Uma parceria entre campo e cidade, expressa em projeto de hortas e cozinhas comunitárias, que realiza uma ponte entre a experiência do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento Popular por Moradia (MPM), em área urbana de Campo Magro, região metropolitana, mas com traços e particularidades rurais.
A manhã ensolarada de domingo (23), ainda sob ressaca da festa da madrugada anterior, reuniu comuneiros e comuneiras da ocupação para colheita, finalização do viveiro, na última etapa do projeto diretamente na horta.
Organizada na área Nova Esperança, que acaba de completar quatro anos, conduzido pelo Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo (Cefuria), com participação também do Brasil de Fato Paraná na comunicação do projeto, este projeto agregou moradores com um passado no campo, ou que gostariam de retomar esse projeto de vida.
Nessa perspectiva, renovou a horta comunitária da ocupação, que estava em um terreno parado, e aponta também que, a partir dos insumos, é possível tentar avançar na geração de renda.
Otávio Camargo foi o coordenador da última etapa do projeto na horta, coordenando o trabalho com o projeto de viveiro / Pedro Carrano
Silvestre Leite, educador popular e economista, integrante do Cefuria e um dos coordenadores do projeto, aponta que foi a última e oitava oficina de horta. "Um primeiro processo para que as pessoas também gerem renda. Com a finalização, vamos agora para as oficinas de empreendimento. Para o que se aprendeu aqui, também gere renda e trabalho", afirma.
Valdeci Ferreira, o Val, liderança comunitária da ocupação, destaca a palavra inserção dos moradores como o sentido do projeto. "Provar que a cultura do orgânico, sem veneno, é possível, também nas áreas urbanas. A Nova Esperança é um bairro urbano em Campo Magro, e esse projeto com o pessoal já colhendo prova que é possível fazer essa cultura para o povo na cidade", afirma o dirigente do MPM.
Reforma Agrária Popular
Camila Modena, integrante do MST, afirma que essa experiência está no contexto do programa do movimento. "Isso faz parte do nosso projeto de reforma agrária popular, que não está apenas assentado no campo, mas também na área urbana. Estamos trabalhando a soberania de ter uma alimentação saudável, também, assim como para abastecer a cozinha solidária. É um processo bonito, de transformação, isso aqui já havia sido uma horta, algum tempo atrás e transformamos esse lugar", aponta.
Lucas Paulatti, um dos coordenadores do projeto, pelo Cefuria, destacou as atividades principais daquele domingo. "Fechamento de um ciclo de oito oficinas de capacitação do trabalho em horta. É o fechamento, mas não o fim. Especialmente, estamos avançando nos nossos viveiros, construindo os canteiros suspensos, colhendo alface, salsinha, plantando mudas de mandioca, mexendo na compostagem, um dia de fechamento de ciclo", afirma.
Comunidade poderá usar a horta para consumo, para venda e para transformação em produtos para mercado / Pedro Carrano
Fala povo
Irene Ribeiro de Rezende e o marido estão desde o início da ocupação. Vivem no setor H, mais próximo da natureza. Uma vez aposentados, filhos criados, querem trabalhar na própria horta. "Gosto da roça, quanto mais aprender, melhor, os pais da gente não tinham essa tecnologia. Hoje estou desempregada, trabalhava com limpeza. Temos uma chácara lá em cima, a gente plantou feijão, queremos trabalhar lá em cima, vamos vir dar uma ajuda, depois do curso".
Já a turismóloga e recepcionista Lucilene Costa de Jesus estava presente com o filho, Ariel, enfatizando que a "Ideia é produzir, quem sabe vender para fora, ainda mais agora com preço e escassez de alimentos, não queremos depender do mercado, mas ter nossa própria horta, e sinônimo de saúde".
Em comum, então, o fato de ter o potencial da horta, mesmo hoje sendo trabalhadores urbanos.
Rosi Beltha Mede, haitiana, eletricista e administradora, afirma que tinha curiosidade em trabalhar a horta. "Agronomia eu gostava, mas não fazia faculdade, comecei administração no Haiti. Também gosto de piano e música", afirma.
Ao fim da atividade matinal, foram inauguradas as placas da horta, com trabalho artístico de Juninho Madureira, artista popular e integrante da associação de moradores Moradias Sabará, na Cidade Industrial de Curitiba.
Viveiro está praticamente pronto na comunidade, e será gerido por ela / Pedro Carrano