O governo de São Paulo divulgou nesta sexta-feira (28) que apenas o grupo Equatorial apresentou proposta para a compra de 15% das ações da Sabesp. Essa é a primeira etapa da privatização da empresa. O valor apresentado foi de R$ 6,9 bilhões, o que equivale a R$ 67 por ação. O valor de mercado de uma ação da Sabesp nesta sexta foi de R$ 74,97, uma diferença de 10%.
No ano de 2023, o lucro da Sabesp somou R$ 3,5 bilhões. Isso significa que, para controlar a empresa, a Equatorial deve desembolsar um valor equivalente a apenas dois anos de lucro já aferido pela estatal.
Nesta fase, apenas empresas com experiência em saneamento puderam participar, já que o objetivo era atrair um acionista para tornar-se referência para a empresa. De acordo com a previsão do governo do estado, em julho será aberta a venda de mais 17% das ações, que poderão ser adquiridas por empresas ou pessoas físicas.
O governo de São Paulo detém hoje 50,3% do controle da companhia. Ao fim do processo de privatização, ficará apenas com 18%.
Amauri Pollachi, conselheiro do Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas) e especialista em saneamento e recursos hídricos, afirma que a oferta da Equatorial é "vil". "A Equatorial, para assumir o controle da Sabesp, vai pagar R$ 6,5 bi, que vale um pouco mais que um ano de investimentos da empresa. Eu diria que o leilão e a busca por um acionista de referência foram um total fracasso."
Pollachi lembra ainda o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) defendia a privatização para "modernizar" a Sabesp com a chegada de uma empresa espcialista em saneamento. A Equatorial, no entanto, tem apenas dois anos de experiência no ramo. "Nós estamos vendo chegar um guupo que, em saneamento, tem experiência que se resume a dois anos de operação de 16 cidade do Amapá, somente em área urbana", diz. "Hoje Macapá é a segunda pior capital do Brasil em indicadores de saneamento, então as credenciais do grupo Equatorial são muito ruins. É como um clube da série B comprando o Real Madrid, é isso que está acontecendo nessa negociação", finaliza.
Por considerar a venda desvantajosa para o patrimônio público, o Ondas vai buscar contestar a venda da Sabesp nesses termos. "Na próxima segunda-feira entraremos com uma representação no TCE e no MPE para colocar que esses órgãos protejam o patrimônio público. Do jeito que está acontecendo, estamos vendendo a Sabes a preço de banana", afirmou.
Valor por ação poderia ser maior
O Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema) apresentou nesta quinta-feira (27) um estudo coordenado pelo economista André Locatelli que atesta que o valor justo a ser recebido por cada ação da Sabesp seria de R$ 103,90.
Na apresentação do documento à imprensa, Locatelli afirmou que a Sabesp tem um fluxo de caixa de R$ 90,5 bilhões. Desse total, foi descontado a quantia da dívida da empresa, R$ 19,5 bilhões, para estimar o valor da empresa: R$ 71 bilhões. Esse resultado dividido pela quantidade de ações que serão disponibilizadas, 683 milhões de papéis, resulta no valor unitário de R$ 103,90.
"Não houve debate regulatório e por isso é importante a intermediação do poder judiciário para que haja debate esclarecedor e profissional", afirmou o advogado Rubens Naves, que participou da elaboração do estudo.
Edição: Nicolau Soares