A articulação popular foi decisiva para mais uma derrota do golpismo na América Latina. Nesta semana, a Bolívia, país com uma longa tradição de golpes militares e ditaduras, sofreu mais uma tentativa de ruptura, que desta vez foi suplantada pelos esforços do presidente Luís Arce.
O golpe foi tramado pelo ex-comandante do Exército, general Juan José Zuñiga, que havia sido destituído do cargo dias antes, por conta de uma série de ameaças contra a democracia, motivadas por uma possível candidatura do ex-presidente Evo Morales nas próximas eleições bolivianas.
:: A importância histórica do combate firme e imediato contra o golpe antipopular na Bolívia ::
A tentativa de golpe ainda precisa ser devidamente analisada, já que Arce rompeu relações com Morales e vive uma perda de popularidade importante.
Este é um dos destaques do Tempero da Notícia, programa produzido pelo Brasil de Fato e apresentado pelo jornalista Rodrigo Vianna.
Descriminalização da maconha
A semana também foi marcada por uma importante decisão do STF, o Supremo Tribunal Federal, que formou maioria para descriminalizar o porte de maconha e a posse de até 40 gramas da planta.
A decisão é importante para não tornar criminosos pessoas que portam pequenas quantidades de maconha e, portanto, diferenciar usuários e traficantes. A medida do STF corrige uma lacuna deixada pelo Congresso Nacional, que não apontava essa diferenciação na Lei de Drogas, de 2006, e que foi responsável por levar à prisão milhares de inocentes – em geral, homens pretos das periferias brasileiras.
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Mas a legalização, no entanto, não foi tratada na decisão da Corte e isso talvez seja o ponto mais criticado por especialistas. Acuado pelo Legislativo, que reagiu ao STF e colocou em processo de análise uma emenda à Constituição para criminalizar o porte de qualquer droga, o debate no Supremo ficou mais tímido.
Na prática, ainda fica a cargo das polícias afirmar quem é traficante e quem não é, ao analisar diversos fatores. Ainda impera uma certa subjetividade, a mesma que fez com que a Lei das Drogas encarcerasse milhares de jovens negros no Brasil.
Panela de Pressão
Quem vai para a Panela de Pressão desta semana é a Americanas e seus diretores. A Policia Federal cumpriu 14 mandatos de busca e apreensão em endereços relacionados à empresa. Os investigados são suspeitos de praticar crimes contra o mercado financeiro e organização criminosa, além de fraude na gestão e contabilidade da empresa.
O ex-CEO da empresa, Miguel Gutierrez, fugiu para a Espanha, onde tem cidadania, mas foi preso pela Interpol nesta sexta-feira (28). A ex-diretora, Anna Cristina Saicali, ainda está foragida.
A PF aponta que há fortes indícios de que ele ocultou patrimônio e enviou recursos ao exterior, quando percebeu que viraria algo das investigações. A fraude é estimada em R$ 25,3 bilhões.
:: Ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, é preso na Espanha ::
Mas, estranhamente, os três grandes acionistas da empresa, os empresários Jorge Paulo Lehman, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, três dos homens mais ricos do Brasil, foram poupados nas investigações e também desapareceram das manchetes de jornal. Não por acaso, são três dos principais anunciantes na grande mídia.
Cafezinho
E o Cafezinho desta semana vai para o jornalista Julian Assange que, depois de doze anos preso, foi finalmente libertado. Criador do Wikileaks, Assange fez chegar à imprensa documentos sigilosos de ações criminosas dos Estados Unidos, que vão desde crimes de guerra no Iraque até movimentos de espionagem conduzidos por agências estadunidenses.
Assange foi perseguido e teve que buscar asilo na Embaixada do Equador em Londres, entre 2012 e 2019. Após a troca do governo equatoriano, foi entregue à polícia britânica. Desde então, convivia com a iminência de uma extradição para os EUA, onde poderia ser condenado a mais de 175 anos de prisão.
:: Advogada da campanha Free Assange celebra libertação e afirma que 'EUA está em contradição com liberdade de imprensa' ::
O jornalista fez um acordo com a justiça estadunidense e se declarou culpado do vazamento de dados sigilosos. Como já havia cumprido o período previsto de prisão, assinou um termo e pode voltar para a Austrália, país onde tem cidadania.
É uma importante decisão para a imprensa livre e também a coroação de todos aqueles que durante esse período denunciaram a prisão do jornalista. A família de Assange agradeceu também o empenho do presidente Lula e do Papa Francisco, dois dos principais líderes mundiais de uma corrente de esquerda humanista.
Onde assistir
O Tempero da Notícia vai ao ar todas as sextas-feiras, às 20h, no canal do Brasil de Fato no YouTube e na TVT, canal 44.1 – sinal digital HD aberto na Grande São Paulo e canal 512 NET HD-ABC.
Moradores do estado de São Paulo podem acompanhar o programa pela Rádio Brasil Atual (98,9 FM na Capital Paulista e 93,3 FM na Baixada Santista), nos mesmos horários.
As edições também estão disponíveis nas plataformas de podcasts e podem ser escutadas no Deezer, Spotify, Google Podcasts, Itunes e Pocket Casts.
Edição: José Eduardo Bernardes