, PCdoB, PV, e também PSB e PDT, partidos que buscam unidade nas eleições, tem chances de vitória apenas na cidade de Guarapuava, onde o deputado estadual Dr. Antenor (PT) aparece bem cotado nas pesquisas, e poderá ter como vice Ana Paula Burko, esposa do ex-prefeito Vitor Hugo Burko, do PSD de Ratinho Jr.
Dr Antenor é conhecido pelas pautas da Saúde, cultura e educação popular / Divulgação
Na capital, o ex-prefeito Luciano Ducci do PSB, deverá ser o candidato da Federação, com grandes chances do pedetista Goura Nataraj ser o seu vice. Goura ainda mantém sua pré-candidatura, mas recebeu oficialmente o convite para ser vice de Ducci, em almoço recente, com os presidentes de PT, PCdoB, PV e PSB.
O PT inclusive, oficialmente, entrou na campanha de Ducci depois de superar a crise que passou internamente entre sua direção e correntes partidárias que desejavam candidatura própria. O ex-pré-candidato Felipe Magal, por exemplo, já se encontrou com Luciano para falar sobre a campanha.
Nem tudo porém está sendo rosas, já que Roberto Requião, após ser ter anunciado sua saída do PT, tendo o apoio ao pessebista como ''gota d'agua'', agora aparece como pré-candidato com 9% na Paraná Pesquisas, inclusive, tirando parte dos votos mais à esquerda de Ducci.
O Psol também deve manter sua candidatura própria, de Andréia Caldas, mesmo com o pedido do PSB nacional de troca de apoios nas prefeituras de Curitiba e Florianópolis, onde existe chance de segundo turno para o deputado estadual Marquito, que busca apoio da sigla socialista. Em troca, o Psol teria que apoiar Ducci em Curitiba, o que deve ser descartado pela direção local.
Em outras cidades como Maringá e Londrina, a esquerda deverá ter candidaturas próprias, assim como em Cascavel, com a candidatura de Professora Liliam. Já em Ponta Grossa, Aliel Machado deverá ser o candidato escolhido pela Federação.
Em Foz do Iguaçu, no entanto, a esquerda ainda não definiu um nome. Enquanto o PT defende a candidatura de Vitorassi para prefeitura, o PV quer Nilton Bobato. O PCdoB que tinha pré-candidato, abriu mão e defende uma frente ampla em torno do radialista Airton José, do PSB.
A aposta na frente ampla
Para o presidente da Federação, Elton Barz, a fragmentação pode ser perigosa, no caso de os setores populares não terem uma tática acertada para o momento político.
''É como disputar um Mundial de Clubes com as novas regras, são 12 do outro lado, contra seis nossos, correndo o risco de ficarmos de fora da final, ou do segundo turno'', afirma. A metáfora do principal torneio de clubes do mundo vem com um alerta, já que, ao contrário de outros momentos, quando duas forças polarizadoras se enfrentavam, a direita poderá se dividir em diversas cidades no segundo turno.
Barz ainda afirma que o fato de o atual governador Ratinho Jr ainda não ter definido um sucessor, também ajuda na pulverização. ''Na prática Ratinho não é mais governador, ele vem pensando nas eleições presidenciais de 2026, já pensando em concorrer com Tarcisio (Freitas, governador de São Paulo) no palanque bolsonarista'', complementa.