Economia

'Faria Lima pensa no lucro; eu penso no povo', afirma Lula

Presidente falou da pressão exercida pelo mercado sobre o governo federal por corte de gastos sociais

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Em entrevista nesta quarta, Lula comentou também sobre investigação de ministro e descriminalização da maconha - MAURO PIMENTEL / AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quarta-feira (26) que a pressão dos agentes do mercado financeiro para que o governo reduza seus gastos e o Banco Central (BC) mantenha os juros elevados tem a ver com a ânsia por lucro. Ele ressaltou que, como presidente, precisa pensar no povo quando discute eventuais cortes em benefícios sociais e quando reclama do patamar da taxa Selic.

"A Faria Lima tem alguém que quer mais bem ao Brasil do que eu?", disse Lula. "Vocês acham que quando eles estão discutindo o aumento na taxa de juros, eles estão pensando no cara que está dormindo debaixo de uma ponte? No cara que está morrendo de fome? Não pensam, pensam no lucro. E o país tem que ter alguém que pense no povo."

Lula concedeu nesta manhã uma entrevista ao UOL. Ele falou sobre economia em meio ao aumento da tensão entre ele e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e dos questionamentos do mercado financeiro sobre seu compromisso com o controle de despesas do governo federal.

Lula se disse comprometido com o equilíbrio das contas. Afirmou que aprendeu na infância, com sua mãe, que sempre lhe dizia que não se pode gastar mais do que se ganha.

Lembrou, contudo, que é preciso separar o gasto do investimento. Segundo o presidente, os agentes do mercado veem aumento do salário mínimo como gasto, por exemplo. Lula disse que, para ele, isso é investimento, já que alta estimula a economia, gera empregos, arrecadação de impostos e, com isso, o desenvolvimento do país.

Por conta disso, o presidente descartou qualquer possibilidade de desvincular o aumento de aposentadorias, pensões e outros benefícios do aumento do mínimo para reduzir a despesa do governo. "Se eu acho que vou resolver a economia brasileira apertando o mínimo do mínimo, eu estou desgraçado", disse ele. "É preciso garantir que todas as pessoas tenham condições de viver dignamente."

Banco Central

Ainda sobre economia, Lula falou sobre o debate a respeito do novo presidente do BC. Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, deixará o cargo no final do ano. Lula elogiou o atual diretor de política monetária do órgão, Gabriel Galípolo, mas não confirmou sua indicação.

"O Galípolo é um companheiro altamente preparado, conhece muito do sistema financeiro, mas ainda não estou pensando no BC", disse. "Eu não indico presidente do BC para o mercado, indico para o Brasil. E o mercado tem que se adaptar a isso."

Investigação de ministro

O presidente Lula disse que afastará o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União), se ele for denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF). O ministro é investigado por supostos desvios na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Filho foi indiciado pela Polícia Federal (PF).

Lula disse que o caso de Juscelino precisa ser analisado como manda a lei. Afirmou ainda que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também merece um julgamento justo nos casos da suposta tentativa de golpe e das suspeitas envolvendo o recebimento de joias.

"O que eu defendo para ele, defendo para mim: que ele tenha direito à presunção de inocência. Que ele seja ouvido", disse Lula.

STF e maconha

O presidente comentou ainda sobre o papel do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento sobre a descriminalização do uso da maconha. Disse que é necessário uma diferenciação entre usuário e traficante, mas pediu que a Corte não "se meta em tudo".

"Se um dia um ministro da Suprema Corte pedisse um conselho para mim, eu diria: 'recuse essas propostas. A Suprema Corte não tem que se meter em tudo'. Não se pode pegar qualquer coisa e ficar discutindo. Aí começa criar uma rivalidade que não é boa nem para democracia, nem para Suprema Corte, nem para o Congresso Nacional."

Edição: Martina Medina