PARTICIPAÇÃO POPULAR

Atingidos pelo crime da Vale em Brumadinho se reúnem para discutir reparação

Iniciativa inédita deu protagonismo às diversas comunidades atingidas de 26 municípios

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Governança popular, plano participativo e fluxos de projetos, crédito e microcrédito foram algumas das temáticas debatidas - Foto: Felipe Cunha/Aedas

Atingidos pelo crime da Vale em Brumadinho se reuniram no Encontro Inter-regional da Bacia do Rio Paraopeba e da Represa de Três Marias para construir uma proposta definitiva para execução do Anexo 1.1. O documento é um acordo de reparação assinado entre a mineradora, o governo de Minas Gerais e as Instituições de Justiça (IJ), em 2021. 

O evento aconteceu nos dias 8 e 9 de junho e reuniu mais de 200 pessoas indicadas como representantes dos 26 municípios atingidos  pelo rompimento da mina Córrego do Feijão. Equipes das Assessorias Técnicas Independentes (ATIs) que atuam ao longo da bacia, representantes das IJ, do Comitê Pró-Brumadinho, entre outros parceiros, também participaram do evento. Vagas específicas foram reservadas aos familiares de vítimas fatais e aos Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs).

“A avaliação da Entidade Gestora é extremamente positiva, apesar dos desafios. Primeiramente a gente faz memória a essa tragédia-crime que ceifou a vida de mais de 270 pessoas, fez um dano ambiental terrível na bacia do Paraopeba e afetou a vida de milhares de pessoas. E essas pessoas conseguem, após esse período todo, se organizar para lutar por direitos e, principalmente, dizer o que pensa sobre o que será um processo de reparação, ou um processo de desenvolvimento dos territórios, de fato com a cara das comunidades”, afirmou Samuel da Silva, secretário executivo da Cáritas Minas Gerais, durante a mesa de abertura do encontro. 

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Segundo ele, o processo de organização das comunidades na construção das propostas durou cerca de 90 dias, período importante para que fossem construídas propostas que de fato representassem as demandas e vivências das pessoas atingidas. 

Ao longo desses 90 dias que antecederam o encontro, foram realizadas, aproximadamente, 50 reuniões presenciais com o objetivo de debater, ajustar e melhorar as propostas feitas pela Entidade Gestora. Esses encontros foram divididos em três grandes temas, como governança popular, plano participativo e fluxos de projetos, além de crédito e microcrédito.

A entidade é composta por uma parceria formada pela Cáritas Minas Gerais, a Associação Nacional dos Atingidos por Barragens (ANAB), o Instituto E-Dinheiro e o Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus), com o apoio das ATI’s Aedas, Guaicuy, Insea e Nacab.

Construção e protagonismo popular

Representantes apresentaram suas discordâncias e contribuições para melhorias dos pontos que constituem a proposta definitiva e, ao final, 86 propostas foram validadas por meio do voto popular.

Ênio Clécio, representante da comunidade Quilombo da Pontinha, do município de Paraopeba, avalia de forma positiva a participação em um dos espaços de construção. 

“Foi um encontro muito produtivo, com muitas trocas de experiências, tanto com povos tradicionais quanto com o geral. Estamos com uma expectativa ótima com esse plano de trabalho. A comunidade já está esperando há algum tempo, então agora é hora da gente finalizar essa construção aqui e de fazer alguns projetos para a comunidade e contemplar não só a comunidade do Quilombo da Pontinha, mas a bacia como um todo”, disse.

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O evento também abriu espaço para uma mostra de produtos da Bacia do Paraopeba e da Represa de Três Marias, com comercialização direta, além de trocas solidárias, apresentações culturais e artísticas em apoio aos diversos talentos das cinco regiões. 

O cuidado e o protagonismo de 29 crianças e adolescentes das cinco regiões que vivem as consequências do rompimento da barragem também deram o tom do evento. Junto às equipes das ATIs, trabalhadoras do projeto Arte da Saúde: Ateliê de cidadania, executado pela Cáritas, foram aplicadas metodologias adequadas para cada faixa etária para abordar temas como educação financeira, crise climática e disque reparação. 

Atividades específicas como teatro, música, grafite, atividades lúdicas, filmes, oficinas e confecção de cartazes também foram desenvolvidas com as crianças e adolescentes. 


Crianças e adolescentes participam de atividade durante o encontro / Foto: Janaina Rocha e Luana Farias

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Lucas Wilker