Igualdade de gênero

Meninas bateristas: acampamento em Curitiba reforça empoderamento feminino por meio do rock

Fala machista de músico curitibano provocou reação nas redes sociais em defesa de mulheres instrumentistas

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Ao final de uma semana no Rock Camp, as participantes se apresentam com a banda formada - Fotografias: Arquivo Rock Camp

“Você poder expressar sua força através de um instrumento é simplesmente incrível”, relata Isadora Silvestrin, 12 anos, participante do Rock Camp, uma colônia de férias que ensina meninas a tocarem instrumentos e formarem uma banda. Todo mês de janeiro cerca de 60 meninas, previamente inscritas, participam deste projeto em Curitiba, capital paranaense, que tem como intuito oferecer formação musical e também outros conteúdos que vão desde marketing até empoderamento feminino. O Brasil de Fato Paraná conversou com algumas destas alunas que destacaram a importância do projeto para que possam se expressar com liberdade no mundo.

Após a divulgação de mensagens machistas proferidas por um baterista curitibano em um grupo de WhatsApp de profissionais da música, as redes sociais ficaram repletas de protestos nessa quarta-feira (4), especialmente de mulheres do meio artístico. Entre eles, a página do Instagram do Rock Camp, que publicou um vídeo com as alunas que aprenderam bateria durante o projeto nos últimos anos. “Mulheres não tocam como homens", diz a postagem. E acrescenta: "Aqui a gente toca como mulheres. Com uma sociedade inteira falando pra não gente não tocar, com uma galera criando regra dizendo pra gente como tocar, não mais, aqui não!”.

A mensagem do músico, que após o episódio foi expulso das duas bandas em que atuava, dizia: “Mulher, geralmente, não rola tocando. Se mexem estranho e não tem pegada. Bem poucas se salvam. Negócio delas é tocar piano”.

Para Roberta Cibin, coordenadora do Rock Camp, o que aconteceu no grupo de WhatsApp reflete o que ocorre no dia a dia das mulheres do meio musical.

“Na música, o machismo se apresenta de diversas formas: os homens não frequentam os nossos shows, eles acham que a gente precisa de ajuda pra arrumar nossos pedais ou afinar nossos instrumentos. Quando chegam roadies mulheres, pessoas trans ou não binárias nas casas de show, o pessoal não se conforma. 'Como assim que é a gente que vai montar o palco e passar o som sem eles?' Fora o assédio, que muitas vezes é pesadíssimo,” disse.


Roberta Cibin é uma das organizadoras do Rock Camp em Curitiba / Arquivo pessoal

Antídoto para o machismo

Para Cibin, o Rock Camp, que existe há 7 anos em Curitiba, é uma iniciativa que também serve como antídoto para esta infeliz realidade.

“O Camp nasceu justamente para mostrar às meninas e também para a comunidade trans que não existe nada que a gente não possa fazer. Nós fazemos isso pela música, porque a música é esse espaço mágico que abre um local fluido e sem pressão para essas trocas. Eu acredito que as crianças que passaram pelo projeto saem de lá mais fortalecidas para entender o mundo dessa forma. Muitas bandas de mulheres já se formaram em Curitiba nesses 7 anos de Rock Camp. Muitas mulheres já entenderam que, como diz nosso hino, 'A gente pode, a gente faz' e vamos seguir fazendo e incomodando os homens machistas por aí”, aponta.

Meninas bateristas

Participantes das edições do Rock Camp confirmam o objetivo apresentado por Roberta Cibin. Ela dizem sair apaixonadas pela música, pelos instrumentos que aprendem tocar e, principalmente, entendem que são livres para expressar sua força e sentimentos.

“Eu aprendi a tocar guitarra antes, mas bateria foi algo que eu realmente gostei muito, eu achei muito, muito, muito legal, porque você toca e vê o som fluindo, algo que não sei nem explicar, faz todo o sentido”, relata Manoela Caldas de Camargo, que já participou três vezes do Rock Camp e pretende voltar no próximo ano.


Manoela Caldas de Camargo, 12 anos, se apresenta com sua banda no Rock Camp / Arquivo Rock Camp

Para Lavínia, 13 anos, tocar bateria é um sonho realizado. “E, como tinha muitas mulheres inspiradoras à minha volta, tocando vários instrumentos, inclusive a bateria, eu sempre tive vontade. Comecei tocando algumas vezes no Rock Camp, que foi incrível, porque é um projeto super, super, super legal. E, hoje em dia, eu faço aula e cada vez mais estou desenvolvendo e evoluindo mais para conseguir chegar mais a fundo nesse sonho. E eu incentivo muitas mulheres a entrarem nesse mundo dos instrumentos e inclusive da bateria, que é um instrumento que você consegue expressar tudo que você está sentindo”, conta.  


Lavínia, 13 anos, participante do Rock Camp de Curitiba. / Arquivo Rock Camp

E para Isadora Silvestrin, 12 anos, tocar bateria foi importante para poder expressar seus sentimentos.  “A experiência de tocar bateria no Rock Camp é simplesmente incrível, inesquecível. Estar num lugar onde as pessoas te apoiam e te fazem ter vontade de tocar é muito bom. Eu, na verdade, já sabia tocar bateria antes do Rock Camp, mas eu nunca tive a oportunidade de tocar num palco tão grande, com tanta gente vendo. Você poder expressar seus sentimentos, sua força através de um instrumento, é simplesmente incrível”, diz.  


Isadora Silvestrin, 12 anos, participante do Rock Camp de Curitiba. / Arquivo Rock Camp

O Rock Camp curitibano se inspira no Girls Rock Camp que surgiu em Portland, em 2001. Desde então, ele se espalhou pelo mundo pelas mãos de pessoas que acreditam no poder criativo e transformador do projeto. Os camps do mundo se conectam e se encontram por meio da Girls Rock Camp Alliance.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lucas Botelho