Além das parcerias econômicas em espaços como o Mercosul e a Unasul, os governos da América Latina precisam unificar esforços para o combate ao crime organizado na região. A pauta em defesa da segurança pública e de combate aos grupos armados, geralmente pautada por governos de direita, precisa ser resgata pela esquerda progressista da região, defende Karol Cariola deputada federal pelo Partido Comunista e presidenta da Câmara dos Deputados do Chile.
A atuação de gangues criminosas, tráfico de drogas e de pessoas, atuam internacionalmente como uma rede e, para serem enfrentadas de forma eficaz, é necessária uma coordenação também internacional, defende Cariola.
"A xenofobia está se aprofundando em relação à situação migratória e isso está sendo vinculado ao uso que o crime organizado faz deles, essa é uma profunda violação dos direitos humanos. É exatamente aí que precisamos concentrar nossa atenção para buscar formas de salvaguardar e regulamentar, mas, ao mesmo tempo, acima de tudo, proteger as pessoas e os seres humanos", disse ao Brasil de Fato a presidenta da Câmara dos Deputados chilena na quinta-feira (20) durante o evento Poder e Prosperidade em um Mundo Multipolar, organizado Internacional Progressista (IP), Transforma-Unicamp e Phenomenal World.
"A integração da América Latina é algo que estamos promovendo há muitos anos, porque há uma necessidade: ou nos salvamos todos juntos ou afundamos todos separados. Digo isso justamente por causa da nova ordem mundial, dos problemas com o meio ambiente, da crise climática, da crise econômica que está afetando o mundo, das situações de guerra, do conflito que o povo palestino está enfrentando no momento, e que vem enfrentando há anos. Há muitas situações complexas que estão gerando uma situação que exige uma nova ordem mundial."
Apesar de considerar que as iniciativas fortalecimento da Unasul não prosperaram, Cariola reconhece os esforços do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva para retomar os espaços de integração regional e defende que é preciso avançar também em relação à Aliança do Pacífico, que apesar de ter sido originado em uma coordenação de governos de direita, deve ser disputado pelos governos progressistas da região.
"Hoje os países que a compõem têm governos progressistas. Estou me referindo aos governos do México, da Colômbia e do Chile e outros países latino-americanos que também vêm ganhando força como o caso do Brasil, é claro, e outros que estão se desenvolvendo e crescendo, e independentemente da existência de bolsões de direita, da expansão ou do desenvolvimento de linhas mais conservadoras ou até mesmo de extrema direita, como no caso do Milei."
A presidenta da Câmara do Chile considera que os espaços de integração devem ser olhados da perspectiva dos Estados e não apenas dos governos de turno e defende que a integração tem de ser buscada "de forma permanente e todas as ferramentas que existem têm de ser usadas e as que não existem têm de ser inventadas, construídas, desenvolvidas, aprofundadas e estabilizadas ao longo do tempo".
Palestina
No início de junho, o governo de Gabriel Boric anunciou que o Chile passou a integrar a ação da África do Sul que tramita na Corte Internacional de Justiça (CIJ), na qual o Estado de Israel é acusado de cometer um genocídio contra a população palestina residente na Faixa de Gaza.
Kariola aponta que a decisão de Boric contou com amplo respaldo no Parlamento chileno. "É o Poder Executivo que realiza as relações internacionais e nós, como Congresso Nacional, como Poder Legislativo, temos apoiado as ações que o Presidente Gabriel Boric tem realizado nesse assunto e em outros, porque acreditamos que, além das diferenças políticas que possam existir com relação a leituras históricas ou à ação ou ao vínculo que o Estado do Chile possa ter com o Estado de Israel ou com o Estado Palestino."
Ela destaca que, neste momento, é fundamental garantir o cessar-fogo para salvar a vida dos palestinos que estão resistindo na Faixa de Gaza. "Caso contrário, esse genocídio não se tornará apenas um dos maiores da história mundial, mas um genocídio do qual o mundo inteiro será cúmplice se não conseguirmos detê-lo. Portanto, acredito que todas as medidas que possam ser tomadas em todas as áreas, pela esquerda, pelos países, pelos Estados, pela comunidade internacional, são fundamentais e urgentes neste momento."
Edição: Rodrigo Durão Coelho