DECISIVO

Franceses vão às urnas em eleições legislativas antecipadas sob ameaça da extrema direita

Pleito pode eleger premiê extremista que governaria ao lado de Emmanuel Macron; esquerda é segunda colocada em pesquisas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |
Macron arriscou a convocação de novas eleições após derrota no pleito da União Europeia - EuroNews

Os franceses vão às urnas neste domingo (30) e no próximo (7) para escolher os 577 representantes que vão formar o novo Parlamento que governará o país ao lado do presidente Emmanuel Macron. Pesquisas indicam que a extema direita deve sair fortalecida do pleito, com chances de liderar a futura administração.

A eleição acontece em dois turnos. Cada um dos 577 distritos elege um representante por maioria simples. Se um candidato conseguir 50% dos votos + 1, não há segundo turno (em 7 de julho) neste distrito. 

As eleições foram convocadas por Macron após derrota supreendente - e grande vitória da extrema direita -  nas eleições do Parlamento Europeu no início do mês. O presidente tem a prerrogativa de dissolver o Parlamento e chamar um novo pleito. 

Atualmente, a extrema direita, representada pelo partido Reagrupamento Nacional (RN) tem 88 cadeiras no Parlamento, sendo a terceira força política do país. Pesquisas, no entanto, indicam seu crescimento, com cerca de 36% das intenções de voto. Caso formem o novo governo, vão colocar a França em uma situação política difícil, já que o liberal Macron tem mandato até 2027 e teria que lidar com um primeiro-ministro hostil à suas políticas. 

A decisão arriscada de Macron - de convocar eleições - não só põe em risco os assentos da sua coligação no Parlamento, mas também ameaça a estabilidade política e as perspectivas futuras do seu projecto político durante os restantes três anos do seu mandato presidencial.

A possibilidade de “coabitação” no governo, fenômeno que ocorreu três vezes no século passado, representa um desafio significativo para o presidente em exercício. A necessidade de estabelecer negociações constantes para evitar bloqueios governamentais torna-se uma prioridade, uma vez que está em jogo a estabilidade social do país.

Na Assembleia Nacional dissolvida em junho por Macron, seu partido Renascimento tinha 250 assentos e a aliança esquerdista NUPES (Insoumise França, Partido Socialista, Partido Comunista e Os Ecologistas) 149 assentos. 

Reagrupamento Nacional

Fundado em 1972 como Frente Nacional, o partido foi liderado durante décadas pelo político extremista Jean-Marie Le Pen, conhecido pelas suas posições controversas e condenações por negar o Holocausto e proferir discursos de ódio. Sob a liderança de Marine Le Pen, filha de Jean-Marie Le Pen, o partido foi rebatizado como reagrupamento Nacional em 2018, para se afastar da imagem negativa associada ao seu fundador.


Marine Le Pen, líder da extrema direita francesa / Christophe Archambault / AFP

Hoje o RN é o líder da extrema direita em França, defendendo políticas nacionalistas que incluem uma abordagem mais rigorosa à imigração e ao protecionismo econômico para impulsionar a indústria local.

Em contrapartida, a Nova Frente Popular surge como alternativa ao governo macronista e à crescente influência da extrema direita. Defendendo uma mudança radical na Constituição francesa para estabelecer uma "Sexta República", esta frente de esquerda propõe medidas econômicas concretas, como o aumento do salário mínimo e o aumento do investimento estatal nos serviços públicos.

O RN, de extrema direita, e seus aliados lideram as pesquisas de intenção de voto no primeiro turno, com 36%, segundo a consultoria Ifop, seguido pela coalizão de esquerda Nova Frente Popular (29,5%) e pela aliança centrista de Macron (20,5%).

Um dos trunfos da extrema direita é o eleitorado acima dos 60 anos de idade, contrário aos imigrantes. Eles também são contra ao aumento da idade de aposentadoriia, implementada por Macron em sua reforma da Previdência em 2023. Pesquisas indicam que mais de 70% dos eleitores com mais de 60 anos pretendem votar. Apenas 43% dos eleitores entre 18 e 24 anos planejam ir às urnas. Para conquistar uma imagem mais respeitável e acalmar o eleitorado que quer estabilidade, o RN derrubou algumas de suas bandeiras, como abandonar o euro. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho