Ambientalistas e lideranças políticas denunciam que, na prática, o novo projeto da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) de construir "refúgios climático" na cidade não resolve os reais problemas do município, que foi a capital que mais esquentou em 2023.
Em teoria, segundo a gestão de Fuad Noman (PSD), a iniciativa serve para oferecer resfriamento à população em tempos de calor, um local de abrigo e amenização em dias muito ensolarados e também como espaço de descanso.
O primeiro refúgio foi inaugurado na segunda-feira (17), na Rua dos Carijós, número 679, no centro da capital mineira. O equipamento faz parte das ações previstas pela nova "agenda verde" de Noman e, de acordo com a PBH, é um "oásis urbano", ou uma "ilha verde", que tem como elemento central uma árvore.
O deputado federal Rogério Correia (PT), crítico à proposta, relembra que, apenas em 2023, cerca de 7.326 árvores foram derrubadas no município, segundo dados da própria prefeitura.
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"Este refúgio da prefeitura virou motivo de chacota e não foi à toa, porque foram suprimidas 7 mil árvores na cidade no último ano e aí apresenta-se esse equipamento público com uma única árvore, banquinho e bebedouro com vapor", argumenta.
Ação eleitoreira?
O refúgio inaugurado pela PBH dispõe de uma estrutura concebida a partir de técnicas de resfriamento passivo, com um conjunto de pisos permeáveis. O espaço também tem um banco sob a árvore, uma espreguiçadeira e um bebedouro.
Para o ambientalista Antônio Pomar, do Projeto Pomar BH, além de gerar um alto gasto para cidade, a proposta vai de encontro com posturas incoerentes da prefeitura, que deixa diversos bebedouros da cidade sem manutenção e mantém dezenas de árvores plantadas recentemente sem irrigação.
"Fizeram a divulgação em vários veículos de comunicação como se fosse uma ação de combate à emergência climática. Mas quando a gente chega lá e vê o equipamento, nos deixa decepcionados. A prefeitura está fazendo uma ação eleitoreira", alerta.
Quais seriam as soluções?
Em 2023, o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden) do governo federal apontou que Belo Horizonte foi a capital do Brasil que mais esquentou, com registros de 4,2ºC acima da média.
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Rogério Correia acredita que, para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, é preciso de um conjunto de ações integradas, uma vez que os moradores da cidade já sofrem efetivamente com chuvas extremas e elevação das temperaturas ano a ano.
O deputado ainda destaca a importância da arborização das ruas e espaços públicos, propõe a meta de plantar uma árvore por habitante e acredita que é necessário cuidado com os parques e áreas verdes da cidade, como a Mata do Jardim América.
"Os abrigos climáticos são necessários, mas paliativos. Precisamos oferecer não apenas um, dois ou três, mas um conjunto de espaços nas ruas e praças da cidade, que permitam àqueles que estão nas ruas, por lazer, por deslocamento ou por necessidade, terem locais para descansar por alguns minutos enquanto se refresca também um pouco", avalia.
Áreas verdes ameaçadas
É o que também aponta Magali Ferraz, presidenta da Associação Comunitária do Planalto e Adjacências e liderança do Movimento Salve a Mata do Planalto.
"Tem que ter um olhar mais amplo para toda a cidade. Precisamos urgentemente preservar totalmente, por exemplo, a Mata do Planalto, última área verde de mata atlântica, localizada na região Norte de BH, com mais de 200 mil metros quadrados, mais de 40 nascentes e 68 espécies de aves. E preservar todas as áreas verdes", sinaliza.
De acordo com a ativista, plantar mais árvores em toda a cidade, recuperar as matas e preservar as nascentes é a única forma de BH voltar a ser considerada uma "cidade jardim", como já foi outrora reconhecida.
Na segunda-feira, dia 1º de julho, uma audiência pública está marcada na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) para discutir a desapropriação da Mata do Planalto, que está com sua preservação em risco.
Outro lado
O Brasil de Fato MG entrou em contato com a Prefeitura de Belo Horizonte e aguarda respostas. A reportagem será atualizada quando houver posicionamento.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Ana Carolina Vasconcelos