ELEIÇÕES NA FRANÇA

Após ideia arriscada, Macron pode ver derrota no 2º turno e azedar sua relação com Parlamento, diz especialista

Pablo Ibañez comenta possibilidade de alianças para não deixar a extrema direita liderar a Assembleia Nacional francesa

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Resultado do primeiro turno desfavoreceu presidente francês, que antecipou eleições no país após sua chapa perder no pleito do Parlamento Europeu - Foto: Yara Nardi / POOL / AFP

A vitória da extrema-direita no primeiro turno das eleições parlamentares na França, divulgada nesta segunda-feira (1°), aumenta ainda mais as expectativas para as negociações e possíveis alianças do segundo turno, previsto para acontecer no próximo domingo (7). 

Na primeira fase das eleições, o partido Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, obteve 33% dos votos, seguido pela aliança de esquerda Nova Frente Popular (NFP), que conquistou 28% dos eleitores. O bloco de centro do presidente Emmanuel Macron atingiu 20,8% dos votos. O premiê francês, Gabriel Attal, sugeriu, neste domingo (30), uma aliança com a esquerda para evitar a extrema direita no governo.

Porém, o que vai acontecer ainda é incerto, pontua Pablo Ibañez, professor de geopolítica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFFRJ). Ele conta que há resistência por parte de lideranças dos dois blocos.

"Eu acredito que a gente vai precisar esperar ainda amanhã [terça-feira, 2 de junho] para entender um pouco melhor como isso, efetivamente, vai se dar. Porque a ideia seria que o terceiro colocado, até, às vezes, o quarto - porque depende daquela margem de 12,5% - , ou seja, aqueles que ficaram abaixo do segundo lugar, abrissem mão de suas candidaturas e fortalecessem os segundos lugares", explica Ibañez.

O especialista acredita que isso daria um fôlego maior para a esquerda, apesar de já começarem a aparecer resistências, sobretudo dentro do grupo do Macron. "E tem um outro problema para eles, que é a questão da liderança dada pelo [líder do partido francês Republicanos, Eric] Ciotti, que não quer dialogar com a frente liderada pelo [líder de esquerda Jean-Luc] Mélenchon. A previsão atual ainda não coloca a maioria absoluta para o Reagrupamento Nacional", observa.

Com o voto não obrigatório, a França obteve o maior comparecimento às urnas em 40 anos, de quase 67% dos eleitores. O resultado desfavoreceu bastante Macron. Vale lembrar que o presidente francês convocou eleições antecipadas após sua chapa ter sido derrotada pela extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu, em junho.

O professor da UFRRJ concorda que foi uma ideia arriscada e diz que Macron deve ser derrotado também no segundo turno. "Macron vai sofrer uma derrota acachapante aí porque os dois pólos ficaram em primeiro lugar. A reestruturação com essa nova liderança pelo Reagrupamento Nacional, com Marine Le Pen e o [Jordan] Bardella [líder da extrema direita], está de fato conseguindo transformar essa nova forma de se colocar para a sociedade francesa de maneira clara, de maneira eficiente."

O especialista expõe ainda possíveis motivos para ascensão direitista. "A extrema direita francesa conseguiu colocar uma liderança jovem, carismática e menos assertiva sobre questões mais delicadas, como xenofobia etc.. Ainda que se mantenham como lideranças que têm essa perspectiva, ele [Bardella] conseguiu se mostrar um candidato mais palatável, mais aceitável", diz. "São anos de um cansaço da sociedade francesa que agora se refletiu de maneira muito clara nas urnas."

Para Ibañez, se a extrema direita se consolidar como vencedora do pleito no segundo turno, com Bardella podendo se tornar o primeiro-ministro do país, a relação entre Macron e o Parlamento deve ficar bem complicada. 

"O que o Bardella está colocando é um discurso mais conciliador com a sociedade, mas não com o governo, dizendo que vai seguir as regras institucionais, mas que não vai efetivamente governar junto com o Macron. Obviamente, vai oferecer uma resistência. Essa possibilidade trará muita dificuldade na relação de Macron com o Parlamento."

O professor ressalta que não é inédito nas eleições francesas a possibilidade de ter o primeiro ministro e o presidente de posições opostas, mas, dessa vez, a situação traz dificuldades não apenas para que Macron governo, como para que consiga permanecer no cargo. "A liderança desse jovem francês [Bardella] tem demonstrado que está vindo para ficar e trazendo bastante novidade”, argumenta. 

A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta segunda-feira (1°) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.

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Edição: Martina Medina