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Após décadas sem relações, Cuba e Coreia do Sul se preparam para abrir suas embaixadas

Para especialista, 'a aproximação diplomática com a Coreia do Sul é comercial'

Brasil de Fato | Havana (Cuba) |
Os dois países ensaiam há algum tempo a reaproximação - Centro Cultural Sul-Coreano em Havana

Passados mais de seis décadas sem relações diplomáticas, Havana e Seul, capital da República da Coreia, mais conhecida como Coreia do Sul, se preparam para abrir suas respectivas embaixadas em ambos países.  

Numa surpreendente mudança, em 14 de fevereiro, Cuba e o país asiático anunciaram o restabelecimento das relações diplomáticas e consulares por meio de uma troca de notas diplomáticas entre as Representações Permanentes de ambos os países nas Nações Unidas.

Segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap, as primeiras conversas entre as altas autoridades diplomáticas dos dois países foram realizadas em Seul em meados de junho. Tratou-se do primeiro intercâmbio desde o estabelecimento das relações bilaterais. 

O vice-ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Chung Byung-won, reuniu-se na ocasião com Carlos Miguel Pereira Hernández, diretor geral de Assuntos Bilaterais do Ministério das Relações Exteriores de Cuba, para discutir a abertura de missões diplomáticas mútuas. Desde então, os diplomatas de ambos países começaram a "estabelecer escritórios temporários", com a intenção de abrir missões diplomáticas o mais rápido possível, de acordo com as informações divulgadas.

As relações diplomáticas entre os dois países foram interrompidas após o triunfo da Revolução Cubana. No contexto da Guerra Fria, naqueles anos, Seul rompeu relações com Havana depois que Washington iniciou sua política de isolamento contra Cuba. 

Em 1960, o então Ministro da Indústria do governo cubano, Ernesto Che Guevara, fez uma extensa viagem de dois meses por vários países socialistas, onde visitou a Tchecoslováquia, a União Soviética, a China, a Alemanha Democrática e a República Popular Democrática da Coreia - conhecida como Coreia do Norte. A partir desse momento, Cuba estabeleceu relações com a Coreia do Norte que perduram até hoje.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Eduardo Regalado Florido, pesquisador da equipe de Ásia e Oceania do Centre for International Policy Research (CIPI), afirma que "a abertura das relações diplomáticas busca aprofundar as relações econômicas já existentes entre os dois países".    

"As relações diplomáticas favorecem o desenvolvimento de intercâmbios comerciais. O que buscamos é que as relações políticas contribuam e facilitem a expansão dessas relações econômicas. Isso é um ganho para os dois países, ainda mais na situação atual que Cuba está vivendo com o bloqueio dos EUA", disse. 

Nas últimas duas décadas, ambos os países têm se aproximado de forma gradual em relação ao comércio. Em 2005, a Coreia do Sul abriu uma representação de seu "escritório de promoção de investimentos comerciais" em Havana. E em 2012, pela primeira vez em mais de 50 anos, uma delegação oficial cubana visitou a Coreia do Sul para discutir questões comerciais. 

Para o ano de 2023, as exportações sul-coreanas para Cuba foram de cerca de US$ 35,67 milhões (R$ 203 milhões), segundo a representação comercial do país asiático informou à agência de notícias AFP. A maioria dessas exportações foi de autopeças, aço revestido, etc.  

Essa aproximação diplomática ocorre em um contexto no qual Cuba vem implementando uma série de medidas para "atualizar seu modelo econômico". Nos últimos três anos, cerca de 10 mil empresas privadas de micro, pequeno e médio porte, conhecidas como MIPYMES, foram abertas no país, com o objetivo de expandir a presença do setor privado na ilha.  

Regalado Florido afirma que essa reaproximação não afeta as relações históricas entre Cuba e a Coreia do Norte. Ele afirma que seria simplesmente uma "ampliação das relações de Cuba". 

"As relações com a República Popular Democrática da Coreia são muito próximas. São relações de Estado, mas também são relações entre o Partido Comunista Cubano e o Partido dos Trabalhadores da Coreia. Essa é uma relação que não será afetada. Nosso apoio à Coreia do Norte não mudou. Estamos apenas ampliando nossas relações diplomáticas, buscando melhorar nossas relações econômicas", afirma. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho