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Acordos com China e Rússia para produção de lítio podem colocar Bolívia como alvo de golpes

Investimentos bilionários de indústrias chinesas têm potencial para desenvolver indústria de transformação no país

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Vista aérea das piscinas de evaporação do complexo estatal de extração de lítio, na zona sul do Salar de Uyuni, na Bolívia - PABLO COZZAGLIO / AFP

A tentativa de golpe de Estado ocorrida nesta quarta-feira (26) na Bolívia fez com que os olhos do mundo de voltassem ao país vizinho. Uma parcela das forças armadas do país reuniu-se em frente à sede do governo local, à revelia do presidente Luis Arce. Após a troca de comando da cúpula das forças, a situação se estabilizou no país.

Com uma população de pouco mais de 12 milhões de pessoas e um PIB de US$ 46 bilhões, o país abriga cerca de 23% das reservas mundiais de lítio, mineral fundamental para a indústria de tecnologia. O metal poder estar por trás dos interesses na desestabilização do país.

Foi em referência à Bolívia que o bilionário Elon Musk afirmou, em uma postagem no Twitter feita em 2020, que poderia dar "um golpe de Estado em quem quisesse".

Atualmente, o país possui reduzida capacidade de processamento do metal, mas parcerias firmadas com a China em 2023 podem mudar essa situação. Marco Fernandes, mestre em História, co-fundador do Dongsheng e editor da revista Wenhua Zongheng Internacional, explica que os acordos "abrem um novo horizonte para a economia boliviana".

"Em janeiro, foi anunciado um investimento inicial de US$ 1 bilhão de dólares da líder global de bateria de lítio, a chinesa CATL, em uma joint-venture com a estatal boliviana Yacimientos de Litio Boliviano (YLB) para a construção de duas fábricas que devem produzir 50 mil toneladas de carbonato de lítio por ano. Os investimentos totais podem chegar a US$ 9,9 bilhões", enumera Fernandes. 

"Em junho, a YLB fechou mais dois acordos totalizando US$ 1,4 bilhão, com a chinesa Citic Guoan Group e a russa Uranium One Group (subsidiária da gigante estatal nuclear Rosatom) para mais duas plantas de produção de carbonato de lítio, que devem chegar a 45 mil toneladas por ano", diz.

Fernandes lembra que a Bolívia produziu apenas 635,5 toneladas de carbonato de lítio entre janeiro e novembro de 2022. "Com esses acordos, a produção pode chegar a quase 100 mil toneladas em 2025."

Além disso, a Citig Guoan estuda a possibilidade de investir na produção de baterias de lítio e de veículos elétricos na Bolívia.

"Ou seja, Bolívia caminhando para uma nova fase da produção de lítio no país, acelerando o processo de industrialização, se apropriando de uma fatia maior da riqueza do mineral (em vez de manter a exportação de lítio bruto), avançando na formação de quadros técnicos, e fazendo tudo isso em parceria com a China e a Rússia."

Edição: Lucas Estanislau