A candidatura para a Prefeitura de São Paulo de Guilherme Boulos (PSOL) deve "abrir novos caminhos" para a esquerda na América Latina e na Europa, avalia o argentino Gerardo Pisarello, vice-prefeito de Barcelona, na Espanha, durante a gestão de Ada Colau (2015 - 2023).
"Acredito que cada ciclo municipalista tem que trazer suas próprias novidades e por isso eu estou convencido de que, em São Paulo, a candidatura do Guillerme Boulos com certeza vai poder cavalgar sobre os ombros dos gigantes que são todas as experiências municipalistas da América e da Europa que vieram antes e que com certeza vão aprimorá-las e abrir novos caminhos", disse ao Brasil de Fato na quinta-feira (20).
Ele participou do evento Poder e Prosperidade em um Mundo Multipolar na Unicamp na quinta-feira, evento que reuniu lideranças de esquerda em todo o mundo, organizado Internacional Progressista (IP), Transforma-Unicamp e Phenomenal World.
Com a derrota nas últimas eleições municipais de Barcelona por uma pequena margem de votos, Pisarello aponta que a candidatura de Boulos é vista como uma esperança para as organizações de esquerda na Espanha.
"Precisamos novamente do apoio do Sul e vemos com grande esperança alguém como Guillerme Boulos, que também vem dos movimentos sociais, possa vencer em uma cidade tão grande como São Paulo. É uma esperança para a América Latina, mas também para nós, que somos o sul do norte. Não apenas damos a ele todo o nosso apoio, mas estamos muito confiantes de que o Brasil, que tem um movimento sem-terra, um movimento muito poderoso de trabalhadores sem-teto, voltará a ser um lugar de esperança."
A candidatura vitoriosa de Auda Colau, militante da Plataforma de Afetados pela Hipoteca, movimento de pessoas desalojadas de imóveis após a crise financeira de 2008, teve amplo respaldo dos movimentos sociais e foi a mais votada naquele ano pela coalizão Barcelona em Comum.
"Éramos uma nova força de pessoas que não vinham das grandes famílias da cidade. Eu fui o primeiro vice-prefeito de origem latino-americana e quando chegamos ao governo municipal, tivemos que enfrentar as grandes potências econômicas da cidade em termos de turismo, os grandes especuladores, as multinacionais da água, as grandes plataformas como Airbnb ou Uber."
Pisarello aponta que a gestão de Barcelona tomou como base muitas experiências da América Latina, como a experiência do cooperativismo em Montevidéu, capital do Uruguai, do orçamento participativo em Porto Alegre (RS) e dos comitês de terras urbanas na Venezuela.
"Estivemos nesses lugares e aprendemos muito sobre a América Latina. O municipalismo latino-americano foi um exemplo para a onda municipalista que varreu a Espanha em Barcelona, La Coruña, Cádiz, Madri, Valência, muitos lugares da Espanha."
A experiência de Barcelona
Para governar Barcelona, a prefeitura teve como foco a regulamentação do setor privado, com foco principalmente no setor de habitação. Além de multas aplicadas aos bancos que mantinham propriedades desocupadas, a gestão municipal passou a comprar moradias a preços abaixo do mercado para que fundos de investimento como BlackRock e Blackstone não utilizassem para fins especulativos.
"Promovemos moradias cooperativas em que o município fornecia o terreno e os membros da cooperativa construíam as casas, mas essas casas não podiam ser objeto de especulação. Criamos uma empresa municipal de energia para não depender do grande oligopólio de eletricidade das multinacionais. Não permitimos que o Uber entrasse na cidade e acompanhamos o setor de táxis para que promovessem a digitalização."
Outro embate com o setor privado da habitação envolveu a plataforma Airbnb. Os apartamentos turísticos oferecidos sem licença foram removidos da plataforma e disponibilizados para os moradores locais. "Fizemos uma série de políticas que visava limitar o poder privado, aumentar a regulamentação pública e criar um setor público comunitário ou um setor público cooperativo. E essa foi a base que nos permitiu governar a cidade por oito anos."
Edição: Lucas Estanislau